Polícia investiga o crime
Polícia investiga o crimeINA FASSBENDER / AFP

Polícia detém suspeito de ataque na Alemanha reivindicado pelo Estado Islâmico

Autoridades alemãs não excluíam tratar-se de terrorismo, apesar de os crimes com armas brancas estarem a aumentar no país. No início do mês, governo de Scholz prometeu mudar a legislação.
Publicado a
Atualizado a

O suspeito do ataque que matou três pessoas num festival em Solingen, na Alemanha, entregou-se este sábado às autoridades alemãs, segundo a revista Spiegel. O ataque de sexta-feira à noite foi reivindicado pelo Estado Islâmico. 

Segundo um comunicado divulgado pela agência de notícias Amaq, o ataque foi uma ação de “vingança pelos muçulmanos na Palestina e em todo o lado”.

A polícia alemã deteve este sábado à noite um homem num centro de refugiados na cidade, sem esclarecer se era ou não o suspeito do ataque, horas depois de prender um jovem de 15 anos que alegadamente sabia do plano e nada fez.

"O homem que procurámos durante todo o dia foi preso", disse o ministro do Interior da região da Renânia do Norte-Vestfália, Herbert Reul, na televisão pública. "Estou um pouco aliviado", acrescentou.

O ministro não especificar se o suspeito era a pessoa detida no centro de refugiados. Segundo a Spiegel, o suspeito entregou-se a um carro patrulha e tinha as roupas sujas e cobertas de sangue. A revista identificou-o como um refugiado sírio de 26 anos. 

Reul disse que os investigadores tinham "elementos de prova" contra o suspeito. 

Já este domingo, num comunicado conjunto com o Ministério Público, a polícia de Dusseldorf informou que o homem, um sírio de 26 anos, "declarou ser o responsável pelo ataque". 

"O envolvimento desta pessoa no crime está atualmente a ser intensamente investigado", é referido na mesma nota.

O vice-chanceler alemão, Robert Habeck, por seu lado, disse pretender endurecer a lei sobre o porte de armas brancas.

"Ataque brutal"

“O brutal ataque realizado durante o festival da cidade de Solingen transtornou-nos profundamente”, escreveu a ministra do Interior alemã, a social-democrata Nancy Faeser, no X, dizendo que as autoridades estavam a fazer tudo “para deter o autor do ataque e determinar as suas motivações”. O chanceler alemão, Olaf Scholz, escreveu na mesma rede social: “O autor do crime deve ser capturado rapidamente e punido com todo o rigor da lei.”

O suspeito matou três pessoas (dois homens de 56 e 67 anos e uma mulher de 56) e feriu outras oito, quatro delas com gravidade, no Festival da Diversidade (um dos eventos para assinalar os 650 anos de Solingen). Desde o início que as autoridades não excluíam que o motivo fosse terrorismo, apesar do aumento dos crimes com facas no país.

“Não conseguimos identificar um motivo por enquanto, mas tendo em conta todas as circunstâncias, estamos a trabalhar sob a suspeita inicial de que um motivo terrorista não pode ser excluído”, disse o procurador de Düsseldorf, Markus Caspers. O atacante terá visado os pescoços das vítimas, “perfeitos desconhecidos que não tinham ligação conhecida entre elas”. Várias facas foram encontradas no local e a polícia estavam a ver se alguma delas ou várias foram usadas.

O jovem que foi detido terá sido visto a discutir com o alegado suspeito. Este sábado ainda não era claro se o autor do ataque seria o detido no centro de refugiados. A polícia só revelou ter feito uma operação no local e realizado uma detenção, sem dar mais pormenores ou revelar a ligação ao ataque. Segundo o comunicado do Estado Islâmico, o seu “soldado” visou um “encontro cristão” para “vingar os muçulmanos”.

Crimes com facas aumentam

Segundo as estatísticas, em 2023 houve 8951 ataques com facas que causaram ferimentos graves, o que representou um aumento de 9,7% em relação a 2022. A Polícia Federal, responsável pela vigilância nos aeroportos e principais estações ferroviárias da Alemanha, registou também um aumento significativo de ataques com armas brancas em redor destes últimos locais, contabilizando 430 só nos primeiros seis meses deste ano, segundo dados citados pela Deutsche Welle.

Estes números levaram a ministra do Interior a prometer, no início do mês, alterar a legislação de forma a que apenas lâminas de seis centímetros possam ser carregadas em público, em vez dos atuais 12 centímetros. Uma exceção seria feita para facas de cozinha na embalagem original, sendo que os canivetes seriam totalmente proibidos.

“Facas são usadas para cometer atos brutais de violência que podem causar ferimentos graves ou morte”, disse Faeser há duas semanas. “Precisamos de leis de armas mais duras e controlos mais rigorosos.” Mas os especialistas põem em causa os números, alegando que só começaram a ser recolhidos desde 2021 e que incluem ataques ou ameaças com facas, além de que questionam a validade de proibir o porte deste tipo de armas, já que isso não irá travar quem estiver a pensar cometer o crime.

Um dos casos mais graves de ataques com faca este ano ocorreu em maio, num evento da extrema-direita em Mannheim. Um polícia morreu e cinco pessoas ficaram feridas no ataque, travado quando as autoridades dispararam contra o atacante, um refugiado afegão, que sobreviveu. Em julho, uma das co-líderes do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, alegou que tinha havido “mais de 15 mil” ataques com facas em 2023, acusando jovens imigrantes de serem os principais responsáveis. A AfD está em campanha para as três eleições regionais do próximo mês: Turíngia, Saxónia e Brandemburgo.

Notícia atualizada às 23.30 com a confirmação da detenção do suspeito

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt