Os rebeldes sírios lançaram há uma semana uma operação-surpresa no noroeste do país e em poucos dias assumiram o controlo de Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, com as forças leais ao presidente Bashar al-Assad a recuar. Rússia e Irão, aliados do regime, já vieram em apoio a Damasco, mas ainda há muitas incógnitas. A guerra da Síria não tinha acabado? A guerra civil síria começou em 2011, em resposta à repressão aos protestos pró-democracia da Primavera Árabe. O regime de Assad estava em dificuldades até que, em 2015, a Rússia se envolveu diretamente no conflito, na prática travando, com os seus bombardeamentos. o avanço dos rebeldes. Assad, que tinha também o apoio do Irão, conseguiu recuperar o controlo da maioria (não todo) do território sírio. Em 2020, um acordo entre a Rússia e a Turquia (que apoiava alguns rebeldes) permitiu desanuviar o confito, que nunca chegou ao fim - havia confrontos esporádicos. Mais de meio milhão de pessoas morreram na guerra e quase 14 milhões tiveram de fugir de casa..Por que é que, de repente, a guerra reacendeu? Os rebeldes sírios lançaram uma ofensiva-surpresa na última quarta-feira que lhes permitiu conquistar rapidamente Aleppo, de onde tinham sido expulsos há oito anos. Ontem estavam às portas de Hama (mais de 100 quilómetros a sul) e já tinham quase triplicado a área que controlavam antes da ofensiva. Segundo um líder da oposição síria no estrangeiro, a ofensiva estava a ser preparada há mais de um ano, mas ficou suspensa devido à guerra em Gaza e no Líbano. Com a entrada em vigor do acordo de cessar-fogo, precisamente na última quarta-feira, os rebeldes decidiram avançar. .Mas quem são os rebeldes? O grupo que lidera esta ofensiva é o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que surgiu em 2012 como Frente Al-Nusra e se aliou à Al-Qaeda. Apesar de ter quebrado essa aliança em 2016 e ter moderado a sua posição, continua a ser considerado um grupo terrorista pelas Nações Unidas. O HTS, liderado por Abu Mohammed al-Golani, consolidou o seu poder nas províncias de Idlib e Aleppo. Estima-se que tenha cerca de 20 mil homens. A oposição a Assad nunca foi formada por um só grupo, mas por vários, que controlam diferentes zonas do país, incluindo os curdos (que são apoiados pelos EUA, que ainda têm algumas forças no nordeste da Síria), os rebeldes alinhados com a Turquia (que tem forças em várias áreas junto à fronteira, querendo afastar os curdos do seu território) ou ainda o Estado Islâmico - que pode aproveitar o caos para voltar a crescer..Ninguém está a fazer frente aos rebeldes? A primeira informação dava conta de como as forças leais a Assad estavam a recuar, mas a Rússia e o Irão vieram rapidamente em apoio do regime - apesar de estarem ambos distraídos com os seus próprios conflitos, seja a Ucrânia, no caso dos russos, ou Israel, no caso dos iranianos, que apoiam vários grupos na região. A Rússia já está a bombardear posições rebeldes e, na segunda-feira, grupos iraquianos pró-Irão entraram na Síria. O Hezbollah libanês, que ganhou experiência nos campos de batalha sírios, parece ficar desta vez de fora, dada a sua fragilidade e ainda o envolvimento com as forças israelitas (apesar do cessar-fogo)..E a Turquia e os EUA? Estão a ajudar os rebeldes? A Turquia diz defender o diálogo, mas os rebeldes que apoiam fizeram incursões nos últimos dias em áreas controladas pelos rebeldes curdos (que os norte-americanos apoiaram na guerra contra o Estado Islâmico). Os EUA, que têm cerca de 900 militares o terreno (apesar das tentativas de Donald Trump, durante o primeiro mandato, de os tirar de lá), reiteram ser contra o “regime sangrento” de Assad e defendem um processo político que abra a porta a eleições livres para que os sírios possam decidir o futuro..Será este o fim do regime? Apesar da guerra civil, Assad manteve-se no poder, pelo que ainda é cedo para saber e o futuro. Enquanto isso, são os civis que sofrem as consequências. Mais de 80 já morreram, incluindo 34 crianças..susana.f.salvador@dn.pt