O que é que a Transnístria tem a ver com a guerra da Ucrânia?
Moscovo falou na "opressão" dos povos russos na região separatista moldava e desde segunda-feira houve duas explosões.
A antiga república soviética da Moldávia apelou ontem à calma e reforçou a segurança, depois de uma série de explosões terem abalado a região separatista pró-russa da Transnístria, que faz fronteira com a Ucrânia. Na sexta-feira, um responsável do Exército russo, o major-general Rustam Minnekaev, disse que os objetivos de Moscovo passavam por controlar a região de Donbass e o sul da Ucrânia, falando de uma forma de sair da Transnístria "onde há casos de povos que falam russo a ser oprimidos" - o argumento da opressão foi usado para justificar a invasão da Ucrânia.
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Desde segunda-feira foram registados três "atentados terroristas" (de acordo com os separatistas) na região: uma explosão no ministério de Segurança na capital, Tiraspol, outra numa torre de rádio e um ataque a uma unidade militar. Moscovo já expressou a sua "preocupação", enquanto Kiev alega que a Rússia encenou os ataques para "desestabilizar" a Moldávia. "Más notícias: se a Ucrânia cair amanhã, as tropas russas vão estar às portas de Chisinau", escreveu no Twitter o assessor do presidente Volodymyr Zelensky, Mykhayko Podolyak.
Mas afinal, o que é a Transnístria que de repente se tornou um foco de atenção na guerra da Ucrânia? A Moldávia, um país três vezes mais pequeno do que Portugal entalado entre a Ucrânia e a Roménia, fazia parte do Reino da Roménia, tendo sido integrado na União Soviética em 1940. A queda da URSS, cinco décadas depois, desencadeou em 1992 uma guerra civil entre a, agora independente, República da Moldávia e os separatistas na Transnístria, que queriam manter ligações à Rússia.
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Ninguém (nem mesmo Moscovo) reconhece a independência proclamada em 1991, mas a região funciona como um estado separado. Na estreita faixa de terra de menos de cinco mil quilómetros quadrados - localizada entre o rio Dniestre e a fronteira ucraniana - vivem cerca de meio milhão de pessoas - nos censos de 2015, 29,1% dizia ser de etnia russa, 28,6% moldava e 22,4% ucraniana. No resto da Moldávia vivem mais 2,5 milhões. A região está totalmente dependente da Rússia, que, além de fornecer gás gratuitamente, tem no território 1500 militares (que apelida de força de paz), que estarão a guardar cerca de 20 mil toneladas de munições. Chisinau, que admite não ter o controlo da região, há muito pede a saída das tropas russas.
"Apelamos aos cidadãos para manterem a calma e se sentirem seguros", disse a presidente moldava, Maia Sandu, após uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para discutir as explosões. A Transnístria fica a apenas 80 km de Chisinau. A chefe de Estado recomenda o aumento das patrulhas e das buscas a veículos próximo da zona tampão, assim como mais medidas de segurança em infraestruturas-chave no país, que pediu oficialmente a adesão à União Europeia em março, já depois da invasão russa da Ucrânia.
Quanto às explosões, Sandu apontou o dedo a "diferenças internas entre vários grupos na Transnístria com interesse em desestabilizar a situação". Já o líder da região separatista, Vadim Krasnoselsky, sugeriu que a Ucrânia podia ser responsável, apelando a Kiev para que investigue "os movimentos ilegais" dos seus combatentes e o "envolvimento em atos terroristas". A região reforçou a segurança, estando no "nível vermelho" de ameaça terrorista nos próximos 15 dias e cancelando a parada que assinala a vitória na II Guerra Mundial, a 9 de maio.
susana.f.salvador@dn.pt
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