Uma nova polémica está lançada em Espanha entre o Governo liderado pelos socialistas e a oposição, depois de o Partido Popular (PP), a partir de uma proposta inicial do Vox, ter na prática proibido as celebrações muçulmanas (mas também as de qualquer outra religião) nas instalações desportivas municipais de Jumilla (Múrcia). O PSOE lamenta que se “alimente o racismo e a xenofobia” e se violem “os valores fundamentais da Constituição”, com o PP a dizer que quem está a “polarizar” a situação são os socialistas.A proposta inicial do Vox, sobre a defesa dos usos e costumes do povo espanhol frente a práticas culturais estrangeiras, era proibir todas as celebrações muçulmanas no município de 27 mil habitantes. O PP modificou essa proposta, de forma a apenas impedir a realização de atos religiosos nas instalações desportivas municipais - que foram usadas, no passado, pela comunidade muçulmana para a festa do final do Ramadão ou a Festa do Sacrifício. O texto final acabou por ser aprovado com os dez votos a favor do PP, a abstenção do Vox e a rejeição do PSOE e da restante esquerda.O texto foi aprovado a 28 de julho, mas a polémica só surgiu na quarta-feira, depois de o Vox Múrcia se ter congratulado, nas suas redes sociais, de ter ajudado a “aprovar a primeira medida em Espanha que impede a celebração de festas islâmicas em espaços públicos”. O Governo considera a proposta “racista” e “inconstitucional”, segundo fontes ouvidas pela Europa Press, tendo outras fontes dito à EFE que vão “seguir de perto” possíveis discursos de ódio. “Em Espanha, a liberdade religiosa é reconhecida e protegida como um direito fundamental pela Constituição”, lembraram à Europa Press, considerando a proposta aprovada em Jumilla como “um novo exemplo da deriva extremista” dos “governos da direita com a extrema-direita”. Nesta localidade em Múrcia, o PP governa com o apoio do Vox. O PP nega qualquer racismo, alegando que foi feito um aproveitamento político da portaria que regula as instalações desportivas da localidade “sem vetos ou proibições a ninguém em razão da sua origem religiosa”. A principal formação política da oposição definiu-se também como “o partido da liberdade” e o “partido constitucionalista”, procurando também afastar-se do Vox (lembrando que a extrema-direita não votou a favor, mas absteve-se do texto). O secretário adjunto da Educação e Igualdade do PP, Jaime de los Santos, disse que o seu partido nunca apontará o dedo a ninguém por aquilo em que acredita ou reza. E acusou o PSOE e o Vox de quererem usar esta situação para “tentarem continuar a polarizar” os espanhóis. A decisão em Jumilla surge depois dos protestos violentos em Torre Pacheco, também em Múrcia, na sequência de uma agressão a um idoso local alegadamente por parte de três imigrantes magrebinos. .Espanha. Extrema-direita aproveita agressão a idoso para lançar “caça aos imigrantes” em Torre Pacheco.A comunidade muçulmana de Jumilla está em choque pela proibição dos festejos no pavilhão desportivo, lamentando que não tenha havido diálogo. Os próprios bispos espanhóis uniram-se em repúdio contra a medida, lembrando que a Constituição espanhola prevê liberdade religiosa e de culto. “É uma discriminação que não pode existir em democracia”, indicaram.