Primeira viagem oficial de Rubio passa por cinco países da América Central. E começa no Panamá
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, inicia este sábado a sua primeira viagem oficial ao estrangeiro. O país escolhido não é um dos grandes aliados, como é tradicional (Antony Blinken foi até ao Japão), mas o Panamá, cujo canal o presidente Donald Trump quer voltar a ver controlado pelos EUA.
O Departamento de Estado revelou na sexta-feira que a viagem inaugural de Rubio, filho de cubanos que deixaram a ilha ainda antes da revolução de Fidel Castro, passará por cinco países da América Central: Panamá, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana. A viagem começa este sábado e termina na quinta-feira, dia 6 de fevereiro.
"Os encontros do secretário Rubio com altos funcionários e líderes empresariais promoverão a cooperação regional nos nossos principais interesses partilhados: impedir a migração ilegal e em grande escala, combater o flagelo das organizações criminosas transnacionais e dos traficantes de droga, combater a China e aprofundar as parcerias económicas para aumentar a prosperidade no nosso hemisfério", segundo o comunicado.
Panamá
Ainda antes de chegar à Casa Branca, Trump deixou claro que os EUA queriam recuperar o controlo do Canal do Panamá (que ajudaram a construir e cederam em 1999), criticando a crescente influência da China na gestão desta passagem essencial entre o Atlântico e o Pacífico.
"Estão em todo o Panamá", disse Rubio das empresas, infraestruturas e investimentos chineses em ambos os lados do canal, com os EUA a temer que esta rota possa ficar vulnerável a Pequim – nomeadamente na eventualidade de um conflito com Taiwan.
"Se, num conflito, o governo na China lhes disser para fecharem o Canal do Panamá, terão que o fazer", disse Rubio, numa entrevista à jornalista Megyn Kelly da SiriusXM. "Não tenho dúvidas de que têm um plano de contingência para o fazer, o que é uma ameaça direta”, acrescentou, na véspera da visita.
Na quinta-feira, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, disse que não haverá qualquer negociação com os EUA sobre o canal, confiante de que a visita se vai centrar na discussão de interesses partilhados, como a imigração ou o combate ao tráfico de droga. "O canal pertence ao Panamá", insistiu, mas Rubio deixou claro que irá abordar esta questão.
El Salvador
A segunda paragem na viagem de Rubio será em El Salvador, com quem a Bloomberg disse há dias que Trump quer chegar a acordo para a deportação de membros do gangue venezuelano Tren de Aragua (que declarou como grupo terrorista).
Este gangue, que na anterior Administração tinha sido classificado de "organização criminosa transnacional", foi um dos principais alvos dos raides que têm acontecido nos EUA. O Tren de Aragua, que nasceu nas prisões venezuelanas mas já tem tentáculos em vários países, é acusado de tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro e tráfico de droga, além de violência.
Rubio poderá também falar da ideia de "terceiro país seguro" para receber migrantes, com El Salvador a ser um dos que está a ser considerado.
O pesidente salvadorenho, Nayib Bukele, tem-se posicionado como um aliado de Trump, tendo estado presente na sua tomada de posse, a 20 de janeiro. Para os norte-americanos, Bukele é considerado um exemplo pela sua guerra contra os grupos criminosos – tendo mandado construir uma mega prisão para lidar com os gangues.
Costa Rica
A agenda de Rubio na Costa Rica também deverá focar-se em questões de imigração, de segurança nacional e regional, assim como na luta contra o tráfico de droga e o terrorismo.
Segundo o chefe da diplomacia costa-riquenho, Arnoldo André, citado pelo jornal The Tico Times, as discussões bilaterais abrangerão também a implementação da rede 5G, a cibersegurança, as relações comerciais e de investimento e a cooperação nas áreas cultural, técnica e académica.
O presidente Rodrigo Chaves, um economista de centro-direita, disse antes da visita de Rubio que espera que os países mantenham termos amigáveis. Mas que acredita que a nova relação seja mais sobre troca de favores do que “questões mais altruístas, como a democracia”, disse, citado pelo mesmo jornal.
Guatemala
Tal como El Salvador, a Guatemala é outro dos países que poderá ser considerado um "terceiro país seguro", com os seus responsáveis a dizer logo em dezembro que aceitariam receber migrantes deportados dos EUA, mesmo de outras nacionalidades da América Central.
A Guatemala foi o primeiro país a aceitar os voos militares com migrantes ilegais que Trump enviou para a região, ainda antes de a Colômbia ter proibido estes aparelhos de aterrarem (só para recuar, horas depois, diante da ameaça de eventuais tarifas de 50% sobre os seus produtos).
O presidente de centro-esquerda, Bernardo Arévalo, eleito numa plataforma anticorrupção, contou com a ajuda da anterior administração de Joe Biden para conseguir tomar posse, enfrentando contestação interna que adiou a cerimónia durante várias horas.
República Dominicana
O último destino de Rubio será a República Dominicana, um aliado dos EUA que tem também uma forte política anti-imigração – que tem como alvo os vizinhos haitianos. O presidente Luis Abinader fechou todas as fronteiras com o país com quem a República Dominicana divide a ilha Hispaniola, tendo sido reeleito com a promessa de manter essa política.
Falando da visita de Rubio, Abinader enfatizou a sua importância para o reforço dos laços políticos, económicos e de cooperação entre os dois países.