Rússia avança com cinema e turismo espacial
A Rússia respondeu em força às mais recentes novidades na corrida espacial com o anúncio do envio de uma equipa de filmagem para rodar uma obra de ficção a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI), meses antes de colocar em órbita mais um turista espacial, o bilionário japonês Yusaku Maezawa.
A agência espacial russa (Roscosmos) vai enviar a atriz Yulia Peressild, de 36 anos, e o realizador Klim Chipenko, de 37 anos, para a EEI em outubro. O objetivo é antecipar-se ao projeto da NASA com o ator Tom Cruise e realizar "o primeiro filme de ficção no espaço", do qual apenas se conhece o título provisório, O Desafio. A importância dada à missão é tal que o diretor da Roscosmos Dmitri Rogozin será coprodutor da obra. Tudo para voltar a colocar a Rússia no topo da exploração espacial e colecionar mais uma medalha de pioneirismo.
No ano passado, à notícia inicial de que o ator norte-americano iria protagonizar o primeiro filme gravado na ausência de gravidade, numa colaboração da agência espacial norte-americana com a empresa Space X, de Elon Musk, indicou-se mais tarde que a partida de Tom Cruise para órbita decorreria também em outubro, mas desde então nada mais transpirou.
Antes de a Roscosmos ter revelado o projeto cinematográfico, anunciou que vai voltar ao chamado turismo espacial, isto é, proporcionar uma viagem até à EEI a troco de milhões de dólares. O astronauta privado é o bilionário japonês Yusaku Maezawa, que no dia 8 de dezembro irá embarcar num foguete Soyuz e levará consigo o assistente pessoal e fotógrafo Yozo Hirano.
"A duração da viagem espacial será de 12 dias", disse a agência, tendo informado que a formação da tripulação vai começar em junho. "Estou tão curioso sobre como é a vida no espaço que planeio descobri-la por mim próprio e partilhá-la com o mundo no meu canal do YouTube", comentou Maezawa, de 45 anos, numa declaração à Space Adventures, empresa que organiza a viagem.
Maezawa, cuja fortuna está avaliada em dois mil milhões de dólares, foi notícia em março quando comprou à Space X todos os lugares (oito) para uma viagem em órbita lunar, a qual está agendada para 2023. Os dois japoneses seguem os passos de Dennis Tito, o primeiro turista espacial, em 2001, e serão o oitavo e o nono passageiros privados a bordo da EEI, retomando uma atividade parada desde 2009.
A decisão de suspender os voos com elementos não profissionais explica-se pelo facto de os EUA terem ficado sem vaivém espacial: lançados do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, os Soyuz passaram a ter o exclusivo das missões espaciais, o que trouxe uma agenda mais preenchida e uma fonte de rendimento extra.
O cenário mudou de figura com a concorrência da Space X, que há um ano enviou pela primeira vez astronautas para a EEI, a partir dos Estados Unidos, e que irá continuar a levar os homens da NASA e de outras agências para órbita.
Envolta num escândalo de corrupção e em cortes orçamentais, o turismo espacial volta a ser uma opção para a Roscosmos. Mas também aqui a concorrência aperta: em janeiro é a vez da empresa Axiom Space estrear a rota privada para a EEI a partir dos Estados Unidos, com um norte-americano, um canadiano e um israelita a bordo de um foguete da Space X.