O primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, foi esta quarta-feira nomeado o próximo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), sucedendo ao norueguês Jens Stoltenberg..Mark Rutte selou no dia 20 a sua nomeação como futuro secretário-geral da NATO depois da Roménia ter anunciado o seu apoio ao ainda primeiro-ministro neerlandês, na sequência de o presidente romeno, Klaus Iohannis, ter desistido da sua candidatura ao cargo. Desta forma, e depois de ter garantido o apoio da Hungria e da Eslováquia no ia 17, Rutte ficou com o aval dos 32 países da Aliança, o que acontece antes da cimeira de julho nos Estados Unidos, sucedendo a Jens Stoltenberg a partir de 2 de outubro, depois de dez anos de mandato do norueguês..Rutte, que está prestes a abandonar a liderança do governo dos Países Baixos, cargo que ocupou durante 14 anos e do qual se demitiu em agosto (estando apenas à espera que o seu substituto tome posse), vai precisar de todo o seu sentido diplomático para conduzir a NATO num dos períodos mais difíceis de sempre..Um dos primeiros desafios que terá de enfrentar como secretário-geral será o possível regresso de Donald Trump à Casa Branca, caso o republicano vença as eleições presidenciais de 5 de novembro. Durante o seu mandato, Trump chegou a falar em retirar os Estados Unidos da Aliança e ameaçou não proteger os aliados caso não gastassem mais em Defesa, com Jens Stoltenberg a ser creditado por ter evitado uma crise que poderia ter levado o republicano a abrir uma fenda na Aliança. Caso Trump seja eleito, Rutte necessitará de toda a habilidade diplomática para evitar qualquer enfraquecimento do papel de Washington. Para isso poderá fazer jus à sua alcunha de “encantador de Trump”, pela sua habilidade em lidar com o antigo (e potencial futuro) presidente dos Estados Unidos..Rutte é amplamente creditado por ter salvo uma cimeira da NATO em 2018 ao falar com Trump sobre os gastos com a Defesa, contradizendo o norte-americano. Numa conversa que se tornou viral, Trump afirmou que seria “positivo” quer a UE e os Estados Unidos conseguissem ou não fechar um acordo comercial, com Rutte a responder em voz alta: “Não! Não é positivo. Temos que resolver alguma coisa”. Em fevereiro, afirmou publicamente que a Europa tinha de trabalhar “com quem quer que esteja na pista de dança”. “Todas aquelas lamentações e reclamações sobre Trump, ouço isso constantemente nos últimos dias, vamos parar de fazer isso”, disse na Conferência de Segurança de Munique..E enquanto o desafio Trump poderá não vir a concretizar-se, o mesmo não acontece com a guerra na Ucrânia. Os países da NATO - liderados pelos Estados Unidos - forneceram até agora 99% da ajuda militar estrangeira que tem mantido as forças de Kiev em combate. À medida que a guerra se aproxima do seu quarto ano, Rutte terá um papel fundamental na mobilização dos aliados da Ucrânia para garantir que o apoio não se esgota. .A Aliança, na sua cimeira em de julho, deverá assumir um papel mais importante na coordenação do fornecimento de armas, como já foi adiantado por Stoltenberg, e quer que os países assumam um compromisso a longo prazo. Ao mesmo tempo, Kiev também tem feito pressão para se tornar membro da NATO, uma pressão que deverá aumentar nos próximos anos, apesar da objeção de Estados-membros como a Alemanha ou os EUA. Neste sentido, Rutte terá também de equilibrar as expectativas da Ucrânia com a relutância dos principais aliados..Outro desafio que o neerlandês terá de enfrentar dentro da própria NATO é como lidar com países como a Hungria, que já disse estar fora do apoio à Ucrânia, os seus Países Baixos, que vão ter agora um governo mais pró-Kremlin e fã de Trump, ou a França, que arrisca ter em breve um governo de extrema-direita, embora o potencial futuro primeiro-ministro, Jordan Bardella tenha recuado na quarta-feira no seu discurso e garantido que a França não sairá do comando estratégico militar da NATO enquanto durar a guerra na Ucrânia. .Independentemente do desenrolar desta guerra, os aliados dizem que provavelmente irão enfrentar uma ameaça da Rússia nas próximas décadas. No ano passado, a NATO assinou os seus planos de defesa mais abrangentes desde o fim da Guerra Fria, destinados a impedir qualquer potencial ataque de Moscovo. A principal tarefa de Rutte será tentar garantir que a NATO esteja preparada e, ao mesmo tempo, evitar que as tensões se transformem num possível conflito nuclear com a Rússia..Tal como a invasão da Ucrânia mostrou, as empresas ocidentais estavam mal preparadas para responder às exigências de uma guerra em grande escala, após décadas de subinvestimento. A produção começou a aumentar, mas Rutte terá de manter a pressão junto da indústria e que os aliados continuem a comprar o necessário..Para tudo isto é preciso um cada vez maior investimento na Defesa por parte dos Estados-membros. Uma década depois de a NATO ter estabelecido a meta para os aliados gastarem 2% do seu Produto Interno Bruto na Defesa, apenas 23 dos 32 atingiram esse limite este ano. Rutte terá como missão levar os restantes a cumprir o objetivo e garantir que outros não recuem, um desafio que não será fácil, tendo em conta que o neerlandês só conseguiu que os Países Baixos atingissem a meta no seu último ano de mandato. Ontem, o parlamento da Lituânia votou a favor do aumento dos impostos, a fim de aumentar os gastos com defesa no próximo ano para 3% do PIB. .Embora a NATO esteja vinculada à área euro-atlântica, os EUA têm pressionado os aliados a prestarem mais atenção aos riscos colocados por Pequim. A crescente parceria da China com a Rússia impulsionou a ameaça nas mentes de muitos aliados europeus e viu a NATO construir laços com países como o Japão, a Coreia do Sul e a Austrália..Mas alguns, como a França, têm receio de desviar a atenção da NATO da sua área e o novo líder da Aliança terá também de lidar com esta situação delicada..ana.meireles@dn.pt