Só quatro economias evitam rombos na retoma devido à guerra: Índia, Austrália, Argentina e Chile
Estudo da Standard & Poor"s antecipa ano de 2022 difícil para a zona euro. Crescimento da região é dos mais prejudicados pela nova crise bélica e energética. Alemanha, Itália e Polónia são as economias que sofrem mais, prevê a agência de notação financeira.
Apenas quatro economias (Índia, Austrália, Argentina e Chile), num painel de 30 territórios analisados, escapam a danos no crescimento por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia, revela a Standard & Poor"s (S&P) num estudo em que atualiza as previsões macroeconómicas para essas três dezenas de regiões.
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De acordo com a agência de rating, a zona euro leva um corte de 1,2 pontos percentuais (pp) na taxa de crescimento real prevista para o produto interno bruto (PIB) deste ano, colocando assim a área da moeda única a crescer 3,2%. Era para ser bem mais do que 4%.
A projeção para a inflação da zona euro dispara até 5,1% em 2022, acrescenta o trabalho coordenado por Paul Gruenwald, o economista-chefe global da S&P. O limite do Banco Central Europeu (BCE) é uma inflação em torno de 2%.
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Rússia em recessão
Segundo a maior agência de rating, além da Rússia (o país mais afetado dos 30 estudados e o único que, para já, cai em recessão em 2022), as economias europeias também aparecem mal na fotografia. São até as mais punidas pela corrente situação.
Os maiores cortes nas previsões deste ano acontecem justamente na Alemanha, a maior economia da União Europeia (UE) e do euro. A revisão em baixa é de 1,4 pp, para 2,9% em 2022. Itália sofre a mesma redução, prevendo-se agora uma expansão de 3,3%.
A Polónia, que faz fronteira com a Rússia, também deve crescer menos 1,4 pontos. Avança 3,6%, com os dados disponíveis.
Como referido, fora da UE, o cenário é mau para muitos. Para a Rússia, é o pior. Entra em recessão profunda, com uma contração de 6,2% este ano. É, para já, o único caso recessivo neste painel da S&P.
O Brasil aproxima-se da estagnação, somando apenas 0,4% ao seu PIB em 2022. O crescimento previsto para a Turquia, outro vizinho da Rússia, cai para metade: 2%. A inflação da economia turca pode mesmo superar os 50%, uma cifra complicada de gerir, avança a S&P.
Mesmo distantes da Rússia, os EUA, maior economia do mundo, podem crescer menos 0,7 pontos. A previsão aponta para 3,2% em 2022 - o mesmo que a zona euro.
Os que ainda passam ao lado
Mas há casos menos graves. Há economias que, por enquanto, parecem aguentar o embate desta nova crise e do choque da guerra. A China sofre uma ligeira despromoção (menos 0,1 pontos) e pode crescer 4,8%.
E, para já, há quatro países que passam incólumes, segundo a S&P. A Índia fica na mesma e cresce 7,8%. A expansão económica da Argentina melhora 0,7 pontos percentuais, para 2,8%. O Chile tem uma promoção de três décimas e pode aumentar o PIB em 2,3% este ano. E a Austrália também é revista em alta ligeira (uma décima) e expande-se 3,6%
Tudo considerado, a economia global é arrastada pela guerra. Pelas contas da Standard & Poor"s, consegue crescer 3,4% em vez dos 4,1% previamente calculados pela agência de notação financeira.
A economia mundial fica numa posição delicada e arriscada. Muitos economistas consideram que uma expansão mundial de 3% ou menos configura, tecnicamente, uma recessão global.
Os economistas da S&P observam que "o crescimento global diminui para 3,4% este ano". "O impacto russo é o que mais contribui para este resultado, seguido dos preços da energia e das alterações de políticas."
Fora a Rússia, "a Europa é a região mais duramente atingida pelo conflito. O crescimento da zona euro cai 1,2 pp neste ano agravado pela sua exposição à Rússia e as importações de energia muito mais caras". "A inflação salta" e pode superar os 5%, como referido.
O problema é que este cenário tem tendência a piorar. "Os riscos da nossa previsão são claramente negativos e estão principalmente relacionados com uma escalada do conflito", refere a empresa avaliadora de crédito.
"Uma escalada pode incluir uma maior intensidade do conflito, um alargamento do âmbito geográfico desse conflito ou um alargamento das sanções à capacidade da Rússia para exportar energia", rematam os analistas.
Dentro de semanas, estas previsões da S&P serão atualizadas de acordo com o desenrolar da situação, diz fonte oficial.
luis.ribeiro@dinheirovivo.pt
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