A nova presidente da Assembleia da República de Moçambique defendeu esta segunda-feira um parlamento “dialogante e inclusivo” nos esforços para travar a crise pós-eleitoral em Moçambique. Um apelo que não foi ouvido pelos deputados da Renamo e do MDM, que boicotaram a cerimónia de tomada de posse. “Vamos ter de optar por um sistema de inclusão participativa, onde todos os deputados, independentemente das suas cores políticas, estejam unidos em torno daquilo que são as aspirações dos moçambicanos”, declarou Margarida Talapa, momentos antes de ser oficialmente eleita. “O que nós temos de fazer é apostar no diálogo e na participação ativa de todos os parlamentares. Trazendo aquilo que são as aspirações da sociedade moçambicana e naturalmente resolvemos os conflitos que temos. As nossas diferenças não podem impedir o desenvolvimento deste país”, prosseguiu a ex-ministra da Segurança Social.A Assembleia da República de Moçambique empossou esta segunda-feira os deputados eleitos à X legislatura, mas dois dos partidos, Renamo e Movimento Democrático de Moçambique (MDM), boicotaram a cerimónia, contestando o processo eleitoral. Esta segunda-feira também tiveram início os três dias de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane no âmbito da contestação aos resultados das eleições gerais de outubro. Segundo a Deutsche Welle, centenas de jovens saíram à rua em vários bairros de Maputo para protestar contra a investidura dos deputados. Um dos locais destes protestos foi a Praça dos Combatentes, de onde acabaram expulsos com disparos de balas reais e gás lacrimogéneo por parte da polícia, refere ainda a DW.No total, dos 250 deputados que compõem o novo Parlamento, estavam presentes na cerimónia de ontem 210 eleitos, 171 da Frelimo e 39 do Podemos, partido até agora extraparlamentar e que apoiou a candidatura de Mondlane, passando a ser o maior da oposição, com 43 deputados. E, contrariando o pedido do candidato presidencial, a direção do Podemos, que ganhou popularidade após o acordo político com Mondlane, decidiu tomar posse, embora tenham faltado quatro deputados. “Nós entendemos que tomar posse nos garante a legitimidade política para continuarmos esta luta do povo (...) Como bancada parlamentar do Podemos, nós somos a bancada do nosso candidato Venâncio Mondlane. Não há dúvidas que nós fomos eleitos devido a esta aliança política. Não há e não entendo que haja uma rutura”, disse à Lusa Ivandro Massingue, porta-voz da bancada do Podemos.Presente esteve também Daniel Chapo, secretário-geral da Frelimo e presidente eleito de Moçambique, e que apontou a necessidade de manter a paz e a estabilidade no país, pedindo a colaboração do novo Parlamento na sua governação. “O apelo que eu queria aproveitar para fazer (...) é realmente a necessidade de mantermos a paz, a estabilidade social, económica, política ao nível do nosso país, de forma que possamos continuar a desenvolver o nosso país”, afirmou Daniel Chapo. “Espero uma excelente colaboração [com o novo Parlamento]. Como sabe muito bem para além do partido Frelimo temos também o Podemos, vamos ter a Renamo, o MDM, todos estes partidos ou bancadas parlamentares representam os anseios dos moçambicanos. Daí que é muito importante haver um debate aberto, franco ao nível deste órgão”, disse ainda o presidente eleito, que toma posse quarta-feira, numa cerimónia na qual Portugal estará representada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e não o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou ontem o Palácio de Belém.Também referindo que o Parlamento moçambicano deve contribuir na busca de soluções para pôr fim à crise pós-eleitoral, o antigo presidente Joaquim Chissano reconheceu esta segunda-feira, porém, que há muitas coisas que não estão bem” no país. “Penso que há muita coisa a discutir, há muitas coisas que não estão bem no país, todos sabemos disso, então é preciso encontrar formas de encontrar soluções. Todo o debate deve ser à busca de soluções, recriminação ou não recriminação são táticas, mas devem-se buscar soluções”, disse Chissano. com Lusa