Daniel Chapo investido como presidente com confrontos na rua. Rangel diz que Marcelo transmite mensagem de "esperança" a Moçambique
A presidente do Conselho Constitucional investiu esta quarta-feira Daniel Chapo como quinto Presidente da República de Moçambique, em cerimónia que está a decorrer no centro de Maputo sob fortes medidas de segurança.
Chapo leu o termo de posse e prestou juramento às 11:12 locais (menos duas horas em Lisboa), perante os aplausos dos convidados.
No primeiro discurso enquanto chefe de Estado de Moçambique, logo após a cerimónia de investidura, Daniel Chapo defendeu a união no país e disse que "a estabilidade social e política é a prioridade das prioridades".
O novo presidente de Moçambique prometeu ser "não um Presidente distante, mas um filho da nação" e garantiu: "Unidos somos capazes de superar obstáculos e transformar as dificuldades em prosperidade".
O ato de investidura, salientou, "marca o início de uma nova fase de consolidação da construção da nação soberana e próspera".
A cerca de 300 metros, as forças de segurança moçambicanas dispersaram, à bastonada, dezenas de manifestantes que gritavam "Mondlane", candidato presidencial que contesta os resultados eleitorais.
Os manifestantes, organizados em diferentes grupos, gritavam ainda "Salve Moçambique" e entoavam o hino moçambicano, afirmando que pretendiam assistir à tomada de posse, mas foram impedidos pela polícia.
Paulo Rangel, que está em Maputo para participar na cerimónia, referiu aos jonalistas, à chegada à Praça da Independência para a investidura, que o Presidente de Portugal transmitiu a Moçambique uma "mensagem de esperança".
"Ele deixa uma palavra de bastante calor e de grande esperança em que Moçambique possa dar também ao seu povo condições de prosperidade cada vez maiores e melhores de forma que esta nação, que é tão jovem em idade e jovem porque tem tantos adolescentes que merecem um futuro, que é importante assistir este momento de construção desse futuro", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros português.
Rangel, que representa o Governo português na cerimónia de investidura de Daniel Chapo, destacou uma "relação forte" entre Marcelo Rebelo de Sousa e Moçambique e indicou que Portugal tem acompanhado a atualidade do país face à tensão pós-eleitoral.
"Para nós, o destino de Moçambique, o seu bem, a prosperidade e desenvolvmento são também desenvolvimento e prosperidade para Portugal", referiu.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou terça-feira Paulo Rangel de parcialidade e de "manipular" a opinião pública ao dizer que tem acompanhado o processo pós-eleitoral em Moçambique.
"Não há trabalho feito da sua parte em relação ao diálogo em Moçambique. Pelo contrário, o senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjetivos contra a minha pessoa", afirmou Venâncio Mondlane, num direto a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, dirigindo-se a Rangel.
"Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique", avisou Mondlane, saudando, contudo, a ausência da cerimónia do Presidente da República ou do primeiro-ministro de Portugal.
PR cessante pede apoio para Chapo
Daniel Chapo foi investido esta quarta-feira, em Maputo, como quinto Presidente da República de Moçambique, o primeiro nascido já depois da independência do país, numa cerimónia com cerca de 2.500 convidados e a presença de dois chefes de Estado.
Conforme previsto no programa da cerimónia, a presidente do Constitucional, Lúcia Ribeiro, recebeu os símbolos do poder pelo Presidente cessante, Filipe Nyusi, e poucos minutos depois fez a investidura de Daniel Chapo como novo Presidente da República de Moçambique.
O Presidente cessante de Moçambique, Filipe Nyusi, pediu aos moçambicanos apoio para Daniel Chapo, apontando que tem um projeto de "esperança" e vai "costurar feridas e ressentimentos" de todos os cidadãos.
"O povo moçambicano conferiu legitimidade não apenas a um novo dirigente, mas a um projeto de esperança dos moçambicanos. Será este moçambicano que nos irá abraçar a todos sem qualquer distinção, será este dirigente que saberá congregar todos os esforços na construção de um país melhor", declarou Filipe Nyusi.
Naquele que foi o seu último discurso como Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi pediu união à volta do programa de governação de Daniel Chapo, defendendo que é o caminho para assegurar o desenvolvimento do país.
"Será ele que irá costurar as feridas, soturar os ressentimentos e ajudar a encontrar tudo o que nos une na nossa caminhada coletiva (...) Aquilo que nos une é certamente maior e mais urgente do que aquilo que nos pode dividir. Daniel Chapo é a pessoa certa para proceder a esse reencontro de ideias que, sendo diversas, servem o mesmo propósito, que é unir e fortalecer a nossa nação", acrescentou Nyusi.
Ainda no seu discurso, o chefe de Estado cessante pediu a continuação diálogo político em curso entre as formações partidárias visando colocar fim à tensão pós-eleitoral, afirmando que é o caminho para a "segurança, harmonia, ordem e tranquilidade pública".
Atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo era governador da província de Inhambane quando, em maio de 2024, foi escolhido pelo Comité Central para ser candidato do partido no poder à sucessão de Filipe Nyusi, que cumpriu dois mandatos como Presidente da República.
Em 23 de dezembro, Daniel Chapo, 48 anos, foi proclamado pelo Conselho Constitucional como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, nas eleições gerais de 09 de outubro, que incluíram legislativas e para assembleias provinciais, que a Frelimo também venceu.
A cerimónia de investidura decorreu na Praça da Independência, no centro de Maputo, e arrancou, segundo o programa oficial, às 08:00 locais (menos duas horas em Lisboa), com atividades culturais, prolongando-se até às 12:20.
A eleição de Daniel Chapo tem sido contestada nas ruas desde outubro, com manifestantes pró- Venâncio Mondlane -- que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos mas que reclama vitória -- a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que já provocaram 300 mortos e mais de 600 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
Venâncio Mondlane convocou três dias de paralisação e manifestações, desde segunda-feira, contestando a tomada de posse dos deputados eleitos à Assembleia da República e a investidura do novo Presidente da República, esta quarta-feira.
Pelo menos 303 mortos e 619 baleados em manifestações
Pelo menos 303 pessoas morreram e 619 foram feridas a tiro nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo um novo balanço divulgado esta quarta-feira pela plataforma eleitoral Decide.
De acordo com o balanço daquela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, há ainda registo de pelo menos 4.228 detidos nestas manifestações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 9 de outubro.
A polícia recorreu hoje a disparos e gás lacrimogéneo para desmobilizar um grupo de manifestantes que contestava, a cerca de 300 metros do local da investidura, no centro de Maputo, a posse do Presidente da República, Daniel Chapo.
Cerca das 12:00 locais (menos duas horas em Lisboa), um grupo de algumas dezenas de manifestantes, empunhando cartazes de apoio ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, insistia em concentrar-se em frente ao Banco de Moçambique, bloqueados pela polícia.
De seguida, os manifestantes começaram a colocar pedras na via, precipitando a intervenção da polícia, com recurso a vários tiros de metralhadora e lançamento de gás lacrimogéneo, que levou à debandada momentânea dos manifestantes, alguns perdidos ao longo do percurso por agentes da Unidade de Intervenção Rápida, numa altura em que decorria a cerimónia de investidura na contígua Praça da Independência.
Poucos minutos depois, o mesmo grupo voltou a concentrar-se no mesmo local, com bandeiras de Moçambique e repetindo o protesto.
As forças de segurança moçambicanas já tinham dispersado, à bastonada, outro grupo de dezenas de manifestantes que gritavam "Mondlane", também a cerca de 300 metros do local onde o novo Presidente tomou posse, no centro da capital.
Dezenas de polícias, militares e equipas cinotécnicas impediam os manifestantes de se aproximarem da Praça da Independência.
Os manifestantes, organizados em diferentes grupos, gritavam ainda "Salve Moçambique" e entoavam o hino moçambicano, afirmando que pretendiam assistir à tomada de posse, mas foram impedidos pela polícia.
A capital moçambicana está hoje sob fortes medidas de segurança e já tinha havido outras intervenções da polícia para dispersar, com tiros, manifestantes em protesto que incendiaram pneus na estrada, à entrada do centro de Maputo, pouco antes da cerimónia de investidura de Daniel Chapo como quinto Presidente moçambicano.
Na zona do Bairro Luís Cabral, grupos de jovens começaram a incendiar pneus cerca das 09:00 locais (menos duas horas em Lisboa), cortando a N4, que liga a Matola à entrada de Maputo, levando a polícia a fazer vários disparos na tentativa de os desmobilizar.