Macron nos EUA com Keir Starmer, que venceu as eleições britânicas.
Macron nos EUA com Keir Starmer, que venceu as eleições britânicas.Ludovic MARIN / AFP

Numa “carta aos franceses, Macron exige “maioria sólida” antes de nomear novo governo

Presidente disse que “ninguém ganhou”, mas que eleitores escolheram “forças republicanas” para governar.
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Três dias depois da surpresa na segunda volta das legislativas francesas, que deram a vitória à aliança de esquerdas e deixaram a Assembleia Nacional fragmentada, o presidente Emmanuel Macron quebrou esta quarta-feira o silêncio. Não numa declaração televisiva, mas numa “carta aos franceses”, onde revelou as condições para a nomeação de um novo primeiro-ministro após a demissão de Gabriel Attal - a quem pediu que ficasse mais um tempo para garantir a estabilidade do país. “Ninguém ganhou”, escreveu o presidente, defendendo ser preciso uma “maioria sólida” de “forças republicanas” para poder governar.

Saudando a elevada participação nas legislativas, Macron diz que é possível tirar “algumas conclusões” do resultado. “Primeiro, existe no país uma necessidade de expressão democrática. Depois, se a extrema-direita ficou à frente na primeira volta com quase 11 milhões de votos, vocês recusaram claramente que entre no governo”, indicou o presidente, falando das desistências de candidatos para evitar dividir o voto contra a extrema-direita - a chamada “frente republicana”.

O Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen e Jordan Bardella, que venceu na primeira volta e estava bem colocado para conquistar uma maioria absoluta, não foi além do terceiro lugar, elegendo um total de 143 deputados. Para ter a maioria são necessários 289. A Nova Frente Popular (NFP), aliança de esquerdas que inclui a radical França Insubmissa (LFI) de Jean-Luc Mélenchon, elegeu 182, ficando à frente do campo de Macron, que foi segundo e elegeu 168.

“Nenhuma força política obteve, por si só, uma maioria suficiente e os blocos ou coligações que emergem destas eleições são todos minoritários”, explicou Macron, indicando que “apenas as forças republicanas representam a maioria absoluta”. O presidente, dizendo-se “protetor do interesse superior da Nação”, “garante das instituições” e do “respeito” pela escolha dos eleitores, pede então “a todas as forças políticas que se reconhecem nas instituições republicanas, no Estado de direito, no parlamentarismo, numa orientação europeia e na defesa da independência francesa, que se empenhem num diálogo sincero e leal para construir uma maioria sólida, necessariamente plural, para o país”.

Macron, que divulgou a carta estando já na cimeira da NATO nos EUA, defende “ideias e programas acima de cargos e personalidades”, explicando que esta maioria “deverá garantir a maior estabilidade institucional possível”. O presidente acredita que a construção de tal maioria “com serenidade e respeito por todos” precisa de “um pouco de tempo”, daí que o atual governo continue nas funções.

A aposta nas “forças republicanas” é vista como uma negativa tanto ao RN como à LFI, havendo quem considere a “extrema-esquerda pior do que a extrema-direita”. Mélenchon reagiu à carta no X, criticando-o por não chamar a NFP a formar governo: “É o regresso do veto real sobre o sufrágio universal”, disse, denunciando “o regresso das intrigas da IV República”. Já Bardella, também no X, acusou-o de organizar “a paralisia do país ao pôr a extrema-esquerda às portas do poder, após arranjos vergonhosos” e agora dizer: “entendam-se”. E chamou-lhe “irresponsável”.

susana.f.salvador@dn.pt

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