O Morena, partido da presidente Claudia Sheinbaum, irá muito provavelmente controlar o Supremo Tribunal do México na sequência das eleições inéditas, levadas a cabo este domingo, para escolher 2600 juízes e magistrados locais, estaduais e federais do país. Apesar de o escrutínio ter registado uma taxa de participação que ronda os 13%, o valor mais baixo em eleições federais, a sucessora de Andrés Manuel López Obrador considerou que o processo foi “um sucesso completo” e uma demonstração de que o “México é o país mais democrático do mundo”.Os resultados preliminares mostram que a maioria dos recém-eleitos juízes para o Supremo são próximos do Morena, o que vai alterar o equilíbrio que existia até agora na mais alta instituição judicial do país. A exceção é o advogado indígena Hugo Aguilar Ortiz, considerado a grande surpresa desta eleição e conhecido como um ativista jurídico que luta pelos direitos dos indígenas mexicanos e um crítico da corrupção no sistema judicial. Os números finais desta eleição federal serão conhecidos no dia 15 e a tomada de posse dos novos 2600 juízes e magistrados deverá ocorrer em setembro.A polémica reforma judicial que levou a estas eleições — as primeiras em que um país vota para escolher todos os seus juízes — foi levada a cabo no ano passado, ainda durante a presidência de López Obrador, o fundador do Morena, e justificada com a necessidade de reduzir a corrupção e a impunidade deste setor, tornando-o mais sujeito à opinião popular. Os críticos deste conceito alegaram que iria deitar por terra a separação de poderes — a confirmarem-se os resultados, por exemplo, para o Supremo, o Morena passará a controlar os poderes executivo, legislativo, e também o judicial — e poderia diminuir a qualidade do sistema judicial, com o aparecimento de candidatos com baixas qualificações e com ligações políticas. De acordo com a Reuters, a campanha foi dominada por um escândalo que envolveu alguns dos candidatos, incluindo um traficante de droga condenado e um antigo advogado do barão da droga Joaquin "El Chapo" Guzman.Analistas referem ainda que esta reforma não faz nada para resolver os verdadeiros problemas da justiça mexicana, a corrupção e os abusos generalizados no sistema, notando ainda que as instituições que permitem que os criminosos atuem impunemente não são os tribunais, mas o Ministério Público e a polícia.“Como dissemos, desde o início, a eleição do judiciário foi um absoluto falhanço”, declarou na rede social X Ricardo Anaya, antigo candidato presidencial do partido conservador PAN. “O que vimos foi uma simulação, uma fraude e uma confusão. Urnas vazias, boletins de voto marcados prematuramente e cidadãos que nem sabiam em quem estavam a votar. Isto não é democracia. É um insulto.” O ex-presidente Ernesto Zedillo, atualmente diretor do Centro de Estudos da Globalização na Universidade de Yale, foi mais longe e chegou mesmo a declarar que a própria democracia “chegou ao fim” no México.A presidente mexicana estima que à volta de 13 dos cerca de 100 milhões de eleitores votaram este domingo, com a autoridade eleitoral a apontar para uma taxa de participação entre os 12,57 e os 13,32%, a mais baixa de sempre em eleições federais no país — nas presidenciais costuma rondar os 60% — um cenário para o qual as empresas de sondagem já tinham alertado, devido aos apelos ao boicote feitos pela oposição e pela complexidade da votação. No entanto, no México não é necessária uma taxa de participação mínima para que as eleições sejam consideradas legítimas.Sheinbaum respondeu também aos críticos dizendo que “quem diz que há autoritarismo no México está a mentir”, declarou, citada pela AP, durante a votação. “O México é um país que se está a tornar cada vez mais livre, justo e democrático porque essa é a vontade do povo.” A presidente mexicana, no entanto, admitiu que “tudo pode ser aperfeiçoado”, garantindo que “vamos retirar conclusões de ontem [domingo] para implementar melhorias para 2027”, numa referência às eleições dentro de dois anos onde serão escolhidos mais cerca de uma centena de cargos judiciais.