Parlamento de Moçambique toma posse entre boicotes, protestos e apelos ao diálogo.Daniel Chapo toma posse esta quarta-feira como presidente de Moçambique, depois de umas eleições em outubro cujo resultado é contestado pela oposição e de as manifestações de protesto já terem feito 300 mortos. A cerimónia, na qual a segurança está acautelada, segundo o governo, contará com a presença de apenas dois chefes de Estado estrangeiros, o sul-africano Cyril Ramaphosa e o guineense Umaro Sissoco Embaló. Ao contrário do que aconteceu há cinco anos, na tomada de posse de Filipe Nyusi, Portugal estará representado não pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas sim pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. Sobre a presença de Venâncio Mondlane, o candidato presidencial que tem liderado os protestos pós-eleitorais, a vice-presidente da Comissão Interministerial para Grandes Eventos, Eldevina Materula, referiu na terça-feira que “esta é uma cerimónia aberta e está aberta para o candidato presidencial Venâncio Mondlane como também para a mamã do mercado”.Na segunda-feira, à margem da tomada de posse do novo Parlamento, Chapo disse esperar “que nos próximos dias possa continuar este ambiente calmo e sereno que estamos a registar na nossa capital, e em função disso se possa realmente criar condições para acontecer um ato como este que está a acontecer hoje”. Dados revelados ontem pela plataforma eleitoral Decide mostram que pelo menos seis pessoas morreram e 15 foram feridas a tiro na segunda-feira, no primeiro de três dias de manifestações convocadas por Mondlane. No total, diz a mesma ONG, já morreram 300 pessoas nos protestos pós-eleitorais desde 21 de outubro.A ONU exortou esta terça-feira as forças de segurança a absterem-se do “uso desnecessário ou desproporcionado da força” nas manifestações que antecedem a tomada de posse de Daniel Chapo. Já Venâncio Mondlane, num direto feito no Facebook, prometeu não parar com as manifestações enquanto o governo continuar a matar a população.Críticas a RangelNa mesma intervenção, o candidato presidencial acusou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, de parcialidade e de “manipular” a opinião pública ao dizer que tem acompanhado o processo pós-eleitoral em Moçambique. “Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique”, alertou Mondlane, saudando, contudo, a ausência da cerimónia do Presidente ou do primeiro-ministro de Portugal. “Mandaram a terceira linha, que é o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aliás, é um ministro que sempre se posicionou de forma muito ríspida, de forma extremamente descortês comigo, já me chamou de populista, já me chamou todo o tipo de nomes, tem tido pronunciamentos extremamente tristes em público”, criticou ainda.Acusação contra o PodemosA organização não-governamental moçambicana Centro para Democracia e Direitos Humanos submeteu esta terça-feira à Procuradoria uma denúncia sobre um suposto suborno ao presidente do Podemos, que apoiou a candidatura de Mondlane. Há uma semana, Albino Forquilha admitiu existirem divergências na “estratégia de luta” entre as duas partes, defendendo o fim das manifestações para o diálogo.A relação entre as partes ficou tensa quando o partido decidiu tomar posse no Parlamento à revelia de Mondlane, que defende que os resultados foram fraudulentos e, por isso, a tomada de posse, que foi boicotada por Renamo e MDM, era precipitada. Segundo a denúncia do CDD, Forquilha terá, supostamente, recebido uma quantia de 219 milhões de meticais (3,3 milhões de euros) para “vender a justiça eleitoral”. Ao MZNews, o porta-voz do Podemos, Duclésio Chico, afirmou que as acusações não têm fundamento. com Lusa .Forte aparato policial e ruas cortadas em Maputo antes da posse de Daniel Chapo