Presidente do Parlamento Europeu defende "embargo total" ao petróleo, gás e carvão russos

Roberta Metsola criticou que a União Europeia tenha "ignorado todos os sinais" e se tenha tornado "demasiado dependente do Kremlin" devido à dependência energética europeia face aos fornecedores russos.
Publicado a
Atualizado a

A presidente do Parlamento Europeu (PE), Roberta Metsola, defende um "embargo total" pela União Europeia (UE) ao petróleo, gás e carvão russo, devido à guerra na Ucrânia, considerando que o apoio europeu a Kiev "ainda não é suficiente".

"Fomos a primeira instituição a começar a falar sobre um levantamento dos bancos russos [a sancionar] e depois, é claro, chegando ao ponto de dizer que precisamos de avançar com um embargo total ao petróleo, gás e carvão", vinca Roberta Metsola, em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.

Prestes a completar 100 dias no cargo, a presidente do Parlamento Europeu salienta à Lusa que "a democracia não tem preço", criticando que a UE tenha "ignorado todos os sinais" e se tenha tornado "demasiado dependente do Kremlin" devido à dependência energética europeia face aos fornecedores russos.

"O que já fizemos [em termos de sanções aprovadas contra Moscovo] está a aproximar-se bastante de um embargo total ao carvão e o petróleo é uma situação diferente no sentido de como o fazemos", afirma Roberta Metsola, quando questionada se a UE está em condições de avançar com esse veto.

Por seu lado, "quando olhamos para a dependência do gás russo, cada país [europeu] tem a sua própria realidade individual e precisamos de reconhecer isso, mas a menos que digamos que o objetivo final tem de ser a dependência zero da Rússia em relação ao gás, então nunca o conseguiremos", adverte a presidente da assembleia europeia.

E vinca: "Agora é o momento de o dizer porque já ficou provado [...] que, neste momento, não se pode ter um interlocutor como a Rússia".

Em meados de abril, o Conselho da UE adotou o quinto pacote de sanções à Rússia pela sua contínua agressão militar contra a Ucrânia e "atrocidades" cometidas pelo exército russo, que incluiu a proibição de importação de carvão e novas limitações aos bancos russos.

A aprovação surgiu após a Comissão Europeia ter proposto uma proibição de importação pela UE de carvão russo, que vale à Rússia quatro mil milhões de euros por ano, e de ter admitido sanções adicionais a serem tomadas, incluindo sobre importações de petróleo.

A Rússia é responsável por cerca de 45% das importações de gás da UE, bem como por cerca de 25% das importações de petróleo e por 45% das importações de carvão europeias.

Em média, na UE, os combustíveis fósseis (como gás e petróleo) têm um peso de 35%, contra 39% das energias renováveis, mas isso não acontece em todos os Estados-membros, dadas as diferenças entre o cabaz energético de cada um dos 27 Estados-membros, com alguns mais dependentes do que outros.

"A Ucrânia está essencialmente a combater a nossa guerra, está a combater uma invasão brutal de um país que tem um regime autocrático e que decidiu questionar a integridade territorial e a soberania de um país que olha para a Europa como a sua casa [...] e, portanto, se não nos esquecermos disso, então o nosso apoio à Ucrânia pode continuar a ser tão forte como unido, tão vocal e tão corajoso como tem sido até agora", diz ainda Roberta Metsola à Lusa.

Após ter estado em Kiev no final de março para se reunir com dirigentes ucranianos, a primeira líder de uma instituição europeia a fazê-lo, a responsável admite que a resposta dada pela UE "absolutamente que não é suficiente".

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, considera em entrevista à Lusa que "o pior erro" da União Europeia (UE) seria "não abrir a porta aos ucranianos", após a solicitação da Ucrânia para aderir ao bloco comunitário.

"O pior erro que a UE poderia cometer seria o de enviar a mensagem de que, numa altura em que os ucranianos olham para a Europa como a sua casa, a Europa não lhes abre a porta", diz Roberta Metsola à agência Lusa, em Bruxelas, um dia antes de completar 100 dias no cargo.

"Penso que ainda não o fizemos e que tem sido espantoso o que temos feito em todas as instituições, com abertura para iniciar o processo, mas também sei que o próximo passo deve acontecer muito rapidamente", acrescenta, numa alusão à discussão sobre a atribuição de estatuto de candidato à Ucrânia, país que enfrenta um confronto armado causado pela invasão russa.

Ressalvando que "todos os processos de alargamento têm sido sempre desafiantes" e que "cada país tem o seu próprio caminho", Roberta Metsola assinala que, no caso da Ucrânia, "a assistência de pré-adesão poderia realmente enviar uma mensagem de que a UE está a falar a sério, que não se trata apenas de retórica" relativamente a uma eventual futura adesão.

"E quando dizemos que saudamos o estatuto de candidato, saudamos o estatuto de candidato de um país onde 97% da população quer aderir, como o Presidente Zelensky me disse", afirma a líder da assembleia europeia à Lusa.

Para Roberta Metsola, "muito pode ser feito de forma tangível no momento presente", por exemplo em termos de "acordos comerciais, acordo de aviação, acordos de transporte", entre outros, para "aumentar as relações económicas" entre Bruxelas e Kiev.

"Estes são exemplos tangíveis para a UE demonstrar que está a falar a sério quando se trata de reconstruir a Ucrânia [...]. É isso que a Ucrânia quer ouvir e é isso que devemos dizer", adianta.

A Ucrânia já entregou a sua resposta formal ao questionário da Comissão Europeia sobre uma eventual adesão à UE, que foi dada em 10 dias.

Cabe agora ao executivo comunitário analisar as respostas ucranianas, num processo normalmente moroso, mas que deverá ocorrer "em semanas", como prometido pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Num Conselho Europeu de meados de março, os líderes da UE incumbiram a Comissão de elaborar um relatório sobre o cumprimento dos critérios de adesão pela Ucrânia.

Os chefes de Governo e de Estado da UE não acordaram, porém, sobre a atribuição à Ucrânia do estatuto de país candidato quando Bruxelas concluir o seu relatório, uma decisão que requer a unanimidade entre os 27.

As regras europeias ditam que qualquer país europeu que respeite os valores comunitários -- como a existência de instituições que garantam a democracia e uma economia de mercado -- e esteja empenhado em promovê-los pode pedir para se tornar membro.

Quando um país apresenta um pedido de adesão à UE, o Conselho convida a Comissão a dar o seu parecer sobre o pedido.

Volodymyr Zelensky assinou, a 28 de fevereiro, o pedido formal a Bruxelas da adesão da Ucrânia à UE.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

Roberta Metsola foi eleita, em meados de janeiro passado, presidente do Parlamento Europeu na segunda metade da atual legislatura, até à constituição da nova assembleia após as eleições europeias de 2024.

Aos 43 anos, Roberta Metsola é a presidente mais jovem do Parlamento Europeu, após ter chegado a eurodeputada em 2013, pelo Partido Popular Europeu.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt