França e Alemanha, o tradicional eixo da Europa, anunciaram à vez que vão atingir a meta fixada pelos países membros da NATO de gastar pelo menos 2% do Produto Interno Bruto na Defesa. O aumento das despesas está em linha com o de outros Estados -- Portugal excluído --, como foi destacado pelo secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, ao reunir-se com os ministros da Defesa em Bruxelas, e que contou com a presença da embaixadora dos EUA naquela organização, Julianne Smith, e com o alto representante da UE, Josep Borrell..“Acelerámos o trabalho de dotação de recursos para os nossos novos planos de defesa e de reforço da nossa base industrial de defesa transatlântica. Ainda temos um caminho a percorrer, mas já alcançámos um progresso histórico”, saudou o dirigente norueguês, no final da reunião, que incluiu o Conselho NATO-Ucrânia, com a participação, por videoconferência, do ministro ucraniano Rustan Umerov..O tema principal da reunião esteve nas bocas do mundo depois de o ex-presidente Donald Trump ter comentado, num comício da sua campanha para as primárias republicanas, que iria “encorajar” a Rússia a invadir os países que “não pagam as dívidas”, a forma do candidato se referir aos Estados que não cumprem o compromisso de investimento na defesa, acordado em 2014 na sequência da anexação da Crimeia por parte da Rússia. .Na segunda-feira, de visita a uma nova fábrica de munições na Baixa Saxónia, o chanceler Olaf Scholz já tinha reiterado o compromisso de o seu país atingir os 2% do PIB em despesas de Defesa, mas não havia falado em datas. Em 2023, o orçamento para a Defesa de Berlim foi de 1,57%. Na véspera da reunião da NATO, um porta-voz do Ministério da Defesa revelou que em 2024 a percentagem do PIB para a Defesa é de 2,01%, ou 68,5 mil milhões de euros..Dos cem mil milhões de euros que Scholz anunciara investir, há dois anos, 70% estão reservados para a aquisição de material norte-americano, os caças F-35 e os helicópteros Chinook. .Já na quinta-feira foi a vez do ministro francês Sébastien Lecornu confirmar que o seu país também cumprirá a meta este ano. Um objetivo mais fácil de alcançar, uma vez que representa, na prática, um aumento de uma décima percentual em relação a 2023..A programação militar francesa prevê que a maior fatia de despesas até 2030 vá para a aquisição de novas ogivas nucleares, mísseis, submarinos e aviões de caça Rafale, num total de 430 mil milhões de euros até 2030, ano em que duplicará o orçamento militar em relação a 2019..Na véspera de Emmanuel Macron receber Volodymyr Zelensky para assinarem um acordo bilateral de segurança, o ministro Lecornu confirmou que neste ano Paris irá enviar para Kiev mais 78 obuses Caesar..Antes da reunião, Stoltenberg já havia anunciado esperar que 18 dos 31 aliados gastem pelo menos 2% do seu PIB em Defesa em 2024 -- com a Polónia no topo, 4% --, o que irá fazer com que globalmente corresponda à mesma percentagem do PIB total. Há dez anos, apenas a Grécia, EUA e Reino Unido superavam aquela marca..A despesa em Defesa é a que está inscrita no Orçamento do Estado de cada país e inclui o soldo às forças armadas no ativo, mas também as pensões dos veteranos, a aquisição de armamento e munições e a investigação no domínio militar. Além disso, há a despesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte, nada menos do que 3,3 mil milhões de euros por ano. Esta é dividida por todos os aliados com base nos rendimentos de cada país, embora a fórmula tenha sido ajustada durante a presidência de Trump e hoje Estados Unidos e Alemanha contribuem cada qual com cerca de 16% do orçamento da NATO..No quartel-general da aliança, a produção de armas e munições foi também tema de debate. Com o duplo fim de reabastecer as provisões próprias e conseguir apoiar a Ucrânia, Stoltenberg lembrou que “é necessário passar do ritmo lento dos tempos de paz para o ritmo elevado de produção exigido pelos conflitos”, embora tenha deixado claro que a NATO “não tem uma ameaça militar iminente”. .Desta reunião, como da realizada no dia anterior pelo grupo de contacto Ramstein, saíram renovados apoios à Ucrânia em questões específicas. A França e a Alemanha lançaram uma coligação de defesa aérea, a Letónia e o Reino Unido lideram uma outra para fornecer milhares de drones, a Lituânia é responsável por uma coligação pela desminagem. A Espanha anunciou o envio de veículos blindados e Portugal vai contribuir com um milhão de euros para a compra de munições..cesar.avo@dn.pt