Netanyahu prossegue ofensiva em Gaza e protestos crescem em Israel
As forças militares israelitas retomaram esta quarta-feira as operações terrestres no centro e no sul da Faixa de Gaza e mantiveram pelo segundo dia ataques aéreos, que terão tirado a vida a pelo menos 38 pessoas. Esta nova incursão por terra ocorre um dia depois de mais de 400 palestinianos terem sido mortos em ataques aéreos, um dos episódios mais letais desde o início do conflito e que quebrou o cessar-fogo que estava em vigor entre Israel e o Hamas. Milhares de israelitas têm-se juntado desde então nas ruas, principalmente em Jerusalém, em protesto contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusando-o de continuar esta guerra por razões políticas.
De acordo com as Forças de Defesa de Israel, a “operação terrestre limitada” desta quarta-feira teve como objetivo recuperar o controlo sobre o Corredor Netzarim, que divide a Faixa de Gaza, de forma a criar uma zona tampão parcial entre o norte e o sul do enclave para o controlar melhor. Para o Hamas, a operação terrestre e a incursão no corredor são uma “nova e perigosa violação” do acordo de cessar-fogo. O grupo islamista palestiniano reafirmou ainda o seu compromisso com o acordo e apelou aos mediadores internacionais - papel que tem sido exercido por Estados Unidos (que apoiou a ação de Israel), Qatar e Egito (que a condenaram) - para “assumirem as suas responsabilidades”.
Entre as vítimas mortais de quarta-feira está um funcionário das Nações Unidas, que perdeu a vida quando duas casas de hóspedes da ONU em Deir al-Balah, no centro de Gaza, foram atingidas. As Forças de Defesa de Israel negaram ter atingido um edifício das Nações Unidas, mas o subsecretário-geral da organização Jorge Moreira da Silva rejeitou que tenha sido um acidente.
Na terça-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, justificou o regresso aos combates devido à falta de progressos nas negociações com o Hamas para prolongar o cessar-fogo. E afirmou que a pressão militar “é essencial” para garantir o regresso dos israelitas sequestrados - neste momento, permanecem 59 reféns na Faixa de Gaza, 58 dos quais raptados no ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, havendo a informação de que 24 ainda estarão vivos.
Mas este discurso está longe de convencer as famílias dos reféns e milhares de outros israelitas, que começam a mostrar o seu desagrado nas ruas, nomeadamente em Jerusalém, logo na terça-feira. Os protestos continuaram esta quarta-feira na mesma cidade, junto ao parlamento, onde se concentraram dezenas de milhares a pedir o regresso do cessar-fogo e dos reféns, mas também a contestar a decisão de Netanyahu de demitir Ronen Bar, o diretor do Shin Bet, a agência de segurança interna que, num relatório recente, assumiu as suas falhas a 7 de outubro de 2023, mas criticou também Netanyahu, afirmando que políticas governamentais falhadas ajudaram a criar o clima que levou ao ataque.
Um dos apelos a estes protestos nas ruas veio do antigo primeiro-ministro e líder do partido da oposição Yesh Atid, Yair Lapid. “Este governo não para no sinal vermelho. Basta! Apelo a todos vós, este é o nosso momento, este é o nosso futuro”, escreveu o político centrista no X.
“Esta já não é uma guerra sobre algo importante, é tudo sobre a sobrevivência deste governo, a sobrevivência de Netanyahu”, disse à Reuters Koren Offer, que participou nos protestos de Jerusalém.