O secretário de Estado das Comunidades, Emídio Sousa, cumprimenta portugueses repatriados de Israel, após chegarem em voo da TAP ao aeródromo de Figo Maduro, na quinta-feira, 19 de junho.
O secretário de Estado das Comunidades, Emídio Sousa, cumprimenta portugueses repatriados de Israel, após chegarem em voo da TAP ao aeródromo de Figo Maduro, na quinta-feira, 19 de junho.EPA/RODRIGO ANTUNES

Português que luta por tirar família de Gaza queixa-se de que Portugal "até um cão resgatou (e bem)" de Israel

João Tomás Bossa, que é casado com uma luxemburguesa de origem palestiniana, tenta há quase dois anos retirar 20 familiares do enclave.
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O português João Tomás Bossa, que há dois anos luta para conseguir tirar 20 familiares da Faixa de Gaza, queixa-se da dualidade de critérios do Governo português, que na operação de repatriamento de Israel até um cão resgatou.

"Destaco que (e bem) até um cão foi resgatado e, enquanto isso, o MNE opta por nada fazer em relação aos meus 20 familiares", indicou ao DN, que há mais de um ano contou a história deste português residente no Luxemburgo e casado com uma palestiniana que tem pressionado o Governo para conseguir que os seus familiares sejam retirados do enclave palestiniano. Em dezembro de 2023, o governo português ajudou a resgatar a sua sogra.

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"Para além dos 48 portugueses, foram também (e bem) repatriados para Lisboa 21 cidadãos não portugueses, entre os quais alguns da Ucrânia, Israel e Argentina", indicou João Tomás Bossa, que disse ter "congratulado" o Governo português por este gesto.

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"Para estes cidadãos fora da UE e um cão (e bem) o MNE teve enquadramento legal num espaço de dias, enquanto eu luto diariamente e há quase dois anos e não tenho sequer uma postura decente e humana por parte do MNE", acrescentou o português, que tem repetido os apelos a sucessivos governos, sem sucesso.

"A vida dos meus familiares parece valer menos do que a vida do tal cão e de todos aqueles que foram salvos. Esta discriminação e preconceito, sinal de total cumplicidade com a vontade de Israel de matar a minha família, é inadmissível e é uma violação de todas as leis humanitárias vigentes em Portugal", afirmou.

Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros disse ao DN que havia várias nacionalidades no voo porque "os não portugueses eram maioritariamente familiares dos cidadãos nacionais".

Em relação ao caso dos familiares de João Tomás Bossa, indicou que "não há qualquer comentário a fazer sobre esse caso".

Em dezembro do ano passado, numa Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, o ministro Paulo Rangel "esclareceu que o Estado português aplica critérios rigorosos para o resgate de cidadãos, considerando apenas familiares diretos de portugueses, como ascendentes, descendentes de primeiro grau e cônjuges" e que no caso de João Tomás Bossa isso não é possível pois a esposa, cidadã luxemburguesa, não detém ligação a Portugal.

O ministro "reforçou que o Estado português não pode assumir responsabilidades que competiam a outros, como o Estado luxemburguês, e que operações de resgate exigiam critérios claros e colaboração com Israel e Egito. Além disso, destacou que não pode haver uma lista interminável de pessoas a resgatar, pois isso comprometeria a eficácia e a segurança das operações, que devem respeitar normas internacionais".

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