Passam 80 anos exatos que o imperador Hirohito anunciou aos japoneses a rendição do país, pondo fim à Segunda Guerra Mundial, que na Europa tinha já terminado em maio, com a derrota da Alemanha Nazi. O seu neto, o imperador Naruhito, numa cerimónia evocativa esta sexta-feira, 15 de agosto, em Tóquio, expressou “profundo remorso” pelos acontecimentos que levaram ao conflito e elogiou a era de paz pós-1945. Também o primeiro-ministro Shigeru Ishiba usou a palavra “remorso”, acrescentando que não se devem “repetir os horrores da guerra”. Depois de uma rápida modernização na segunda metade do século XIX, que lhe deu tanto poder que derrotou em guerras a China e a Rússia, o Japão entrou numa fase militarista que o levou a expandir o império pela Ásia (com uma má memória que permanece até hoje na China e nas Coreias) e a aliar-se na Segunda Guerra Mundial à Alemanha de Hitler e à Itália de Mussolini no Eixo. Um ataque surpresa a Pearl Harbor, no Havaí, em finais de 1941, levou ao conflito aberto com os Estados Unidos, que entraram finalmente em guerra tanto na Ásia como na Europa. E se no Velho Continente a derrota da Alemanha resultou do esforço conjugado dos Aliados ocidentais, sobretudo americanos e britânicos, e dos soviéticos, já no extremo-oriente foram os Estados Unidos que obrigaram o Japão a render-se, depois das bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima a 6 de agosto de 1945 e sobre Nagasáqui, a 9.A formalização da rendição foi a 2 de setembro a bordo do navio americano USS Missouri, na baía de Tóquio. Seguiu-se a ocupação americana e o julgamento de altas figuras japonesas, com várias a serem condenadas à morte, entre as quais o general Hideki Tojo, que foi primeiro-ministro durante a maior parte do período da guerra. Hirohito, pelo simbolismo da figura do imperador para o povo japonês, foi excluído do tribunal de guerra, uma decisão dos americanos que facilitou depois do conflito a criação de uma aliança entre Washington e Tóquio que perdura. Com perto de 200 mil mortos em resultado dos bombardeamentos de Hiroxima e Nagasáqui, a única utilização da arma atómica contra populações até hoje, o Japão tornou-se um campeão da luta contra o armamento nuclear, além de uma sólida e próspera democracia. Ainda há uma semana, na cerimónia na Cúpula Nuclear em Hiroxima, o primeiro-ministro Ishiba declarou que o país está determinado a “liderar os esforços globais" para a humanidade alcançar um mundo sem armas nucleares. O monopólio atómico/nuclear dos Estados Unidos durou até 1949, quando a União Soviética testou a sua primeira bomba no Polígono de Semipalatinsk, no atual Cazaquistão. A capacidade de destruição mútua de americanos e soviéticos terá sido a grande razão para a Guerra Fria nunca se ter tornado quente apesar da rivalidade geopolítica entre Washington e Moscovo, tendo a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, sido o momento mais crítico, segundo os historiadores. Hoje são nove as potências nucleares. Britânicos e franceses depressa se dotaram da bomba nuclear, depois também a China em 1964. Em 1998, uma série de testes indianos e paquistaneses confirmaram as suspeitas da capacidade nuclear dos dois países da Ásia do Sul, sendo que Nova Deli deverá ter atingido o estatuto nuclear ainda nos anos 1970. Israel já tem arsenal nuclear há décadas, apesar de não o assumir oficialmente, e a Coreia do Norte fecha o restrito clube, tendo feito o primeiro ensaio em 2006. Recentemente atacado por Israel e Estados Unidos, o Irão é suspeito de procurar a bomba. No passado, vários países tiveram programas nucleares, mas provavelmente o único que chegou a ter a arma e depois desistiu foi a África do Sul no tempo do Apartheid. Ucrânia e Cazaquistão herdaram armas nucleares da União Soviética, mas acabaram por renunciar à posse, ficando a Rússia como a única herdeira do arsenal soviético. Hoje, no Alasca, vão ter uma cimeira os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin. Os seus países, mesmo três décadas e meia depois do fim da Guerra Fria, continuam a dispor dos dois maiores arsenais nucleares. A Ucrânia deverá ser o ponto chave da agenda das conversações, até porque desde a invasão russa de 2022, que levou a Europa e os Estados Unidos a apoiar Kiev, a ameaça de guerra nuclear voltou a ser falada com uma intensidade preocupante. Será difícil que os presidentes americano e russo não se recordem da efeméride de hoje e de como há 80 anos acabou a Segunda Guerra Mundial..80 anos depois da bomba atómica sobre Nagasáqui, homenagem à cidade cuja história toca Portugal .Hiroxima, uma lição de vida