O Papa durante a oração 'Urbi et Orbi'
O Papa durante a oração 'Urbi et Orbi'EPA/ANGELO CARCONI

Papa apela ao “calar das armas” e ao perdão da dívida dos países pobres

Francisco pede diálogo para acabar com a guerra na Ucrânia, um cessar-fogo na Faixa de Gaza e lembra Moçambique na sua 12.ª mensagem de Natal, no início do ano do Jubileu.
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Na noite da Consoada, o Papa Francisco abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro, dando início ao Ano do Jubileu - que ocorre a cada 25 anos e é considerado, para os católicos, tempo de paz e perdão. Duas mensagens que voltou a repetir esta quarta na sua mensagem Urbi et Orbi (para a cidade e para o mundo) de Natal, quando defendeu o diálogo na Ucrânia e o calar das armas no Médio Oriente, além de referir outros países afetados pelos conflitos e o terrorismo como Moçambique, e apelar ao perdão da dívida dos países mais pobres.

“Neste Natal, início do ano jubilar, convido todas as pessoas, todos os povos e nações a terem a coragem de atravessar a Porta, a tornarem-se peregrinos da esperança, a calarem as armas - a calarem as armas! - e a superarem as divisões!”, disse o Papa a partir da varanda da basílica, para uma praça de São Pedro cheia de fiéis. “A Porta está aberta, a porta está escancarada! Não é necessário bater à porta. Ela está aberta! Vinde!”, insistiu. “Deixemo-nos reconciliar com Deus, e então reconciliar-nos-emos connosco mesmos e poderemos reconciliar-nos uns com os outros, até com os nossos inimigos”, referiu.

O primeiro conflito que Francisco referiu diretamente foi o da Ucrânia. “Calem-se as armas na martirizada Ucrânia! Tenha-se a audácia de abrir a porta às negociações e aos gestos de diálogo e de encontro, para alcançar uma paz justa e duradoura”, defendeu o líder da Igreja Católica. Não é a primeira vez que lança este apelo, tendo sido criticado no passado por Kiev por dizer que a Ucrânia devia ter a coragem de içar a “bandeira branca” e negociar com a Rússia - algo que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem rejeitado fazer sem a retirada das tropas russas, apesar de mais recentemente já ter defendido o “congelar” do conflito nas atuais linhas da frente.

Na sua 12.ª mensagem de Natal, Francisco fez ainda referência ao Médio Oriente, apelando também a que se calem as armas nesta região. “Com os olhos postos no berço de Belém, dirijo o meu pensamento para as comunidades cristãs da Palestina e de Israel e, em particular, à querida comunidade de Gaza, onde a situação humanitária é gravíssima. Haja um cessar-fogo, libertem-se os reféns e ajude-se a população esgotada por causa da fome e da guerra”, defendeu, lembrando também os cristãos no Líbano e na Síria. “Abram-se as portas do diálogo e da paz em toda a região, dilacerada pelo conflito”, disse, sem esquecer o povo líbio, que encorajou a “procurar soluções que permitam a reconciliação nacional”.

Estes podem ser os conflitos mais visíveis, mas o Papa não esqueceu outras tragédias pelo mundo, falando por exemplo nos “milhares de crianças que estão a morrer devido a uma epidemia de sarampo na República Democrática do Congo”. Mencionou também Burkina Faso, Mali, Níger, Moçambique, o Corno de África ou o Sudão: “A crise humana que os afeta é causada principalmente por conflitos armados e pelo flagelo do terrorismo, e é agravada pelos efeitos devastadores das alterações climáticas.”

O Papa não esqueceu o sofrimento das pessoas de Myanmar que, “devido aos contínuos confrontos armados, são obrigadas a fugir das próprias casas”. Já no continente americano, pediu inspiração para as “autoridades políticas”, para que, “na verdade e na justiça, encontrem quanto antes soluções eficientes, para promover a harmonia social”. Francisco referiu-se diretamente ao Haiti, à Venezuela, à Colômbia e à Nicarágua, apelando a “superar as divisões políticas”. De volta à Europa, uma palavra para Chipre, apelando ao fim da divisão da ilha que dura há 50 anos.

O Papa defendeu também que o Ano de Jubileu deve ser uma ocasião “para perdoar as dívidas, sobretudo as que oneram os países mais pobres”. Um apelo que já tinha feito na Missa do Galo. No último ano jubilar, em 2000, um apelo do mesmo género do papa João Paulo II desencadeou uma campanha que levou ao cancelamento de 130 mil milhões de dólares de dívida entre 2000 e 2015.

Na mensagem, Francisco deixou ainda uma palavra de “gratidão” aos que “de forma silenciosa e fiel se dedicam ao bem”. O Papa referiu especialmente a “pais, educadores e professores, que têm a grande responsabilidade de formar as gerações futuras”, mas também falou “nos profissionais de saúde, nas forças de segurança, naqueles que se empenham em obras de caridade”.

susana.f.salvador@dn.pt

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