Rodrigo Duterte: detido em Haia, candidato nas Filipinas
O ex-presidente filipino Rodrigo Duterte está desde março numa pequena sala de de detenção em Haia, à espera de ser julgado no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade relacionados com a sua guerra às drogas, quando era autarca e depois chefe de Estado, que matou milhares de pessoas. Mas em Davao, Duterte está nos boletins de voto para as eleições intercalares de segunda-feira e é esperado que volte a conquistar o cargo de presidente da câmara.
"Ele [Duterte] ainda é um candidato. O seu nome está no boletim de voto, e os eleitores podem votar nele", esclareceu George Garcia, um alto funcionário da Comissão Eleitoral das Filipinas, pouco depois da detenção e extradição do antigo presidente.
A confiança dos eleitores de Davao em Duterte continua firme, apesar de ser suspeito de crimes cometidos enquanto lá foi autarca, entre 2001 e 2010 e depois entre 2013 e 2016 – a 28 de março, data do seu 80.º aniversário, cerca de 60.000 pessoas juntaram-se nas ruas a pedir a sua libertação.
"Vi o que ele conquistou como presidente da câmara e presidente, desde a sua luta contra os traficantes até ao que fez pelo país", explicou recentemente à Reuters Jennifer Maumbas, de 28 anos, funcionária de um pequeno café que exibia o rosto de Duterte numa faixa. "Não importa o que aconteça, estamos firmes com Duterte".
O ex-presidente filipino foi detido a 11 de março no aeroporto internacional de Manila por ordem do Tribunal Penal Internacional, que o acusa de crimes contra a humanidade durante a sangrenta campanha contra a droga.
Rodrigo Duterte foi detido depois de chegar de Hong Kong e a polícia levou-o sob custódia por ordem do TPI, que tem estado a investigar os assassínios em massa que ocorreram durante a campanha repressiva do antigo dirigente contra a droga.
O TPI lançou uma investigação sobre os assassínios relacionados com a campanha antidroga sob o comando de Duterte, entre 1 de novembro de 2011, quando ainda era presidente da Câmara de Davao, no sul do país, e 16 de março de 2019, como possíveis crimes contra a humanidade.
Duterte retirou as Filipinas em 2019 do Estatuto de Roma, numa medida que os ativistas dos direitos humanos dizem teve como objetivo escapar à responsabilização pelos assassínios.
O presidente Ferdinand Marcos Jr., que sucedeu a Duterte em 2022 e se envolveu numa amarga disputa política com o antigo chefe de Estado, decidiu não voltar a aderir a este tribunal universal.
No entanto, a administração de Marcos disse que cooperaria se o TPI pedisse à polícia internacional para levar Duterte sob custódia através do chamado "alerta vermelho", um pedido para que as agências de aplicação da lei em todo o mundo localizem e detenham temporariamente um suspeito de crime.
O antigo presidente não é o único membro da família Duterte envolvido em polémicas. Sara, uma das filhas e atual vice-presidente das Filipinas, deverá enfrentar um processo de destituição pelo seu alegado uso indevido de fundos confidenciais e tentativa de assassinar o presidente, já Paolo, membro eleito da Câmara dos Representantes e outro dos filhos de Rodrigo Duterte, foi acusado de tráfico ilegal de drogas.