Papa pede paz e desarmamento: “A guerra é sempre uma derrota”
O Papa Francisco lembrou este domingo, na Mensagem da Páscoa, “as vítimas dos muitos conflitos em todo o mundo”, lançando um apelo à paz e pedindo que se resista “à lógica das armas”. O líder da Igreja Católica falou da Faixa de Gaza e da Ucrânia, mas também dos conflitos muitas vezes esquecidos na Síria, no Líbano, na região do Sahel, em Cabo Delgado (Moçambique) ou em Myanmar, sem esquecer a violência no Haiti, as vítimas de terrorismo global ou de tráfico humano e os migrantes.
“A guerra é sempre um absurdo, a guerra é sempre uma derrota. Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo”, disse Francisco na Mensagem Urbi et Orbi (para a cidade e para o mundo), proferida a partir da varanda da Basílica de São Pedro. Na praça, estavam mais de 60 mil fiéis. “Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos e abrindo os nossos corações”, afirmou.
Sobre os dois principais conflitos, o Papa defendeu uma troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia - “todos por todos” - e um “cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza”. Insistiu ainda em garantias para um acesso à ajuda humanitária no enclave palestiniano, assim como à libertação imediata dos reféns israelitas que estão desde 7 de outubro nas mãos do grupo terrorista do Hamas. “Não permitamos que as hostilidades em curso continuem a afetar seriamente a população civil, já exausta, especialmente as crianças”, lembrando que estas “nas terras onde há guerras, já se esqueceram como se sorri”.
Os apelos do Papa de nada serviram. Na Ucrânia, os bombardeamentos russos contra infraestruturas críticas na região de Lviv fizeram pelo menos dois mortos. Na Faixa de Gaza, os ataques israelitas contra o Hospital Al-Aqsa terão feito pelo menos quatro mortos e 17 feridos, segundo o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Segundo as contas das autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas, pelo menos 77 palestinianos morreram em apenas 24 horas.
Conflitos esquecidos
Mas Francisco falou também nas guerras menos faladas. “Não nos esqueçamos da Síria, que tem vindo a sofrer as consequências de uma guerra longa e devastadora há 13 anos. Tantos mortos, pessoas desaparecidas, tanta pobreza e destruição estão à espera por respostas de todos, inclusivamente da comunidade internacional”, referiu.
Ainda ontem, a explosão de uma bomba numa área comercial na Província de Aleppo resultou na morte de oito pessoas, segundo o Observatório para os Direitos Humanos.
O Papa lembrou ainda o ”bloqueio institucional” no Líbano, dizendo que a “crise económica e social” se vê agora “agravada pelas hostilidades na fronteira com Israel”.
Francisco deixou também um “pensamento especial para os Balcãs Ocidentais” e a sua integração no projeto europeu. “Que as diferenças étnicas, culturais e confessionais não sejam uma causa de divisão, mas se tornem uma fonte de enriquecimento para toda a Europa e para o mundo inteiro”, referiu. E disse apoiar as negociações entre Arménia e Azerbaijão para “chegar a um acordo de paz definitivo o mais rápido possível”.
Uma palavra especial também para África. “Que o Senhor abra caminhos de paz no continente africano, especialmente para as populações que sofrem no Sudão e em toda a região do Sahel, no Corno de África, na região de Kivu, na República Democrática do Congo, e na Província de Cabo Delgado, em Moçambique, e ponha fim à prolongada situação de seca que afeta vastas áreas e causa fome e carestia”, defendeu. Apelou também a abrir “um caminho de esperança às pessoas que (...) sofrem com a violência, os conflitos, a insegurança alimentar e os efeitos das alterações climáticas”, assim como aos migrantes e aos que passam por dificuldades económicas.
Saúde frágil
Francisco, de 87 anos, presidiu mais cedo à missa do Domingo de Páscoa, tendo percorrido a Praça de São Pedro no Papamóvel - aos gritos de “Viva o Papa!” - antes de ser levado em cadeira de rodas até ao altar.
Na sexta-feira, o líder da Igreja Católica cancelou à última hora a sua presença na tradicional Via Sacra, no Coliseu de Roma, voltando a levantar questões sobre a sua saúde frágil. O Papa foi submetido a exames em fevereiro devido a uma bronquite, tendo sido obrigado a pedir a outros que lessem os seus discursos em várias ocasiões.
O Vaticano argumentou, contudo, que a ausência na Via Sacra era precisamente para “preservar a sua saúde”para a Vigília Pascal de sábado - uma cerimónia de duas horas e meia em que não aparentou dificuldades - e a missa deste domingo.
susana.f.salvador@dn.pt