Santa Maria Maior e São Pedro: duas basílicas para o adeus ao papa
A partir desta quarta-feira, o corpo do papa Francisco vai estar em câmara ardente na Basílica de São Pedro, no Vaticano, para permitir uma última homenagem dos fiéis ao homem que nos últimos 12 anos chefiou a Igreja Católica e os seus 1,4 mil milhões de seguidores. Mas o argentino Jorge Bergoglio deixou instruções para não ficar sepultado nesta igreja erigida no século XVII no local onde se acredita estar o túmulo de São Pedro, discípulo de Cristo e primeiro papa, e onde repousam 90 dos seus sucessores, incluindo os nove últimos pontífices. No seu testamento, feito em junho de 2022, o papa deixou expresso o desejo que os seus “restos mortais sejam depositados na Basílica Papal de Santa Maria Maior, à espera do dia da ressurreição”.
Situada no monte Esquilino, uma das sete colinas de Roma, Santa Maria Maior é um das quatro basílicas papais da cidade. Mandada construir originalmente pelo papa Sisto III em 432, é hoje uma igreja barroca, fruto da sua ultima grande renovação no século XVIII. Data dessa época a fachada totalmente reconstruída por Ferdinando Fuga entre 1732 e 1743.
Reza a lenda - e a Enciclopédia Católica - que o patrício João e a mulher prometeram doar todas as suas posses à Virgem Maria se esta lhes desse um filho. Numa noite, a virgem apareceu em sonho a João e pediu que fosse construída uma igreja em sua honra, num local que ela indicaria milagrosamente. Um sonho que o papa Libério também teve. Nessa noite, apesar de ser agosto, nevou em Roma e o patrício mandou construir a igreja no local que ficara coberto pela neve. Daí a igreja ser conhecida também por Nossa Senhora das Neves.
A basílica acolhe também o mais importante ícone mariano, a Salus Populi Romani. A tradição atribui a imagem, que mostra a Virgem em pé a segurar o menino, a São Lucas, Evangelista e patrono dos pintores. O papa Francisco colocava sempre as suas viagens apostólicas sob a proteção da Salus, tendo o hábito de visitar a basílica antes da partida e depois do seu regresso.
E no seu testamento, o papa argentino deixou o desejo de ser sepultado ali mesmo junto àquele ícone que o acompanhou nos últimos anos. “Confiei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais sejam depositados na Basílica Papal de Santa Maria Maior, à espera do dia da ressurreição”, indicou.
O Salus Populi Romani não é no entanto o único “tesouro” guardado entre as quatro paredes da basílica de Santa Maria Maior. A relíquia do Santo Berço, a manjedoura onde terá repousado Jesus, recorda a importância de Santa Maria Maior como a “Belém do Ocidente”, lê-se no seu site. Outras relíquias importantes são os restos mortais de São Matias e de São Jerónimo.
Ali estão também sepultados sete papas, desde Honório III, morto em 1227, e Clemente IX, falecido em 1669.
Francisco vai agora juntar-se-lhes, desejando descansar num túmulo “enterrado, simples, sem decoração especial e com a inscrição única: Franciscus”.
Até ao funeral, no sábado de manhã, os fiéis irão desfilar pela basílica de São Pedro, para o último adeus ao papa. Inaugurada há quase 400 anos, a igreja é património da Humanidade da UNESCO, contando com obras de Miguel Ângelo, Rafael ou Bernini. Este último - pintor, escultor, arquiteto e dramaturgo - está sepultado no jazigo da sua família a menos de quatro quilómetros dali: na Basílica de Santa Maria Maior.