Rússia anuncia retirada de algumas tropas da fronteira com a Ucrânia. NATO não viu nenhum sinal de redução da presença militar
Ministério da Defesa russo anunciou a retirada de alguns militares da fronteira com a Ucrânia, estando previsto que regressem esta terça-feira às bases. Prosseguem, no entanto, exercícios de grande escala.
A Rússia anunciou esta terça-feira que está retirar algumas das tropas localizadas perto da fronteira ucraniana para as suas bases militares, naquele que será o primeiro grande passo para diminuir a tensão em semanas de crise com o Ocidente.
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NATO fez saber, no entanto, que ainda não assistiu a nenhum recuo da Rússia.
"Até agora, não vimos qualquer desescalada no terreno, nenhuns sinais de redução da presença militar russa nas fronteiras com a Ucrânia, mas vamos continuar a monitorizar e a seguir atentamente o que a Rússia está a fazer. Mas os sinais que chegam de Moscovo, relativamente à vontade de prosseguir os esforços diplomáticos, dão alguma razão para um otimismo cauteloso", declarou Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, numa conferência de imprensa de projeção de uma reunião de ministros da Defesa da Aliança Atlântica que vai decorrer entre quarta e quinta-feira, e na qual Portugal estará representado pelo ministro João Gomes Cravinho.
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Comentando que, nesta reunião, que contará com a participação do ministro da Defesa da Ucrânia na sessão de quinta-feira, os Aliados discutirão aquela que é "a maior ameaça à segurança europeia das últimas décadas", Stoltenberg disse esperar que ao longo dos próximos dois dias seja possível avaliar "se há sinais", no terreno, de um efetivo desanuviamento no terreno ou não.
Para já, insistiu, a "concentração sem precedentes" de forças e meios militares nas fronteiras com a Ucrânia permite à Rússia lançar um ataque em grande escala "a qualquer momento" e sem aviso prévio.
"Tudo está agora a postos para um novo ataque. Mas a Rússia ainda tem tempo para se afastar da beira do abismo. Que pare de se preparar para a guerra e comece a trabalhar para uma solução pacífica. O movimento de forças, de capacidades russas não representa uma inversão da escalada", afirmou o secretário-geral da NATO.
O secretário-geral da NATO disse esperar que todos os membros da Aliança voltem a expressar, na reunião ministerial desta semana em Bruxelas, o seu "apoio político à Ucrânia, à soberania e integridade territorial da Ucrânia", adiantando que será também discutido o "apoio técnico" que pode continuar a ser prestado a Kiev, bem como o reforço da "postura defensiva" da Aliança a leste.
"Sempre dissemos que após o fim dos exercícios, as tropas regressariam às suas bases", diz porta-voz do Kremlin
O anúncio do Ministério da Defesa russo acontece durante um intenso esforço diplomático para evitar uma temida invasão russa à Ucrânia, depois de Moscovo reunir mais de 100 mil soldados perto das fronteiras com o seu país vizinho.
A crise - a pior entre a Rússia e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria - atingiu o pico esta semana com autoridades norte-americanas a alertar que uma invasão em grande escala, incluindo um ataque à capital Kiev, estaria iminente.
Na manhã desta terça-feira, o porta-voz do Ministério da Defesa disse que algumas forças posicionadas perto da Ucrânia completaram os exercícios e estavam a preparar-se para partir.
"As unidades dos distritos militares do Sul e do Oeste, que cumpriram as suas tarefas, já começaram a embarcar em meios de transportes ferroviários e rodoviários e iniciarão hoje o retorno às suas bases", disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, citado pelas agências de notícias russas.
Estão, no entanto, a decorrer exercícios militares de grande escala, afirmou Konashenkov.
"As Forças Armadas russas estão a dar continuidade a uma série de exercícios em larga escala para treino operacional. Praticamente todos os distritos militares, frotas e tropas aerotransportadas estão a participar", afirmou o porta-voz do ministério da Defesa russo.
Exercícios de grande escala na região, Rússia-Bielorrússia Resolve, devem terminar a 20 de fevereiro.
Não ficou imediatamente claro quantas unidades estavam envolvidas e que impacto esta retirada teria no número total de tropas que cercam a Ucrânia, mas foi o primeiro anúncio de uma retirada da Rússia em semanas.
Kremlin fala em "histeria" ocidental
O porta-voz do Kremlin confirmou o regresso à base de algumas tropas russas referindo que era algo que já estava previsto. "Sempre dissemos que após o fim dos exercícios, as tropas regressariam às suas bases permanentes. Não há nada de novo aqui. Este é um processo normal", disse Dmitry Peskov, citado pela AFP.
Segundo Peskov, Moscovo irá no futuro organizar outros "exercícios em toda a Rússia" por ter o direito de o fazer onde quer que considere apropriado dentro do seu território.
Peskov denunciou uma "campanha absolutamente sem precedentes para provocar tensões" da parte do Ocidente, em particular dos EUA, com os alertas sobre uma invasão iminente da Ucrânia pela Rússia.
"Este é o tipo de histeria que não se baseia em nada", disse o porta-voz do Kremlin.
O Ministério da Defesa russo partilhou nas redes sociais um vídeo que mostra a retirada das unidades "do distrito militar do Sul".
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Ministro ucraniano é cauteloso. "Quando virmos uma retirada, vamos acreditar numa desescalada"
A Ucrânia já fez saber que os seus esforços diplomáticos e as ações dos aliados ocidentais conseguiram evitar uma invasão russa.
"Nós e os nossos aliados conseguimos impedir a Rússia de qualquer nova escalada. Já estamos em meados de fevereiro e vê-se que a diplomacia continua a funcionar", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, a jornalistas.
Ainda assim, o ministro ucraniano é cauteloso em relação ao anúncio da retirada de algumas tropas russas.
"Temos uma regra: não acredite no que ouve, acredite no que vê", disse Kuleba sobre as notícias dando conta que alguns miliatres russos estavam a regressa à base. "Quando virmos uma retirada, vamos acreditar numa desescalada", reforçou.
Chanceler alemão reúne-se com Vladimir Putin
O anúncio da retirada de militares ocorre antes da reunião marcada para hoje entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, que será recebido no Kremlin após uma visita do seu homólogo francês, Emmanuel Macron, na semana passada.
A tensão entre Kiev e Moscovo aumentou desde novembro passado, depois de a Rússia ter estacionado mais de 100.000 soldados perto da fronteira ucraniana, o que fez disparar alarmes na Ucrânia e no Ocidente, que denunciou os preparativos para uma invasão daquela ex-república soviética.
Em dezembro, a Rússia exigiu garantias de segurança por parte dos Estados Unidos e da NATO para impedir que a Aliança Atlântica se expandisse mais para o leste e estacionasse armas ofensivas perto de suas fronteiras.
Moscovo escreveu recentemente uma carta a todos os países membros da NATO e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) pedindo-lhes que se posicionassem sobre o que entendem por segurança indivisível na Europa.
Apesar dos esforços diplomáticos, a diminuição da escalada militar e da tensão não foi alcançada até agora.
A Rússia alega que tem o direito soberano de estacionar tropas em qualquer lugar do seu território e, por sua vez, denuncia o fornecimento massivo de armas à Ucrânia pelo Ocidente.
Com Lusa