Trump rodeado pelos oito ex-reféns israelitas que recebeu na Sala Oval.
Trump rodeado pelos oito ex-reféns israelitas que recebeu na Sala Oval.X do presidente Donald Trump

O ultimato de Trump e uma troca de ameaças entre Israel e o Hamas

Administração americana não terá dado conhecimento ao governo israelita de que estava a negociar diretamente com o grupo palestiniano. Este garante que reféns morrerão se conflito retomar.
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Além de quebrar o tabu de não negociar com organizações terroristas, a Administração americana não terá informado os aliados israelitas de que estava a dialogar com o grupo palestiniano que desde 2007 governa a Faixa de Gaza, deixando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “pouco feliz”. Ontem, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, ameaçou retomar a guerra em Gaza com “intensidade nunca vista” se o Hamas não libertar os reféns que ainda mantém. Na véspera, também o presidente dos EUA fez um ultimato ao grupo islamita : ou libertam os sequestrados ou “vou enviar a Israel tudo o que eles precisam para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará a salvo se não fizerem o que eu digo”, garantiu Donald Trump, numa mensagem publicada na rede social Truth Social.

Depois de um encontro na Casa Branca com um grupo de ex-reféns, o presidente americano reforçou: “Libertem todos os reféns agora, não mais tarde, ou é o vosso FIM.” E ameaçou não só os líderes do Hamas - “agora é o momento de deixarem Gaza, enquanto ainda podem” - como os próprios habitantes do enclave palestiniano - “pessoas de Gaza, se esconderem reféns, estão mortos”. “Tomem uma decisão inteligente. Libertem os reféns agora, ou haverá um inferno”, publicou.

A reação do Hamas não tardou, o grupo islâmico considerou que as repetidas ameaças do presidente Trump “são um apoio a Netanyahu para que viole o acordo de cessar-fogo”. O Hamas apontou que a melhor maneira de libertar os reféns israelitas é iniciar as negociações para a segunda fase de tréguas. A primeira fase do cessar-fogo entre o Hamas e Israel terminou no sábado.

Numa nota de imprensa, o Hamas afirma que as ameaças de Trump servem para incentivar o primeiro-ministro israelita a apertar “o cerco e a fome” em Gaza. Ao fim da tarde, o porta-voz das Brigadas Al-Qassam, a ala armada do grupo, garantiu que se Israel retomar o conflito em Gaza, alguns dos reféns irão morrer. Num vídeo, Abu Obeida afirmou que o Hamas continua empenhado no cessar-fogo e que pode apresentar provas de vida dos reféns, mas está “pronto para qualquer eventualidade”.

Na quarta-feira, Israel bloqueou a entrada de ajuda na Faixa de Gaza, procurando forçar o Hamas a aceitar a proposta americana para a extensão temporária da trégua, durante a qual mais reféns deviam ser libertados. Esta posição foi denunciada tantos pelas autoridades palestinianas como por ONG como o Programa Alimentar Mundial, que garante que bloquear a entrada de alimentos e medicamentos ameaça as vidas dos mais de dois milhões de habitantes de Gaza.

A 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou um ataque contra Israel, matando 1200 pessoas e fazendo 250 reféns. Destes 59 ainda continuam sequestrados, e 36 deles estarão mortos. A guerra lançada por Israel em retaliação terá, segundo os números do Hamas, feito mais de 48 mil mortos na Faixa de Gaza.

As negociações diretas entre os EUA e o Hamas pareciam ontem enfrentar alguns obstáculos, depois da fuga para a imprensa que revelou a sua existência. A prioridade do diálogo, a decorrer em Doha, no Qatar, é obter a libertação dos sequestrados de nacionalidade americana. Apesar de não ser o objetivo principal, os americanos terão apresentado ao Hamas uma proposta para um cessar-fogo de 60 dias, no qual dez reféns israelitas seriam libertados. Mas ao fim do dia o enviado de Trump para o Médio Oriente admitiu em Washington que as negociações não estão a correr muito bem, porque os EUA duvidam que o Hamas esteja de boa fé, o que, segundo Steve Witcoff, terá gerado as ameaças de Trump nas redes sociais.

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