A Alemanha, a França e o Reino Unido juntaram a sua voz à de outros países e advertiram Israel para este não responder aos anúncios do reconhecimento da Palestina com a anexação da Cisjordânia. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu reagiu às declarações de reconhecimento da Palestina por parte de vários países, Portugal incluído, ao afirmar que “não haverá Estado palestiniano”. Movimentações diplomáticas que coincidem com a semana de alto nível da Assembleia Geral da ONU, onde o francês Emmanuel Macron reconheceu o Estado da Palestina e encorajou outros países árabes e muçulmanos a seguir o exemplo. "Quebrar o ciclo [de violência] reside no reconhecimento mútuo", disse.Israel reagiu quase em bloco contra os anúncios dos reconhecimentos da Palestina. Da esquerda à extrema-direita, os maiores partidos políticos criticaram a iniciativa de dez países, entre os quais o Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Bélgica ou Portugal. Se Netanyahu fala em “absurdo prémio para o terrorismo”, o líder da oposição Yair Lapid descreve os acontecimentos como uma “má iniciativa e uma recompensa ao terror”. Nem todos concordam com esta visão. O movimento Zazim, que engloba judeus e árabes israelitas, entrega na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, uma petição com dez mil assinaturas a mostrar acordo com a iniciativa da França e da Arábia Saudita sobre a resolução do conflito na Assembleia Geral das Nações Unidas . “Uma solução política com dois estados para dois povos, cada um com soberania, segurança e paz, é a única alternativa em cima da mesa. A única outra opção é a guerra eterna”, disse a diretora da associação, Raluca Ganea, ao Times of Israel. .“A resposta à última tentativa de nos imporem um Estado terrorista no coração do nosso país será dada após o meu regresso dos Estados Unidos. Aguardem.”Benjamin Netanyahu, PM de Israel.Porém, os partidos políticos fazem eco das sondagens que mostram uma mudança de sentimento nos últimos anos e, agora, uma esmagadora maioria está contra a soberania da Palestina. Mais do que isso: em junho, 82% dos israelitas estava de acordo com a expulsão dos palestinianos de Gaza.Por coincidência, a mesma percentagem - 82 - foi usada pelo ministro Bezalel Smotrich ao apresentar o seu projeto de anexação dos territórios ocupados, na semana passada. Agora afirmou: “A única resposta a esta abordagem anti-israelita é a anexação das terras da pátria do povo judeu na Judeia-Samaria e o abandono definitivo da ideia absurda de um Estado palestiniano”, disse referindo-se à Cisjordânia. Outro ministro extremista, Itamar Ben Gvir, defende não só a “imediata anexação da Judeia-Samaria” em resposta ao anúncio de reconhecimento da Palestina, mas também o “desmantelamento completo da Autoridade Palestiniana”. .“Se tais medidas forem tomadas, responderemos com extrema firmeza. Espero que não se chegue a esse ponto. Não é de forma alguma do interesse deles [israelitas].”Jean-Noël Barrot, MNE de França.Perante estas reações inflamadas e as notícias que já circulam há um par de semanas sobre a possível resposta israelita, Berlim, Londres e Paris advertiram Telavive para não avançar com uma anexação ou invasão à Cisjordânia. Um tema a discutir entre Netanyahu e Trump, mas que também será decerto abordado na reunião desta terça-feira entre o presidente dos EUA e os líderes do Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Turquia, Paquistão, Egito e Jordânia. Algumas destas capitais já advertiram que Israel põe em risco os acordos de Abraão e a normalização de relações se avançar com a anexação da Cisjordânia, território sob ocupação israelita desde 1967. Bandeiras e bloqueios.Em França, o ministro do Interior aconselhara as autoridades locais a não hastearem a bandeira da Palestina, mas 86 câmaras municipais ignoraram as indicações de Bruno Retailleau e marcaram o dia escolhido pelo presidente para reconhecer a Palestina. O Ministério do Interior francês instruíra os prefeitos (funcionários encarregados da segurança de cada município) a impedir o hastear da bandeira, tendo alegado o princípio de neutralidade do serviço público, a não intervenção na política internacional e o risco de “graves distúrbios” na ordem pública. A desobediência registou-se em câmaras geridas pela esquerda, as maiores das quais Lyon, Nantes e Rennes. Foi o líder do Partido Socialista quem propôs o hastear da bandeira nos edifícios municipais, o que levou a discussões acaloradas sobre o ato simbólico. “Essa bandeira não é a bandeira do Hamas, é a bandeira de mulheres e homens que também têm o direito à liberdade e à autodeterminação”, disse Olivier Faure, que assistiu à cerimónia do hastear da bandeira palestiniana na autarquia de Saint-Denis, nos subúrbios de Paris. O tema da Palestina, como quase todos os restantes, divide a sociedade francesa. A líder de facto da extrema-direita, Marine Le Pen, criticou o reconhecimento do que chama de “Hamastão” no X. “Um Estado terrorista cujo ato de nascimento será escrito com o sangue das vítimas do maior pogrom organizado desde a II Guerra Mundial”, disse em referência ao ataque terrorista de 7 de outubro de 2023. “Esta perspetiva é um terrível encorajamento para os terroristas islamistas e um erro imperdoável para todas as nações que lutam contra eles.” A maire de Paris, a socialista Anne Hidalgo, optou por iluminar a Torre Eiffel com as cores das bandeiras de Israel e da Palestina no domingo à noite. Mas também esta iniciativa, em claro apoio à solução dos dois Estados, recebeu críticas. O fundador da França Insubmissa, de extrema-esquerda, considerou a situação uma “estupidez terrível após dois anos de genocídio”. Concluiu Jean-Luc Mélenchon que “o PS trai toda a gente ao mesmo tempo”. . Inspirados, pelo menos com o nome do protesto francês Bloquons tout, de 10 de setembro, em Itália cumpriu-se a jornada Blocchiamo tutto. Mas se a primeira se realizou contra o plano de austeridade do primeiro-ministro Bayrou - entretanto demitido -, a segunda teve como ponto único o apoio à causa da Palestina num país cujo governo de coligação de direita e extrema-direita não prevê seguir os passos de França no que respeita à Palestina. De Milão a Palermo dezenas de milhares de pessoas tentaram parar o país. “A Itália fala mas não faz nada”, lamentava à AFP Federica Casino, manifestante entre mais de 20 mil que se reuniram junto da estação Termini em Roma. Os acessos aos portos de Génova e Livorno foram bloqueados pelos estivadores. A greve afetou os serviços de transportes públicos. Além disso houve cortes de estradas, manifestações em estações ferroviárias, universidades e marchas pelas ruas de várias cidades. Em Trieste, Bolonha e Milão registaram-se confrontos com a polícia. Ao fim da tarde contavam-se 60 polícias feridos e 10 manifestantes detidos. A primeira-ministra Giorgia Meloni arremeteu contra os manifestantes: “Indignas as imagens que chegam de Milão: autoproclamados ‘pró-palestinianos’, autoproclamados ‘antifas’, autoproclamados ‘pacifistas’ que devastam a estação e geram confrontos com as forças da ordem. Violência e destruição que nada têm a ver com a solidariedade e que não mudarão em nada a vida das pessoas em Gaza.”Hamas pede trégua a Trump O Hamas escreveu uma carta a Donald Trump, solicitando ao presidente dos Estados Unidos que garanta uma trégua de 60 dias na Faixa de Gaza em troca da libertação de metade dos reféns que mantém. A notícia foi avançada pela Fox News, que citou um funcionário da administração Trump e uma fonte envolvida nas negociações. Segundo o canal televisivo, a carta foi entregue a representantes do Qatar e será entregue a Trump em Nova Iorque. O Qatar desistiu da política de mediação para um acordo de cessar-fogo e de libertação dos restantes reféns em Gaza na sequência do bombardeamento aos dirigentes do Hamas presentes em Doha. Também na segunda-feira, as Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, divulgaram um vídeo de um refém israelo-alemão, mais tarde identificado como sendo Alon Ohel, de 24 anos. .Presidente da Autoridade Palestiniana quer que Hamas entregue armas e condena ataques de 7 outubro.França reconhece formalmente o Estado da Palestina. Marcelo diz que "amanhã teria sido tarde de mais".Hamas propõe aos EUA libertar metade dos reféns em troca de trégua de 60 dias