“Putin deu um grande contributo para tornar a NATO grande outra vez”, garante Durão Barroso
Num discurso que começou em português e prosseguiu em inglês, José Manuel Durão Barroso garantiu que a última cimeira da NATO, esta semana em Haia, "foi um sucesso, com os Estados-membros a comprometerem-se com o investimento de 3,5% no núcleo da defesa, mas também com os 5% em despesas relacionadas com a segurança". Embora, o antigo presidente da Comissão Europeia admita que "sinceramente, tenha algumas dúvidas sobre como atingir esses objetivos, digamos, a médio prazo."
Na conferência de encerramento do Sister Cities Summit, em Ponta Delgada, uma iniciativa da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) que juntou autarcas de cidades geminas portuguesas e americanas nos Açores, Durão Barroso lembrou que agora que já não está na política ativa pode falar com ainda mais sinceridade. E o antigo primeiro-ministro português sublinhou que "hoje a NATO continua a ser, de longe, a aliança de defesa mais bem-sucedida da história. E devemos mantê-la, porque é do nosso interesse, sem dúvida. E quando digo 'nosso', refiro-me não só aos europeus, mas também aos norte-americanos, incluindo, claro, os Estados Unidos e o Canadá."
Lembrando que antes da invasão russa da Ucrânia, seria impensável imaginar a adesão à Aliança Atlântica da Finlândia ou da Suécia, a verdade é que esta aconteceu. "Agora, a maior fronteira que a Rússia partilha com a Europa não é com a Ucrânia, é com a Finlândia. Portanto, na verdade, o senhor Putin deu um grande contributo para tornar a NATO grande outra vez."
Para o atual presidente não-executivo do Banco Goldman Sachs International, apesar da ameaça que a guerra na Ucrânia representa para a Europa, "não podemos só olhar para Leste. Temos de considerar os riscos vindos do Sul. E temos de considerar o espaço geoatlântico. E os Açores são a melhor expressão dessa posição geoestratégica".
O antigo dirigente sublinhou também que "enganam-se os que acham que diminuiu a importância estratégica da Base das Lajes". E recordou ter sido ele, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, a assinar, há 30 anos, o acordo de cooperação e defesa com os EUA que definiu os termos de utilização da base pelas forças armadas norte-americanas.
Recordando que sempre viu a eleição de Donald Trump para um segundo mandato nos EUA como "uma oportunidade", Durão Barroso reforçou a ideia de que a Europa tem de se defender - "é altura de os europeus fazerem os seus trabalhos de casa e deixarem de culpar os outros".
Diante de uma plateia onde, além do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, e do presidente da FLAD, Nuno Morais Sarmento, também o ouviam os autarcas americanos e portuguesse, Durão Barroso rematou sublinhando que a relação entre a Europa e os EUA "não é só política e economia, são as pessoas.".