PM sueco Kristersson acompanha Zelensky ao palácio de Estocolmo para este ser recebido pelo rei.
PM sueco Kristersson acompanha Zelensky ao palácio de Estocolmo para este ser recebido pelo rei.Fredrik SANDBERG / TT News Agency / AFP

Scholz segue Biden e dá a Kiev direito de defesa em território russo

Zelensky congratulou-se, horas após ter criticado as restrições dos norte-americanos. Chefe da diplomacia dos EUA garante que o país vai adaptar a política às necessidades de Kiev.
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Desta vez, os países aliados não perderam semanas ou meses para chegarem a uma conclusão: à lista crescente de países que se pronunciaram de forma favorável ao uso ucraniano de armas ocidentais em território russo, os EUA juntaram-se, embora limitando, para já, o seu uso à região fronteiriça de Kharkiv. A Alemanha saiu do estado de indecisão e também deu o seu aval, confirmou o porta-voz do governo, para irritação do Kremlin.

Em Estocolmo para participar na terceira cimeira entre países nórdicos e a Ucrânia, onde assinou acordos de segurança bilaterais com a Suécia, Noruega e Islândia (já tinha pactuado com Dinamarca e Finlândia), o presidente Volodymyr Zelensky congratulou-se com o levantamento parcial das restrições norte-americanas. “Este é um passo em frente em direção ao objetivo de tornar possível a defesa do nosso povo que vive nas aldeias da fronteira”, afirmou.

Para já, as tropas russas continuam a progredir na região de Kharkiv. Segundo Moscovo, terão empurrado as forças ucranianas até nove quilómetros da fronteira na região de Kharkiv, acrescentando que controla agora as colinas perto da aldeia de Lyptsi. Também continuam a matar civis: nas primeiras horas de sexta-feira cinco mísseis foram lançados para a segunda maior cidade ucraniana, tendo matado seis pessoas e ferido 25, duas das quais crianças.

Em entrevista ao The Guardian, Zelensky disse que as armas e munições dos EUA ainda não chegaram em número suficiente para fazer a diferença no nordeste do país e deixou críticas à administração Biden. “Penso que é absolutamente ilógico ter armas [ocidentais] e ficar a ver os assassinos, os terroristas, que nos estão a matar do lado russo. Penso que, por vezes, eles estão a rir-se desta situação”, afirmou. Zelensky pediu aos EUA para confiarem mais nos ucranianos e esclareceu que, ao contrário do que tem sido noticiado, Londres não deu o aval para a Ucrânia utilizar os mísseis Storm Shadow em território russo, - ao contrário de Paris com os mísseis gémeos Scalp. “Vocês sabem como isto funciona”, disse aos jornalistas, em referência à necessidade de um alinhamento dos aliados com Washington.

Ao confirmar a mudança de política norte-americana, o secretário de Estado Antony Blinken garantiu que, “no futuro”, os EUA vão seguir a mesma linha: “Continuaremos a fazer o que temos vindo a fazer, que é, se necessário, adaptarmo-nos e ajustarmos.”

Ainda na entrevista ao jornal inglês, Zelensky afastou qualquer hipótese de negociações com o regime de Putin. Um acordo de paz, alegou, seria uma “armadilha” porque o líder russo não é de confiança e acabaria por “violar qualquer acordo”.

Noutra frente diplomática, a China anunciou a sua ausência da cimeira sobre a paz que vai decorrer em meados do mês na Suíça, alegando que sem a presença da Rússia, que não foi convidada, “é difícil” que a iniciativa “desempenhe um papel significativo no restabelecimento da paz”. O Kremlin aproveitou para criticar a iniciativa diplomática: “Procurar opções para uma solução do conflito ucraniano sem a participação da Rússia é absolutamente ilógico, fútil e uma perda de tempo”, disse Dmitri Peskov. O porta-voz da presidência, que na véspera acusou os países da NATO de incitarem a Ucrânia “por todos os meios possíveis para prolongar esta guerra sem sentido”, disse na sexta-feira que “armas fabricadas nos EUA já estão a ser usadas para tentar realizar ataques em território russo”.

Menos 150 prisioneiros

Maryana Checheliuk, polícia em Mariupol, foi capturada em março de 2023 e só agora libertada. (Canal de Telegram de Volodymyr Zelensky/AFP)

A Rússia e a Ucrânia anunciaram a troca de 75 prisioneiros de guerra de cada lado. “Estamos a trazer de volta a casa 75 dos nossos cidadãos que foram capturados pelos russos”, entre militares, guardas e quatro civis. “Dezanove pessoas foram capturadas na ilha da Serpente, 10 defensores em Mariupol e [a siderurgia] Azovstal, militares ucranianos que foram capturados em diferentes áreas”, detalhou o chefe de gabinete do presidente, Andriy Yermak. Alguns estavam cativos há dois anos. Kiev diz que já foram libertados 3210 prisioneiros desde o início da invasão. 

Por sua vez, o Ministério da Defesa russo afirmou ter assegurado a libertação de 75 dos seus militares, que alegadamente se encontravam “em perigo de vida” detidos na Ucrânia e informou que os Emirados Árabes Unidos mediaram a troca, como em ocasiões anteriores. A última ocorreu há quatro meses, dias depois de Moscovo e Kiev acusarem-se mutuamente de terem abatido um avião russo que, segundo a Rússia, transportava 65 prisioneiros ucranianos para um ponto de troca. Estas negociações ficaram marcadas por acusações mútuas de exigências desajustadas.

cesar.avo@dn.pt

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