"Sou candidato". Macron promete uma "nova era francesa e europeia"

Presidente assumiu-se finalmente candidato às eleições de 11 e 24 de abril. Numa Carta aos Franceses lamentou não poder fazer campanha "como gostaria" devido à guerra na Ucrânia.
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A menos de 24 horas do fim do prazo, Emmanuel Macron fez o que há muito todos sabiam que ia fazer: o presidente francês anunciou a candidatura às presidenciais do próximo mês. Numa longa Carta aos Franceses, prometeu que "juntos podemos fazer destes tempos de crises o ponto de partida de uma nova era francesa e europeia". O candidato do La République en Marche lamenta não poder fazer uma campanha "como gostaria" devido ao contexto global que inclui a guerra na Ucrânia. Mas garantiu que irá explicar o seu projeto "com clareza". E sempre foi avançando que "teremos de trabalhar mais e prosseguir a baixa dos impostos sobre o trabalho e a produção". E remata: "Com vocês. Por vocês. Por todos nós. Viva a República! Viva a França!"

Às 18h00 de hoje o Conselho Constitucional francês vai decretar que candidatos conseguiram reunir as 500 assinaturas de eleitos nacionais e locais para formalizar as suas intenções de concorrerem à presidência da República.

Temendo que a entrada oficial na campanha de Macron se refletisse numa descida nas sondagens, os colaboradores próximos do presidente optaram por adiar ao máximo o anúncio. O objetivo? Segundo o Le Monde seria dar a ideia de continuidade entre o primeiro mandato e o que a equipa de Macron acredita ser o segundo mandato do centrista.

O próprio Macron foi alimentando a ideia de inevitabilidade da sua candidatura, mas sem a confirmar até ontem. "Não há falso suspense, tenho vontade" de avançar, dizia em janeiro. "Se continuo a ter ambições, sonhos e desejos para o nosso país? Sim", garantia pouco depois. E as "desculpas" para não trocar mais cedo o fato de presidente-candidato pelo de candidato-presidente não faltaram. Desde a gestão da pandemia de covid-19 até aos esforços diplomática primeiro para travar e agora para tentar resolver o conflito na Ucrânia.

Tanto adiamento teve o dom de irritar os rivais, desejosos de ver Macron entrar na corrida para que a campanha começasse a sério. "O presidente não vai poder esconder-se eternamente como um candidato mascarado", queixava-se Gérard Larcher, presidente do Senado, do partido Les Républicains.

Olhando para as sondagens, Macron continua a surgir como o líder destacado na primeira volta de 11 de abril, mantendo-se por volta dos 25% das intenções de voto. O segundo lugar, que garante também a passagem à segunda volta marcada para 24 de abril, é que tem oscilado entre três candidatos.

Depois de uma entrada em grande na campanha no início de dezembro, quando venceu as primárias de Les Républicains (direita tradicional), Valérie Pécresse tem vindo a cair nos estudos de opinião. A última sondagem OpinionWay (realizada a 27 e 28 de fevereiro junto de 1122 pessoas) dá-lhe 15% das intenções de voto, atrás de Marine Le Pen, a líder do Rassemblement National (antiga Frente Nacional, de extrema-direita), com 19%, mas à frente de Éric Zemmour, o antigo jornalista e comentador, do mesmo campo político, com 13%.

Com a guerra na Ucrânia a marcar a campanha, Pécresse defendeu ontem o reforço do orçamento da Defesa para além dos 2% do PIB (o limite pedido pela NATO). A candidata de Les Républicains lembrou que "ao longo dos anos 1960 e 1970 a parte do orçamento dedicada à Defesa ultrapassou sempre os 3% e isso nunca impediu o crescimento da economia, pelo contrário".

Num esforço para mostrar que está preparada para lidar com uma guerra, Pécresse e a sua equipa divulgaram há dias uma imagem da candidata rodeada por três ex-ministro da Defesa e a receber informações dos seus conselheiros militares via videoconferência. Mas o cenário pouco convincente acabou por se virar contra a candidata, com os rivais a ironizarem.

Criticada até no seu campo depois do comício de 14 de fevereiro no Zenith, Pécresse perdeu terreno. Se a sondagem Harris Interactive a coloca em terceiro lugar, noutras surge em quarto, atrás de Zemmour, e no último estudo da Elabe aparece mesmo no quinto lugar, atrás de Jean-Luc Mélenchon, o candidato de La France Insoumise, de extrema-esquerda.

Estes números já valeram algumas deserções no campo do Les Républicains. Ontem o antigo primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin alegou a necessidade de união nacional contra a extrema-direita para apelar ao voto em Macron.

Os próximos debates com Zemmour, no dia 10, e depois com Marine Le Pen, são a oportunidade para Pécresse inverter a tendência e recuperar o segundo lugar de forma inequívoca. Para tal terá de encontrar um equilíbrio difícil para conquistar alguns votos à extrema-direita, sem afugentar os eleitores mais moderados. Além disso a guerra na Ucrânia veio tornar mais difícil a tarefa dos candidatos de oposição, com os ataques à gestão de Macron a poderem cair mal aos franceses numa altura em que o presidente está a tentar mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia.

A 39 dias da primeira volta, Christiane Taubira desistiu ontem da corrida. A antiga ministra da Justiça era uma dos muitos candidatos à esquerda, mas não conseguiu reunir as assinaturas necessárias. A vencedora das chamadas "primárias populares", não reconhecidas por vários candidatos, foi depois convidada pelo ecologista Yannick Jadot para se juntar à sua campanha.

Com a esquerda estilhaçada numa multitude de candidaturas, a dúvida ontem à noite era se Philippe Poutou, candidato do Novo Partido anticapitalista ia conseguir as 500 assinaturas.

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