O chanceler Olaf Scholz quer governar a Alemanha com um governo minoritário composto pelo seu SPD e pelos Verdes até ao início do próximo ano, um cenário que se precipitou depois de ter demitido na quarta-feira o ministro das Finanças, Christian Lindner, dos liberais do FDP, até agora o terceiro partido da chamada coligação “semáforo”. Mas o líder da CDU e provável próximo chanceler, Friedrich Merz, prefere acelerar este calendário, pedindo uma moção de confiança nos próximos dias e a realização de novas eleições em meados de janeiro..“Há toda uma série de compromissos, conferências e decisões internacionais na União Europeia que agora exigem um governo federal alemão que seja capaz de agir”, explicou Merz esta quinta-feira. “Simplesmente não podemos permitir-nos ter um governo sem maioria na Alemanha durante vários meses.” .Já Scholz prefere liderar um governo minoritário composto pelo seu SPD e pelos Verdes para aprovar antes do final do ano, entre outras coisas, um Orçamento para 2025, pedir uma moção de confiança a 15 de janeiro, abrindo a porta para eleições em março, seis meses antes da data inicialmente prevista para que a Alemanha fosse a votos. Além de Lindner, afastado devido a divergências nos gastos e nas reformas económicas, os três outros ministros do FDP apresentaram a sua demissão ao fim da noite de quarta-feira. No entanto, Volker Wissing, o ministro dos Transportes retirou a demissão, explicando que, depois de falar com Scholz, tinha decidido continuar no governo, abandonando o FDP..O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, aceitou esta quinta-feira à tarde a demissão dos dois ministros, tendo empossado Jörg Kukies, conselheiro económico de Scholz, como novo ministro das Finanças. O ministro da Agricultura, Cem Özdemir, dos Verdes, concordou em assumir a pasta da Educação, enquanto Wissing vai acumular os Transportes com a Justiça. .“Se novas eleições não forem convocadas antes do final de março, isso significaria que a Alemanha teria de esperar até junho para que um novo governo, em pleno funcionamento e com a sua própria maioria, tomasse posse - e isso assumindo que tudo corra bem. Isto significa que a Alemanha não será capaz de desempenhar um papel de liderança a nível europeu. Embora a Alemanha não se tenha distinguido neste aspeto ao longo dos últimos três anos, veremos agora ainda menos iniciativa, flexibilidade e previsibilidade a sair de Berlim”, refere Jana Puglierin, líder do núcleo de Berlim do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR)..Mas o desejo de Scholz poderá não se concretizar, já que deverá precisar da CDU de Merz, com quem esteve reunido esta quinta-feira à tarde, para conseguir aprovar legislação no Parlamento, o que parece pouco provável, dado o calendário que apresentou..Uma cronologia defendida também pelo líder do grupo parlamentar da CSU (partido-irmão da CDU na Baviera), Alexander Dobrindt, que alega que o país não se pode dar ao “luxo de ter um chanceler em coma”, mas também pelo presidente dos liberais do FDP e agora ex-ministro das Finanças, Christian Lindner. “O nosso país precisa de um governo que não esteja apenas no poder, mas que possa agir”, declarou esta quinta-feira, acrescentando que “numa democracia, ninguém deveria ter medo dos eleitores”..De acordo com o Politico, as sondagens mais recentes dão à coligação CDU/CSU, de centro-direita, 32% das intenções de votos, seguida da Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, com 17%. Os sociais-democratas de Olaf Scholz surgem em terceiro com 16%, seguidos dos Verdes com 10%, enquanto o FDP apresenta 4% das intenções de voto, um ponto percentual abaixo do mínimo necessário para entrar no Parlamento alemão. .“Pode ser uma ilusão que mais estabilidade e liderança sejam o resultado das próximas eleições alemãs: as recentes eleições locais demonstraram que a Alemanha não está imune a maiorias pouco claras no centro, com fortes partidos populistas a apoderarem-se de grandes parcelas dos votos. O resultado das próximas eleições federais poderá ser ainda mais confuso do que o que temos agora”, vaticina Janka Oertel, analista política sénior do ECFR..ana.meireles@dn.pt