Número de casos cai na Europa, mas variantes travam aligeirar das medidas

Alemanha prolongou o confinamento até 7 de março, França autoriza festivais de verão mas com limitações, Itália tem mais zonas a laranja, Países Baixos esperam decisão da justiça sobre o recolher obrigatório e Suécia avisa que se a situação piorar pode fechar alguns negócios pela primeira vez.
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Pela primeira vez desde setembro, o número de novos casos de covid-19 detetados numa semana é inferior a um milhão no conjunto dos 53 países que, para a Organização Mundial de Saúde, formam a região europeia. O número de novos casos está a cair há cinco semanas consecutivas, continuando contudo a ser elevado.

Apesar de uma melhoria aparente dos números, à medida que avança a campanha de vacinação, isso não significa que esteja no curto prazo um aliviar das medidas de confinamento. O que é que está a ser feito?

O confinamento imposto na Alemanha ainda em dezembro permitiu reduzir o número de novos casos, mas a taxa de infeções continua elevada. Esta sexta-feira, foram registados mais 9113 casos, além de 503 mortes por coronavírus. A variante britânica continua a subir e deverá tornar-se a dominante.

A pressão para levantar o confinamento, que foi prolongado até pelo menos 7 de março, começa a ser mais persistente, mas as autoridades alemãs dizem que ainda não é hora de reabrir o comércio não-essencial, os restaurantes, os cafés, os museus, os equipamentos desportivos ou as escolas. A taxa de infeção é de 56,8 casos por cem mil habitantes, mas o governo federal quer vê-la abaixo dos 50 e um levantamento das medidas de confinamento só quando for inferior a 35.

Apesar dos atrasos na vacinação, as autoridades alemãs estão a detetar uma rejeição da população à vacina da AstraZeneca (o mesmo está a acontecer noutros países), com várias pessoas a não aparecer quando são chamadas e milhares de frascos a ficarem armazenados. Das quase 740 mil doses entregues à Alemanha, só 107 mil tinham sido usadas até quinta-feira.

Tudo por causa das dúvidas que existiram em relação à sua eficácia na população com mais de 65 anos, com a Alemanha a não recomendar o seu uso acima dessa idade, ou até da sua eficácia contra a variante sul-africana, que se está a espalhar. Além disso, uma vez que os estudos mostram que é 60% eficaz na variante normal (contra 95% de eficácia para a da Pfizer, por exemplo), há quem opte por esperar.

"Se vos derem a escolher entre a AstraZeneca agora ou outra vacina dentro de alguns meses, devem tomar a da AstraZeneca agora", disse o secretário-geral da Sociedade Alemã de Imunologia, Carsten Watzl, ao jornal Augsburger Allgemeine.

A Alemanha tem optado por fechar as fronteiras com os países vizinhos -- no fim de semana passado fechou com a República Checa -- onde o número de casos está a aumentar, ou proibir a entrada daqueles que vêm de locais considerados de risco para as novas variantes (incluindo Portugal), apesar das críticas.

Os números de novos casos, de mortes e de internamentos estão a baixar a nível nacional, mas continuam elevados, e os estudos apontam para o crescimento das novas variantes, mais contagiosas. Há uma semana, a variante britânica representava 25% dos novos casos, tendo passado a 36% esta semana.

Os franceses evitaram um terceiro confinamento mais restrito, optando apenas por manter um recolher obrigatório das 18.00 às 06.00. Ainda assim, restaurantes, bares, museus, salas de espetáculos e teatros estão fechados. Em várias regiões do país, as escolas estão fechadas para as férias de inverno, só devendo recomeçar as aulas a 8 de março.

As autoridades de saúde resolveram entretanto que o período de isolamento para os doentes passará a ser de dez dias (até agora só o era para os casos suspeitos da nova variante), com os contactos de risco a terem que se isolar só sete dias.

Uma boa notícia para o setor da Cultura é a decisão do governo de autorizar os festivais de verão. Mas, as regras impostas, podem afastar os espectadores e os próprios artistas: o público, não mais de cinco mil pessoas por evento, terá que ficar sentado.

Esta sexta-feira foram registados mais 11 435 novos casos, ligeiramente abaixo da véspera, e mais 397 mortes, mais nove do que na quinta-feira.

Apesar de o nível de incidência continuar acima dos 250 por cem mil habitantes (era de 321 na quinta-feira), várias regiões espanholas, entre as quais Madrid, preparam-se para aliviar algumas medidas, agora que o pico da terceira vaga já passou.

Isto apesar de as autoridades de saúde espanholas acreditarem que entre 20 a 25% dos casos são agora da variante britânica, mais contagiosa, e de pedirem que as restrições não sejam levantadas para não causar estragos. O próprio primeiro-ministro, Pedro Sánchez, alertou para um "avançar rápido" que depois vá obrigar a "retroceder".

A Comunidade de Madrid optou por passar o recolher obrigatório das 22.00 para as 23.00, permitindo que bares e restaurantes fiquem abertos até à mesma hora. O número de pessoas à mesa passa também de quatro para seis, apesar de ter um dos níveis de incidência mais elevados do país (457 por cem mil habitantes). Além disso, vai levantar muitas restrições à circulação que existiam dentro da comunidade.

Também outras comunidades, como Andaluzia ou Aragão, levantam as restrições à circulação nos perímetros de algumas localidades, apesar de as manterem entre províncias. Castela e Leão vai levantar essas proibições, mantendo contudo a proibição de deixar a região.

Já na Catalunha, as autoridades decidiram prolongar por mais sete dias as restrições em curso, querendo avaliar melhor a situação. Mas aprovou-se a retomada das atividades extraescolares e de desporto para as crianças até nas creches e escola primária.

A Itália contabilizou mais 15 479 casos de covid-19 esta sexta-feira (um ligeiro aumento face aos 13 762 da véspera) e mais 348 mortes (mais uma do que na quinta-feira).

Os italianos vivem sob um recolher obrigatório entre as 22.00 e as 5.00, assim como a proibição de viajarem entre regiões. Ambas as medidas foram alargadas pelo menos até 25 de fevereiro. De resto, aquilo que podem fazer depende da cor da zona onde vivem.

Nas zonas vermelhas, os restaurantes e bares têm que fechar, exceto para entregas ou take-away, assim como todas as lojas não-essenciais. Atualmente não há regiões pintadas desta cor. Já nas zonas laranja, as lojas estão abertas (ao contrário dos restaurantes). Nas zonas amarelas, as lojas, os restaurantes e os bares estão abertos até às 18.00.

O ministro da Saúde anunciou esta sexta-feira que três novas regiões passaram da zona amarela para a zona laranja: Campânia (que inclui Nápoles), Emilia Romagna (Bolonha) e Molise. Os media tinham avançado que Lombardia (Milão) e Lázio (Roma) também passariam a laranja, mas isso não se confirmou, assim como também não haverá passagem de nenhuma área para a zona vermelha.

Há contudo alguns confinamentos localizados em algumas províncias, onde há surtos das variantes mais contagiosas do coronavírus.

Os italianos não ficaram satisfeitos quando, no último fim de semana, as autoridades resolveram adiar a abertura das estâncias de ski no país (que devia ter acontecido na segunda-feira) pelo menos até 5 de março, por causa de receios das novas variantes do vírus.

O novo governo de Mario Draghi, que recebeu a luz verde do Parlamento e do Senado esta semana, já prometeu entretanto acelerar a vacinação. Só 1,3 milhões de italianos (numa população de 60 milhões) tinham sido vacinados até quarta-feira.

As autoridades britânicas registaram mais 12 027 casos de covid-19 nesta sexta-feira e mais 533 mortes. O Reino Unido é o país europeu onde a vacinação está mais adiantada, com mais de 16,8 milhões de pessoas a terem já recebido a primeira dose da vacina. Mas menos de 600 mil já receberam a segunda dose, tendo os britânicos optado pela estratégia de alargar o prazo entre a primeira e a segunda dose.

O número de casos está a diminuir: esta semana, uma em cada 115 pessoas em Inglaterra tinha covid-19, quando na semana anterior o número era uma em cada 80 pessoas. Gales, Irlanda do Norte e Escócia também registam diminuições.

A taxa de reprodução do vírus (o R) está entre 0,6 e 0,9 no país, uma melhoria em relação à semana anterior, quando era entre 0,7 e 0,9. Um número abaixo de 1 (onde cada pessoa infetada estaria a infetar outra) significa que o contágio está a diminuir. O número de internamentos também está a cair no país.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, continua a defender que quer os alunos de volta às salas de aulas em Inglaterra no dia 8 de março, mas os sindicatos pedem prudência e um regresso faseado, que permite testagem de todos antes do regresso. Os planos do governo devem ser revelados na segunda-feira. Na Escócia, o regresso às aulas começa já nesse mesmo dia, mas envolve uma mistura entre o ensino presidencial e o à distância.

Para travar a chegada das novas variantes brasileira e sul-africana ao país, o governo britânico impôs a partir desta semana uma quarentena obrigatório num hotel daqueles que estiveram nos países de risco (incluindo Portugal) nos dez dias anteriores. A estadia é paga pelos viajantes (só podem entrar os que têm nacionalidade britânica ou são residentes) e arriscam uma multa de dez mil libras e até dois anos de prisão se mentirem sobre os países onde estiveram.

A decisão de um tribunal de considerar ilegal o recolher obrigatório que foi imposto no país (e que gerou protestos) não foi bem recebido pelo governo de Mark Rutte, a um mês das eleições antecipadas nos Países Baixos.

O recurso do executivo deverá ser analisado para a semana pela justiça, mas uma alternativa está já em cima da mesa, com uma nova lei a ser apresentada no Parlamento que irá avançar caso os juízes insistam que o recolher obrigatório é ilegal. O Senado devia votar esta sexta-feira, mas adiou até ser conhecido o resultado do recurso.

O recolher obrigatório entre as 21.00 e as 04.30, o primeiro desde a ocupação nazi durante a II Guerra Mundial, foi aplicado a 23 de janeiro para tentar lidar com as novas variantes da covid-19. Enquanto se aguarda o resultado do recurso, os juízes permitiram que a medida continue a ser imposta.

Para a semana, o governo de Rutte deverá também decidir se prolonga o recolher obrigatório para lá de 2 de março (a data até agora prevista), assim como o fecho de lojas não-essenciais, bares e restaurantes.

Na quinta-feira, os Países Baixos registaram mais cerca de 4500 casos e 72 mortes.

O país europeu que nunca aplicou um confinamento prepara-se para novas restrições para tentar travar uma terceira vaga. Ginásios, restaurantes e cabeleireiros podem ser fechados, aproveitando a nova legislação aprovada em janeiro que dá mais poderes ao governo para travar a propagação do vírus.

Desde novembro que a Suécia tem vindo a apertar as medidas, tendo por exemplo proibido a venda de álcool depois das 20.00 e as reuniões com mais de oito pessoas, tendo também recomendado o uso de máscara nos transportes públicos.

"Na eventualidade de a taxa de infeção deteriorar drasticamente, o governo vai precisar de fechar alguns negócios", indicou o executivo na quarta-feira. "Ainda não temos um anúncio em relação a fechos hoje, mas estamos a preparar-nos para usar essa parte da lei da pandemia também", disse a ministra da Saúde, Lena Hallengren, aos jornalistas.

Apesar de o número de novos casos ter caído em relação ao início de janeiro, os números estabilizaram à volta dos quatro mil novos casos diários e mostram sinais de um ligeiro aumento nos últimos dias, o que está a preocupar as autoridades.

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