Partidos da oposição abertos ao diálogo para um pacto social em Moçambique
Quatro partidos da oposição moçambicana manifestaram-se esta segunda-feira abertos, após um novo encontro com o presidente, a prosseguir um diálogo para um pacto social que conduza a reformas no país, face à tensão pós-eleitoral. Filipe Nyusi, por seu turno, afastou uma eventual mediação estrangeira para ultrapassar esta crise, defendendo um diálogo e soluções locais sem “esquemas, arranjos e interesses”.
“Ao longo deste diálogo interno, [os partidos] assumiram que vão continuar a dialogar com o único objetivo, de uma forma coletiva, de assumirem um compromisso político para as reformas no país, pois há necessidade de estabelecer um novo pacto social para mudar Moçambique e isso passa necessariamente pelas reformas”, declarou o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, na apresentação de um comunicado conjunto dos dirigentes dos quatro partidos - Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o Partido para o Desenvolvimento Optimista de Moçambique (Podemos), a Nova Democracia (ND) e o MDM - que estiveram reunidos com o presidente moçambicano.
Após o encontro com Nyusi, a Renamo, o Podemos, a ND (o único que não terá representação parlamentar) e o MDM reafirmaram não reconhecer os resultados eleitorais proclamados pelo Conselho Constitucional, prometendo na próxima semana novos desenvolvimentos do que chamaram de “diálogo interno” entre os quatro partidos.
“Vamos continuar a dialogar”, declarou Lutero Simango, indicando que o modelo do diálogo entre as quatro formações políticas será anunciado dentro de sete dias. “Faremos tudo para o bem-estar dos moçambicanos”, concluiu.
O Conselho Constitucional (CC) proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de outubro.
Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes apoiantes do candidato presidencial independente Venâncio Mondlane - que obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização. Pelo menos 175 pessoas morreram na última semana de manifestações pós-eleitorais, elevando para 277 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 586 baleados, segundo novo balanço da plataforma eleitoral Decide.
Na sequência da reunião, o presidente moçambicano afastou uma eventual mediação estrangeira para ultrapassar a tensão pós-eleitoral no país, defendendo um diálogo e soluções locais sem “esquemas, arranjos e interesses”. Na semana passada, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, tinha reafirmado o compromisso organização em trabalhar com o governo moçambicano e as partes interessadas, bem como com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, para acabar com a violência e salvaguardar a democracia no país.
“Acreditamos na nossa capacidade, porque quando o assunto é tratado por nós mesmos é um assunto que nos permite uma solução sem esquemas, sem arranjos, sem interesses (...) Não há pessoas pequenas, não há partidos pequenos, Moçambique é de todos e temos que estar em condições de carregar todas as sensibilidades”, declarou Filipe Nyusi.
“As soluções para Moçambique só podem ser encontradas por nós moçambicanos. Podemos ter aqueles que vão nos facilitar, podem apoiar-nos, como já tivemos casos anteriores que nos assistiram, mas as soluções mais complexas, que duraram anos e anos, foram encontradas por nós mesmo, moçambicanos”, prosseguiu o chefe do Estado, insistindo que o diálogo é o caminho. “Se nós quisermos a forma de exclusão não vamos conseguir resolver os problemas, quando há problemas e, quando somos todos nós, saímos mais triunfantes”, acrescentou.
com Lusa