Filho, neto e bisneto de primeiros-ministros, Rahul Gandhi era visto como o próximo líder quando fez a sua entrada na política, em 2004. Mas, duas décadas depois, enquanto a Índia se prepara para uma maratona eleitoral que começa no próximo dia 19 e se prolonga até 1 de junho, o líder do Partido do Congresso, na oposição, entrou agora na campanha, mas tem falhado em cumprir o legado da sua família. .Outrora dominante na política indiana, o Partido do Congresso perdeu força sob a liderança de Rahul Gandhi que sofreu duas derrotas esmagadoras frente a Narendra Modi. E também foi prejudicado por vários processos criminais movidos contra ele por membros do Bharatiya Janata (BJP), o partido nacionalista hindu do primeiro-ministro Modi, incluindo uma condenação por difamação que o levou a ser suspenso do Parlamento por uma breve período no ano passado. E as perspetivas de as coisas virem a melhorar em breve, segundo os analistas, são sombrias. .Rahul tem lutado para se livrar da imagem do jovem príncipe, enquanto os seus fracos dotes oratórios têm sido quase sempre ofuscados pelo apelo populista do seu rival Modi, muito calejado na luta política. “A juventude indiana não quer uma dinastia que já vai na quinta geração [o seu trisavô Motilal Nehru, pai de Jawaharlal Nehru, foi por duas vezes presidente do Partido do Congresso ainda antes da independência]”, garantiu o historiador Ramachandra Guha, crítico feroz de Modi, depois da derrota do Congresso em 2019..No ano passado, Rahul tentou mudar a sua imagem, embarcando num périplo pelo país em que ouviu as preocupações dos eleitores comuns e procurou mostrar o seu verdadeiro “eu”. O líder do Congresso, que nunca casou, afirma que os media indianos gastaram tempo e dinheiro para o retratar de uma forma “injusta e errada” e insiste que é diferente. Mas se a sua tournée atraiu alguma atenção no início, rapidamente esmoreceu. “As pessoas continuam a achar Modi mais credível”, explicou à AFP Rahul Verma, do think-tank Centre for Policy Research em Nova Deli..Cambridge para Deli.Sem qualquer parentesco com o heroi da independência indiana, o Mahatma Gandhi, Rahul nasceu em 1970 quando a sua avó, Indira Gandhi - neta do primeiro chefe do governo da Índia independente, Jawaharlal Nehru, e que usava o apelido do marido, Feroze Gandhi - era primeira-ministra. Em 1991, quando ele tinha 20 anos, o pai, Rajiv Gandhi, foi assassinado por um bombista suicida dos Tigres Tamiles, sete anos depois de Indira ter sido assassinada pelos seus guarda-costas. Rahul, que na altura frequentava a Universidade de Harvard, desistiu então dos estudos, tendo-se mais tarde formado no Rollins College na Florida, antes de fazer o mestrado em Cambridge..Depois de uma passagem por Londres onde foi consultor empresarial, Rahul voltou para a Índia para se juntar ao Partido do Congresso - então liderado pela sua mãe, Sonia, nascida em Itália -, tendo sido eleito para o Parlamento. Apesar de no passado ter comparado o poder a um veneno, Rahul sucedeu à mãe à frente do partido em 2017. Mas até agora pouco conseguiu. .Incapaz de pronunciar um discurso em hindi sem tropeçar nas palavras, Rahul foi apelidado de “pappu”, ou “tolo”, por Modi. E o Congresso, que durante décadas após a independência dominou a política indiana, sofreu derrota atrás de derrota. Nas eleições de 2019, Rahul perdeu o seu lugar de deputado por Amethi, no Uttar Pradesh, para Smriti Irani, estrela em ascensão do BJP. E acusou o primeiro-ministro de usar “toda a maquinaria do Estado indiano” contra a oposição. .Problemas financeiros.O Congresso de Rahul faz parte de uma coligação de oposição que junta uma dúzia de partidos que vão procurar derrotar o BJP nas eleições que começam no dia 19. Mas os analistas concordam que a posição de Rahul é tudo menos invejável: o governo de Modi tem sido amplamente acusado de inclinar a balança a seu favor..Rahul foi condenado por difamação e suspenso brevemente do Parlamento após uma queixa de um membro do BJP. A sua pena de dois anos de prisão foi suspensa por um tribunal superior, mas ainda enfrenta outros processos pela mesma acusação. .E as contas bancárias do Partido do Congresso foram congeladas pelo fisco, com Rahul a dizer aos jornalistas há dias que as eleições “não são disputadas em plano de igualdade” e que a Índia já não é uma democracia funcional. “Não temos dinheiro para fazer campanha. Não podemos apoiar os nossos candidatos”, afirmou. .Uma eleições em sete fases.No próximo dia 19 de abril, a Índia dá o tiro de partido para uma maratona eleitoral que se vai desenvolver em sete fases - 19 e 26 de abri, 7, 13, 20 e 25 de maio e 1 de junho. Ao todo são 969 milhões de eleitores, em 28 estados, que vão eleger os 543 membros do Lok Sabha, a Câmara baixa do parlamento indiano (há mais dois que são nomeados). A votação vai envolver 5,5 milhões de máquinas de voto em mais de um milhão de assembleias. Ao longo desta jornada, os eleitores indianos poderão escolher entre os candidatos dos 2660 partidos políticos registados. Os resultados das eleições na que é a maior democracia do mundo deverão ser divulgados a 4 de junho.