Senado do Brasil pede ajuda internacional e alerta: país pode ser "um risco real para o mundo"
O Senado brasileiro aprovou na terça-feira uma moção a pedir ajuda à comunidade internacional para avançar na vacinação contra a covid-19 e alertou que o país pode ser "um risco real para o mundo".
A petição será dirigida à ONU, à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), assim como ao G20 [fórum internacional que integra Governos e governadores dos bancos centrais de 19 países e a UE], aos parlamentos dos Estados Unidos, do Reino Unido e da China e aos laboratórios produtores de vacinas.
O documento destaca que esse pedido "ocorre num momento em que a sombra nefasta da morte paira sobre milhões de brasileiros e quando novas formas do vírus da covid-19" estão a converter-se "numa ameaça global".
O texto acrescenta que, até ao momento, pouco mais de 5% dos 212 milhões de brasileiros foram vacinados e que o país enfrenta sérias dificuldades para garantir a continuidade do programa de imunização, devido aos problemas causados pela enorme procura no mundo.
Ainda assim, o Governo brasileiro garante ter acordos prévios para cerca de 500 milhões de doses de vacinas de vários laboratórios, que devem chegar ao país ao longo deste ano, o que para os senadores "poderá ser tarde".
O documento revê a "situação dramática" do Brasil, que ultrapassou já a barreira das três mil mortes num só dia devido à covid-19, e diz que o Senado "se vê obrigado" a fazer "um doloroso alerta: o avanço da pandemia no Brasil representa um risco real para o mundo".
A moção, apresentada pela senadora Kátia Abreu com o apoio de 65 dos 81 membros da Câmara Alta, foi aprovada num momento em que o Brasil enfrenta a pior fase da pandemia, com hospitais em colapso na maioria do país, que é o segundo mais afetado pela covid-19 no mundo, depois dos Estados Unidos.
Dados oficiais divulgados na terça-feira indicam que nas últimas 24 horas foram registadas 3251 mortes e 82 493 infeções, com as quais o Brasil acumula já 298 676 óbitos e 12 130 019 casos da doença desde fevereiro de 2020.
E no dia em que o país bateu este recorde trágico de óbitos, o Presidente brasileiro falou aos cidadãos, tentando tranquilizar a população e prometendo 500 milhões de doses de vacinas contra a covid-19.
"Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos a nossa vida normal", afirmou Jair Bolsonaro no pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.
"Em nenhum momento, o Governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome. (...) Neste mês, intercedi pessoalmente junto à fabricante Pfizer para a antecipação de 100 milhões de doses, que serão entregues até setembro de 2021. E também com a Janssen, garantindo 38 milhões de doses para este ano", argumentou o mandatário.
"Hoje, somos produtores de vacina em território nacional. (...) Quero destacar que hoje somos o quinto país que mais vacinou no mundo. Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da federação, graças às ações que tomamos logo no início da pandemia", salientou, na mensagem que durou cerca de quatro minutos.
No entanto, quando se considera a administração de vacinas contra a covid-19 por 100.000 habitantes, o Brasil cai para a 58ª posição, segundo o ranking mundial de imunização, atualizado diariamente pelo jornal The New York Times.
Segundo um consórcio formado pela imprensa local, 6,04% de uma população de 212 milhões de habitantes receberam a primeira dose de alguma vacina contra a covid-19, enquanto que 2,05% receberam as duas doses.
"Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em sua família. Que Deus conforte seus corações! Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la. Deus abençoe o nosso Brasil", concluiu o mandatário.
Enquanto Bolsonaro falava ao país, vários cidadãos foram às suas janelas, em várias cidades do país, bater em panelas, num ato de protesto contra a gestão do chefe de Estado na pandemia.
Os protestos refletem a forte queda do apoio ao Presidente detetada pelas últimas sondagens, que o mostram com um decréscimo da aprovação ao longo das últimas semanas.
A defesa de Bolsonaro pelas vacinas contrasta com declarações anteriores, em que afirmou que os imunizantes podem provocar efeitos colaterais. O Presidente também chegou a declarar que não será vacinado contra a covid-19.
E devido ao agramento da pandemia, a multinacional alemã Mercedes Benz anunciou na terça-feira que vai suspender a produção de veículos no Brasil entre 26 de março e 6 de abril.
A Mercedes Benz vai paralisar as atividades por 12 dias na fábrica de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil e também o mais afetado pela pandemia, e na fábrica de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
O fabricante alemão acrescentou que findos os 12 dias de paralisação vai conceder férias coletivas a diferentes grupos de funcionários das duas unidades fabris, visando reduzir a circulação de pessoas e, consequentemente, a possibilidade de transmissão do vírus.
"O nosso objetivo, alinhado ao do Sindicato dos Metalúrgicos, é contribuir para a redução da circulação de pessoas neste momento crítico no país; administrar a dificuldade de abastecimento de peças e componentes, e atender à solicitação das autoridades municipais para que antecipemos os feriados municipais", explicou a Mercedes Benz, em comunicado.
Na semana passada, a multinacional alemã Volkswagen decidiu suspender a produção nas quatro fábricas que tem no Brasil por 12 dias, entre 24 de março e 04 de abril, também devido ao agravamento da pandemia.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2 732 899 mortos no mundo, resultantes de cerca de 123,6 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.