"Operação militar" da Rússia na Ucrânia em curso. Tropas entram pela Bielorrússia
Tropas russas entram na Ucrânia pela Bielorrússia. Ministros ucranianos falam em "invasão" do país. Explosões sentidas em várias cidades, incluindo a capital, Kiev.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou esta quinta-feira uma operação militar na Ucrânia para defender os separatistas "em Donbas" no leste do país.
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"Tomei a decisão por uma operação militar", declarou Putin numa mensagem de televisão inesperada pouco antes das 03h00 . Na mensagem, o mandatário russo pediu aos militares ucranianos que "deponham as armas".
Putin garantiu que o objetivo não é "a ocupação", mas sim a "desmilitarização" da Ucrânia.
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Qualquer tentativa por parte de outros países de interferir na operação militar levará a "consequências que eles nunca viram", avisou o líder russo.
A declaração televisiva de Putin foi para o ar enquanto nas Nações Unidas se discutia a resolução com vista a condenar a Rússia pelas suas ações na Ucrânia. Um documento com veto garantido, pela própria Rússia.
Houve durante a madrugada relatos de sons de explosões ouvidos em Kiev, a capital ucraniana, vindo depois a saber-se tratarem-se de ataques com mísseis a aeroportos, localizados nos arredores da cidade. Informação que é posteriormente confirmada por fonte da presidência ucraniana, que divulga à CNN fotos, incluindo a que publicamos em cima.
Tal informação revela que a operação militar russa não se limita a Donbas, como Putin anunciou, uma vez que Kiev se localiza a várias centenas de quilómetros de distância.
Correspondente da CNN ouve também o que parecem ser sons de artilharia na zona de Donetsk.
Surgiu mais tarde um vídeo de várias explosões nos arredores de Kharkiv (imagens confirmadas pela BBC).
Também jornalistas da AFP ouviram pelo menos duas explosões no centro de Kiev, logo após o anúncio de Putin. Na cidade portuária de Mariupol, a principal controlada por Kiev perto da linha de frente no leste do país, também foram ouvidas fortes explosões, confirmaram jornalistas da AFP.
Às sete da manhã (5 em Lisboa) as sirenes de aviso de ataque aéreo ouviram-se em toda a cidade de Kiev. No entanto, poderá ter-se tratado de um teste, uma vez que não houve registo de um bombardeamento, pelo menos no centro da cidade.
"Guerra premeditada"
O presidente Joe Biden reagiu poucos minutos depois em comunicado afirmado que "Putin escolheu uma guerra premeditada" e que os "Estados Unidos e os aliados "responderão de uma forma unida" com "toda a força das sanções".
"O Presidente Putin escolheu [lançar] uma guerra premeditada que vai resultar em sofrimento e perdas humanas catastróficas", declarou Joe Biden, em comunicado.
"A Rússia, e apenas ela, é responsável pela morte e pela destruição que este ataque vai provocar", insistiu, sublinhando que "o mundo vai exigir contas" a Moscovo.
Biden irá reunir-se com os chefes de estado e de governo dos G7 esta noite.
Mais tarde, Biden utiliza o Twitter para relatar que já telefonou ao seu homólogo ucraniano, tendo "condenado este ataque não provocado e injustificado" e dando-lhe garantias das "severas sanções" que serão impostas à Rússia.
President Zelenskyy reached out to me tonight and we just finished speaking. I condemned this unprovoked and unjustified attack by Russian military forces. I briefed him on the steps we are taking to rally international condemnation, including tonight at the UN Security Council.
Tomorrow, I will be meeting with the Leaders of the G7, and the United States and our Allies and partners will be imposing severe sanctions on Russia.
We will continue to provide support and assistance to Ukraine and the Ukrainian people.
Também um conselheiro do ministro da Defesa ucraniano e o ministro do Interior do país, citados pela CNN, disseram que "a invasão começou".
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, disse no Twitter taxativamente que Putin lançou uma "invasão total" da Ucrânia.
"Armas de alta precisão"
Horas mais tarde, o exército russo confirmou o início do bombardeamento de território da Ucrânia, mas garantiu que os ataques têm apenas como alvo bases aéreas ucranianas e outras áreas militares, não zonas povoadas.
Em comunicado citado pela agência noticiosa estatal russa TASS, o ministério russo da Defesa disse estar a usar "armas de alta precisão" para inutilizar a "infraestrutura militar, instalações de defesa aérea, aeródromos militares e aviação das Forças Armadas da Ucrânia".
A mesma informação tinha sido avançada pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, num vídeo publicado na rede social Telegram. "A Rússia lançou ataques contra a nossa infraestrutura militar e postos fronteiriços", disse.
Zelensky impôs a lei marcial em todo o território e apelou aos ucranianos para evitarem "o pânico" e confiar na capacidade do exército da Ucrânia para defender o país.
Presidentes de câmara apelam a cidadãos para que fiquem em casa
No início da manhã desta quinta-feira os presidentes de câmara de Kharkiv e Kiev apelam a cidadãos para que fiquem em casa.
Isto numa altura em que os sons de explosões continuavam a ser ouvidos em ondas de ataque.
Tropas russas entram pela Bielorrússia
CNN reporta ao início da manhã movimentos em larga escala de tropas russas a entrar em território ucraniano através da fronteira com a Bielorrússia.

Tanques russos a cruzar a fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia numa imagem tirada de vídeo de videovigilância divulgado pela guarda fronteiriça ucraniana.
A informação é captada diretamente por uma câmara de videovigilância da guarda fronteiriça ucraniana que transmite imagens em direto.
A Rússia tem mais de 200 mil tropas na Bielorrússia desde o dia 10 de fevereiro, oficialmente para exercícios militares que deveriam ter terminado no passado domingo. No entanto, nesse dia Putin anunciou que essas manobras iriam ser estendidas por um período indeterminado, no que foi entendido pela NATO como o prenúncio da invasão da Ucrânia.
Presidente Zelensky pede uma "coligação anti-Putin"
Já de manhã, no Twitter, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky veio pedir uma coligação internacional "anti-Putin", no que passaria por encerrar totalmente o espaço aéreo com a Rússia, além das sanções já previstas, bem como fornecer ajuda financeira à Ucrânia.
NATO condena
O secretário-geral da NATO. Jens Stoltenberg, condenou já o "ataque irresponsável" que "põe em risco inúmeras vidas civis".
"Esta é uma grave violação do direito internacional e e uma séria ameaça à segurança euro-atlântica", escreve ainda o líder da NATO, que anuncia uma reunião doa aliados sobre esta "agressão".
Também o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, utilizou o Twitter para declarar que já tinha falado com o presidente Zelenskyy e que "o Reino Unido e os seus aliados irão responder de forma decisiva" àquilo que chamou "caminho de sangue e destruição" escolhido por Putin.
Borrell: "Horas negras"
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, utilizou igualmente o Twitter para classificar a situação na Ucrânia como um período de "horas negras".
"Vamos chamar o Kremlin à responsabilidade". disse.
Exatamente a mesma mensagem foi partilhada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Costa também condena
Já de manhã, pouca antes das 6h00, o primeiro-ministro português, António Costa, veio para o Twitter dizer que condena "veementemente a ação militar da Rússia à Ucrânia".
Na mesma publicação, fica-se a saber que o chefe de governo solicitou "ao senhor Presidente da República reunião urgente do Conselho Superior de Defesa Nacional".
Tal como Marcelo Rebelo de Sousa já anteriormente tinha afirmado, qualquer deslocação de forças militares portuguesas fora do programado só poderá acontecer (exceto em caso de emergência) após audição daquele conselho.
Com Susete Henriques