“Num tempo que é mais de fechar pontes, à FLAD calha a missão que já tinha: construir pontes. Redobradamente”
É uma Conferência sobre os oceanos que abre dia 20 as celebrações destes 40 anos da FLAD. A escolha dos oceanos tem a ver com a ligação Portugal-Estados Unidos, com, obviamente, o Atlântico como elo. E tem a ver com o protagonismo dos Açores na relação luso-americana, ou seja é uma escolha óbvia para esta celebração, mas também é uma escolha ambiciosa.
É uma escolha óbvia, em primeiro lugar, sendo que tem, obviamente, segundos e terceiros significados. Ou seja, o Atlântico é, de facto, a fronteira comum entre Portugal e os Estados Unidos, mas também os oceanos, de per si, ou, neste caso, o Oceano Atlântico, de per si, é, se o quisermos olhar de outra forma, uma aposta estratégica, que, enquanto país, já devíamos ter feito há muito tempo. Tenho, para mim, que existem duas dimensões em que somos maiores do que o nosso território: na língua e no mar. Na língua, é uma outra conversa, mas em que temos a CPLP, os PALOP, enfim, temos tudo isso. Em relação ao mar, não temos nada, em bom rigor. Temos uma enorme zona de nossa responsabilidade marítima, mesmo sem o alargamento das plataformas, pelo qual Portugal luta há 15 anos nas Nações Unidas e deveria ser revigorado esse combate. Porque não está perdido, mas exige um segundo fôlego, já o teve no início, e depois parece que adormeceu tudo um pouco.
Talvez agora, se formos eleito para o Conselho de Segurança, seja possível avançar no reconhecimento da extensão da nossa Zona Económica Exclusiva.
É uma questão de voltar a pôr a energia numa equipa com um objetivo, com uma estratégia, a trabalhar nessa direção. Mas a área hoje sob nossa responsabilidade é absolutamente brutal para a dimensão do país. E por isso eu digo que, se andamos há anos à procura de perceber qual é a direção que devemos tomar para encontrar esse plus num país que, enfim, não tem recursos naturais, não tem riquezas próprias, essa direção é o mar.
Está a falar do potencial económico do mar?
Não é só o potencial económico. Acabará por ser também, mas é muito mais do que isso. Não é com um Ministério do Mar que aquilo de que eu falo se cumpriria. Para este efeito é quase caricato. Face ao que se tem na cabeça. O que se tem na cabeça não é pegarmos no mar para ver como é que ele se compatibiliza com a nossa agenda. O que devemos fazer é o movimento contrário. Pegar em nós e ver se percebemos o mar e entendemos a agenda, se quisermos, do mar. Porque é essa a nossa maior direção e promessa. Penso que se conseguiria, porventura, encontrar o tal fator diferenciador que temos de encontrar para sobreviver como país. Um fator em que sejamos mais especializados do que, melhores do que, e que por alguma razão tenhamos conseguido uma diferenciação que depois tem valor económico, tem valor de investigação, tem valor de cultura... Mas não vemos uma direção estratégica que faça, daqui por 20 anos, o país estar melhor do que hoje. Melhor qualitativamente, melhor no sentido de outra dimensão. Era pegar no desígnio do mar como sendo a aposta que o país faz. Não são os partidos. É o país que faz uma aposta de uma década em que vamos trabalhar e pensar a partir do mar para ver se encontramos nas diferentes áreas por especialização, por acumulação de conhecimento, por acumulação de experiência, de investigação, de pensamento na cultura sobre o mar, de diplomacia, you name it. E conseguir aí, transversalmente, nessa diferenciação que o mar nos pode dar, nessa especialização que o mar nos pode dar, uma nova centralidade. Somos muito periféricos e a nova centralidade podia ser se olhássemos para o mar e fôssemos a capital desse património imaterial de conhecimento, de experiência, de especialização. E, por isso, digamos que, voltando ao plano de partida, o mar é a fronteira comum, com os Açores no meio ainda por cima. E por isso, neste programa dos 40 anos, esta ideia de estereofonia dos dois lados, de abrir, de partilhar, de pôr em comum, seja na coleção de livros, seja nos concertos, seja nas conferências. Procuramos esta estereofonia, reforçá-la, e o mar entra aí.
Já atravessou este Atlântico, este mar, enquanto presidente da FLAD. Onde foi o seu primeiro contacto com a comunidade portuguesa nos Estados Unidos?
Foi na Califórnia. Foi num sítio que é muito engraçado pela energia que aquela gente põe naquilo. Foi em Sausalito, onde há um pequeno espaço de calçada portuguesa, que já teve honras e distinções de governantes portugueses. Mas o que é engraçado é existir uma espécie de clube de fãs de Portugal, porque não são só lusodescendentes os que têm essa preocupação de preservar. Enquanto não havia ponte para São Francisco, a realidade era toda outra, e as casas eram de portugueses, e a arquitetura portuguesa que continua em algumas daquelas casas hoje em dia levou à defesa desse património, à sua identificação, e à sua classificação.
Por americanos que não têm ligação com Portugal?
Por americanos que não têm nada a ver com Portugal.
Mas continua a haver comunidade portuguesa.
Há, e há também lusodescendentes a trabalhar nisto da classificação. Mas há muitos que não o são. E ver este empenho é uma coisa absolutamente extraordinária.
Visitou outras comunidades fora da Califórnia?
Num segundo momento estive no Havai, onde sempre tinham reclamado a presença do presidente da FLAD. Fomos e tivemos resultados diretos, pois no Legislators Dialogue deste ano teremos a participação de sete senadores ou congressistas do Havai.
Pela minha experiência com congressistas lusoamericanos do Havai, são muito miscigenados, podem ser portugueses com mistura de coreano ou de japonês.
Sim, sim, mas é impressionante. Nós falamos muito, e com razão, do Luxemburgo e da grande presença portuguesa. São cerca de 15% de portugueses no Luxemburgo. Mas são também 15% os descendentes de portugueses no Havai.
E que imprimiram marcas na cultura havaiana, da gastronomia ao ukelele.
Com marcas em várias direções, sim. É fácil encontrar os apelidos Silva, Antunes… e vários havaianos com apelidos portugueses não têm já a noção da origem. Mas houve, a certa altura, um lusodescendente que resolveu investir o seu património de vida numa doação para a criação de um serviço de genealogia portuguesa. E, portanto, pôs uns milhões de dólares, que seria uma quantia muito significativa, para a criação de um serviço, que teria de ser gratuito, de genealogia portuguesa.
Qualquer havaiano pode ir procurar se o apelido corresponde a uma origem portuguesa?
Vai lá procurar e fica a saber. Esta tem sido uma das razões do boom. São N os que vão lá e ficam todos contentes. Volta não volta, há algum que fica triste, que julgava que era e percebeu que não era. Mas são N, imensos, os que descobrem ser de origem portuguesa. E o próprio serviço, em si, é extraordinário, porque parece uma caverna do Alibaba. Entramos ali e temos uns senhores, alguns novos, outros mais velhos, rodeados de estantes com livros, e de rolos. E começam a falar de um Silva que está ali e quer saber. E vão buscar os papéis todos. Para ver de onde vieram.
Foram madeirenses e açorianos, sobretudo, os que foram para o Havai.
Madeirenses e açorianos. Em igual número. Nove mil, nove mil, na grande ida. Aqui da metrópole, umas centenas. Por causa, num caso, da experiência com a cana-de-açúcar. No outro caso, pela experiência com a pesca de baleia. São as duas razões para aquela procura. Por isso, aquele serviço, além de ser uma caverna do Alibaba, está ligado a este boom na descoberta das origens portuguesas. É fascinante estar ali, a ouvir quem eram as pessoas, um que esteve até ligado a um presidente dos Estados Unidos. E, ao fim de duas horas, reparamos que o tempo passou, e que não podemos continuar ali, com dor de alma, e deixamos o senhor, os rolos e os livros. Mas é uma coisa absolutamente única. Foi diretamente responsável pela recuperação desses laços com Portugal, e pela importância que isso hoje em dia tem para os havaianos. É razão de honra e distinção, procuram celebrar. E têm uma pena enorme de não ter um professor de Língua Portuguesa, de a última rádio de língua portuguesa ter fechado, de os jornais terem fechado. Curiosamente, o presidente do Senado do Havai é lusodescendente e faz um open day todos os 15 dias, em que todos os lusodescendentes, e até os outros, podem vir, e depois - é muito engraçado - a gente chega lá e pensa que aconteceu alguma coisa. Mas não. É só um open day, então as pessoas podem ir para o gabinete dele e levam, se quiserem, um pacote de bolacha ou uma garrafa de cerveja, e depois há ali um gathering. E ele dizia-me que nunca, até hoje, houve, quando junta os portugueses, e são de igual número republicanos e democratas, mais ou menos, nunca, quando os junta enquanto lusodescendentes, deixou de conseguir um absoluto acordo sobre as coisas. É o único território neutro, e portanto positivo, que junta democratas e republicanos.
A FLAD também é um território neutro, porque para o Legislators Dialogue convida os políticos luso-americanos sejam de que partido for, mesmo se historicamente forem mais os democratas. A FLAD, quando identifica os lusodescendentes, e atualmente são quatro os congressistas federais - alguns, como Jim Costa, são aqui presença frequente -, no fundo, está a fazer um pouco um lobby, para que não esqueçam a origem portuguesa?
Sim. Para que se conheçam e, ao se relacionarem há logo uma dimensão de partilha de problemas, que são vividos por uns e foram resolvidos por outros, e que por serem de estados diferentes têm soluções diferentes. É uma troca de experiências. A segunda dimensão, obviamente, é construir rede. O que nós queremos é reforçar a rede. Temos um milhão e meio de portugueses e de lusodescendentes nos Estados Unidos. E , portanto, não é uma comunidade de somenos. Estes legisladores têm de ser os primeiros defensores das comunidades, naquilo que são os problemas para as comunidades portuguesas de que são originários. Todos eles consideram mais do que válida a experiência aqui em Portugal. Curiosamente, mais uma vez, nas edições passadas do Legislators - e falava disso há algum tempo com o Presidente da República, porque os acolheu sempre -, o que dizia, por ser testemunha disso, foi que nunca houve um problema de desentendimento. E tinha ali democratas e republicanos.
Quando estão em Portugal, entendem-se.
Quando estão em Portugal, ou quando são portugueses, entendem-se. E depois, quando temos questões como aquelas que se podem colocar relativamente à situação legal e ilegal, isto, aquilo, e outros problemas que vão surgindo, das tarifas ao tema do fecho do consulado dos Açores, eles são uma primeira rede de defesa, quando ativada enquanto tal, que tem algum peso, quer dizer, que tem homens como Jim Costa, de que falou, e que é extraordinário...
Também há o republicano Devin Nunes, que agora não é congressista, mas continua a ser próximo do presidente Donald Trump.
Sim, sim, sim. Da Califórnia. Estive com Jim Costa. Eu há anos que não comia um cozido dos Açores como comi em casa do Jim Costa num sábado de sol na Califórnia, porque tinha havido a festa do Santo Cristo, e eles tinham vindo e guardado aquela panela, tinham congelado, para um dia me servir o almoço. E de repente penso, estou aqui no Central Valley, na Califórnia, a comer um cozido dos Açores. É o Oliveira da Figueira. Há um português em cada canto. É uma experiência que tenho, em muitos sítios do mundo. E notei logo a diferença entre São Francisco e Central Valley. No Central Valley há ali uma faixa republicana num estado que é democrata. E a faixa republicana está ali no meio, tem a ver com aquele tapete agrícola, que precisa de água, e está sempre com problemas. E o Estado da Califórnia, que é democrata, e muito amigo do ambiente, e as águas não sei quê, e as águas não sei que mais, e os homens da agricultura do Central Valley odeiam isto, e são republicanos ferrenhos. Para muitos, por causa da circunstância concreta em que vivem e trabalham, os democratas têm sido um pesadelo, e por isso muitos são republicanos. São Francisco tem outras características, mas nestas cinco ou seis cidades por onde andei na Califórnia percebi que a portugalidade, chamemos-lhe assim, é um fator ou neutro ou positivo, ou é amortecedor de problemas, ou é positivo no sentido de permitir oportunidades.
A FLAD tem também a componente cultural, muito forte, e nestas celebrações a cultura aparece, sobretudo, em dois momentos musicais: um, em Lisboa, logo no dia 20, a celebrar Paul Auster, o concerto City of Glass; e depois uma homenagem a Amália, em Nova Iorque, a fechar o programa. Qual a sua expectativa para o concerto dedicado a Amália? A ideia é atrair os portugueses da América, mas se vierem os americanos descobrir o fado, e Amália, também é fascinante, não é?
Começamos em Lisboa com um conteúdo norte-americano, e acabamos em Nova Iorque, com um conteúdo português. A ideia foi esta, e o conteúdo português será levado à cena no Carnegie Hall, que é a sala mítica de Nova Iorque, e que tem 3000 lugares. Tenho procurado ativar diretamente a comunidade americana aqui, através do American Club e da AmCham, precisamente na linha de trabalhar para que os norte-americanos entrem nestas atividades, e o mesmo temos feito ativando a nossa embaixada, os nossos consulados, os líderes locais nos casos em que existam, os legisladores, as cidades geminadas, ativando toda esta gente para que nos Estados Unidos, mais do que em Portugal, como é evidente, se vendam os bilhetes. A comunidade portuguesa e lusodescendente, porque tem, obviamente, uma ligação de coração com Amália, como nós, comparecerá. Mas não me espantaria se um terço da sala não tivesse nada a ver com os lusodescendentes e fosse americano.
O seu interesse pela América é muito anterior a ser presidente da FLAD. É em miúdo que se apaixona por filmes americanos, música americana, ou seja, a cultura americana, entra na sua vida desde pequeno?
Claro. Lembro-me do final da década de 60, portanto, lembro-me de todos aqueles momentos de liberdade da década de 60, nos Estados Unidos, dos míticos concertos, aqueles vários momentos. Lembro-me de ler no Diário de Notícias o relato da situação da guerra no Vietname, e de como é que aquilo estava. Isto para dizer que os Estados Unidos entram na minha vida, como na vida da generalidade dos portugueses, porque estávamos numa altura de culturas muito marcadas. Hoje, cada vez mais, caminhamos para culturas indistintas. Porquê? Porque deixámos de ter distância. Uma comunicação global instantânea vai conduzir a culturas indistintas. Mas aquele era um tempo de culturas muito marcadas, tinham um nome, e eram aquilo. E, os americanos eram uma marca muito mais definida, e identificável, do que o são hoje em dia, curiosamente. E, portanto, comíamos América em várias das dimensões, inevitavelmente.
Mas há um escritor, ou um músico americano, ou um cineasta, que para si tem um lugar especial?
De todos os americanos, talvez, o que eu primeiro contactei, é Hemingway. Porque miúdo ainda, muito miúdo ainda, me lembro de ler Hemingway, portanto, é talvez o primeiro americano com que contactei, mas, enfim, o qual me marcou mais entre músicos, escritores isso é mais difícil...
Tem falado da FLAD ter como missão fazer pontes sobre o Atlântico. Especula-se muito sobre a nova Administração Trump e esta crise nas relações transatlânticas. A FLAD, pela sua história, pela sua missão, é imune a qualquer tipo de mudança?
Está imune. Em primeiro lugar, porque, quando falamos dessa mudança nas relações transatlânticas, percebemos-la melhor se a lermos no quadro das alterações das relações globais. Há um realinhamento de blocos, de prioridades. É um realinhamento global. Está ainda a começar, provocado que foi, muito, pela mudança da Presidência norte-americana. Não é uma crise daquele lado do Atlântico contra este lado do Atlântico. É uma alteração e, portanto, altera-se o que tem de se alterar, na cabeça da Administração norte-americana. E, portanto, é a segunda coisa que importa dizer, para ver se desmistificamos um bocadinho isso: não há nenhuma intenção, é a aplicação do raciocínio novo, em que as prioridades são outras, em que os vetores de relacionamento são outros, etc. Não é dirigido a Portugal, não temos de amuar. É evidente que é absolutamente disruptiva, sê-lo-ia sempre, mas é disruptiva não só esta mudança geral, como os termos em que ela se faz. E isso tem a ver com algumas das decisões que serão mais criticadas ou consideradas mais fora do mainstream, sejam as deportações, sejam as tarifas, sejam o que for. É a forma como. Mas, ainda assim, a decisão da FLAD é muito simples e é a maneira, quer dizer, de termos paz, de termos paz neste nosso caminho. Estamos num tempo que é mais de fechar pontes, de destruir pontes, de bloquear pontes, do que normalmente. Pois a nós, FLAD, calha-nos a missão que já tínhamos e que, por isso, entendo como redobradamente importante, que é construir pontes, abrir pontes, defender pontes. É isso o que faremos. Podem estar todos de um lado e nós do outro. Faremos isto.
Começámos a falar dos oceanos nesta entrevista. O atlantismo de Portugal e da FLAD, obviamente, é para continuar?
O atlantismo, com certeza, é e reforçadamente, por causa da geografia dos dois países, e para Portugal em especial. Essa dimensão atlântica é prioritária para nós, porque talvez seja o desígnio. Ao lado disto, há um quadro de relacionamento que vai muito para lá do Atlântico, nas mais variadas dimensões, da investigação científica, à Cultura ou à Educação. Quando fazemos movimentos de estudantes norte-americanos para Portugal, sim, eles vêm de um lado do oceano para o outro. Portanto, a dimensão atlântica é fundamental, não esquecer nunca que é no meio dessa dimensão que estão os Açores, que têm, de facto, aqui uma importância especial, não tanto porque a FLAD, como muitas vezes se diz, nasça dentro de uma realidade açoriana, ou para-açoriana, que seria o Acordo da Base das Lajes. É um mito urbano. A FLAD nasce pela alteração de circunstâncias que a entrada na comunidade europeia provoca. Aquilo que recebíamos dos Estados Unidos, que podemos simplificadamente chamar de ajuda ao desenvolvimento, e que era para Portugal importante na consolidação da democracia, quando entrámos na Comunidade Europeia, deixámos de ser qualificáveis para isso. Ora, havia programas a andar, iniciativas programadas, portanto havia um flow, e além disso, parece-me, houve a intenção de, “se nós agora, se isto não continua, talvez” - e se esta intenção existiu, foi brilhante - “seja mais do que continuar a dar peixe, que não podemos, é tentar dar-lhes uma cana para que eles pesquem”. A FLAD resulta desse momento e pretende ser uma ferramenta que permita continuar, de alguma forma, aquilo que antes fazia em programas de ajuda ao desenvolvimento. Pela sua própria capacidade, enfim, depositária de um fundo inicial, desenvolver uma atividade, com os rendimentos desse allowment, que de uma forma, mais madura, mais equilibrada, no sentido de participada pelos dois lados, de continuar essa ajuda ao desenvolvimento.
Ainda antes de iniciar as celebrações dos 40 anos, anunciou o Prémio Rui Machete. É uma homenagem especial a um antecessor seu que marcou muito a FLAD?
É com certeza. Tenho pelo professor Rui Machete uma admiração que vem do que ele foi na FLAD e para lá da FLAD. A dimensão do professor Machete não se esgota na FLAD. Se olharmos para trás, do ponto de vista académico, do ponto de vista político, quando foi vice-primeiro-ministro foi ele que esteve na assinatura, em 1985, do Tratado de Adesão às Comunidades Europeias. Portanto, noutras dimensões, principalmente a política e a académica, é para mim um homem maior do que aquilo que foi na FLAD. E isso também é tido em consideração na minha cabeça, quando penso neste prémio. E depois, porque existia aqui um conjunto de prémios, aliás, de um valor que me parecia desproporcionado, na área da Saúde Mental. Que poderá ter correspondido a uma necessidade de apoio pandémico ou pós-pandémico, mas que já estava muito longe daqueles que devem ser os objetivos da FLAD de apoiar o desenvolvimento de Portugal no quadro da relação com os Estados Unidos. E este prémio, por um lado, recupera o objetivo inicial da fundação, promover o desenvolvimento de Portugal no quadro da relação com os Estados Unidos. Não tem mais. E, neste caso, além de reorientar a nossa missão, eu tenho também, para mim, que nós temos a mania de homenagear as pessoas depois de elas morrerem. Porque, enquanto elas cá andam, somos mais de dizer mal do que dizer bem. As pessoas morrem, a gente faz-lhes homenagens.
Portanto, aqui é uma bela homenagem em vida.
É em vida que a gente agradece. Quando possível.