Netanyahu anuncia acordo de cessar-fogo no Líbano. "A paz é possível", diz Biden
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, falou esta terça-feira ao país para anunciar que foi alcançado um acordo de cessar-fogo no Líbano.
A posição de Israel foi anunciada após reunião do gabinete de segurança, que discutiu um acordo de cessar-fogo no Líbano, onde o exército israelita luta contra o movimento xiita libanês Hezbollah.
Os EUA, a União Europeia (UE), a ONU e o G7 (grupos dos sete países mais industrializados do mundo) exerceram todos pressão para o fim das hostilidades entre Israel e o grupo armado libanês apoiado pelo Irão: mais de um ano de fogo cruzado transfronteiriço e dois meses de guerra aberta no Líbano.
"O gabinete de segurança israelita vai aprovar um cessar-fogo de 60 dias no Líbano esta noite", anunciou Netanyahu.
Netanyahu disse que há três razões para um cessar-fogo. "A primeira é focarmo-nos na frente iraniana", declarou, sem querer avançar mais informações sobre esta matéria.
A segunda razão prende-se com o objetivo de "refrescar a força militar" e de renovar o equipamento usado pelas forças israelitas. "Tem havido atrasos em trazer mais armas e este atraso vai terminar em breve. Temos armamento avançado que nos vai dar mais poder para alcançar os nossos objetivos", disse.
"E a terceira razão para um cessar-fogo é separar a frente da guerra com o Hamas da segunda guerra com o Hezbollah", acrescentou Netanyahu, que pretende, assim, isolar o movimento palestiniano.
“Com o Hezbollah fora de cena, o Hamas fica sozinho. A nossa pressão vai aumentar”, afirmou Netanyahu, que reiterou o compromisso de trazer todos os reféns para casa.
Disse que, “com o pleno entendimento com os EUA", Israel mantém "total liberdade de ação” contra o Hezbollah no Líbano.
O primeiro-ministro israelita disse que a duração do cessar-fogo depende do que acontecer no Líbano. “Se o Hezbollah violar o acordo, atacaremos”, avisou. "Se tentar rearmar-se e reconstruir a infraestrutura perto da fronteira, nós atacaremos. Se disparar um rocket, se escavar um túnel, se trouxer um camião com mísseis, nós atacaremos”, acrescentou.
"Um bom acordo é um acordo que é cumprido e nós vamos cumprir", assegurou ainda.
Na declaração que fez ao país, o primeiro-ministro disse também que o Hezbollah “já não é o mesmo" e que grupo recuou “décadas” devido à ação das forças isreaelitas. Hassan Nasrallah, “a cabeça da serpente”, foi morto, assim como “todos os líderes” do Hezbollah, referiu.
Prometeu também que Israel irá garantir que Gaza vai deixar de ser uma “ameaça”, referindo que os residentes da zona norte de Israel irão regressar às suas casas em segurança.
“A guerra não terminará enquanto não atingirmos todos os [nossos objetivos]”, sublinhou Netanyahu.
Biden: "Israel não lançou esta guerra"
O presidente dos EUA, Joe Biden, também fez uma declaração ao país para anunciar que foi alcançado um acordo de cessar-fogo no Líbano, agradecendo ao seu homólogo francês, Emmanuel Macron, pela participação que teve neste processo.
"Há 14 meses um conflito mortífero foi criado na fronteira que separa israel do Líbano, que começou no dia a seguir aos ataques de 7 de outubro do Hamas a Israel. Horas mais tarde, às 02:00, o Hezbollah atacou Israel em apoio ao Hamas", afirmou o presidente norte-americano.
"Sejamos claros: Israel não lançou esta guerra, o povo libanês não procurou esta guerra, nem os EUA", frisou Biden.
O presidente norte-americano recordou que os EUA mobilizaram meios na região para apoiar Israel, incluindo porta-aviões, esquadrões de caças e uma bateria sofisticada de defesa aérea.
Desde que a guerra com o Hezbollah começou, milhares de israelitas "foram forçados a viver como refugiados no seu próprio país", afirmou o presidente dos EUA, indicando também que milhares de libaneses foram, igualmente, forçados a viver como refugiados no seu próprio país. "Uma guerra que lhes foi imposta pelo Hezbollah", disse.
Falando naquele que foi "o conflito mais mortal entre Israel e o Hezbollah nas últimas décadas", Biden referiu a morte de responsáveis do grupo, incluindo o seu líder.
"Israel destruiu as infraestruturas terroristas do Hezbollah no sul do Líbano, incluindo quilómetros de túneis sofisticados que estavam preparados para um ataque terrorista ao estilo do de 7 de outubro no norte de Israel", destacou o presidente norte-americano.
Biden explicou que "a partir das 04:00 de amanhã [02:00 em Lisboa], as lutas nesta fronteira vão terminar". "Isto deve ser um cessar definitivo das hostilidades".
"Nos próximos 60 dias, Israel irá, gradualmente, retirar as suas forças e os civis dos dois lados poderão, em breve, regressar às suas comunidades em segurança", adiantou Joe Biden, vincando que os EUA, com o apoio de França e de outros aliados, vão trabalhar com Israel e o Líbano para "assegurar que o acordo é totalmente implementado".
O presidente norte-americano disse ainda que "não haverá tropas dos EUA no sul do Líbano", mas será dada "assistência" para que o cessar-fogo seja implementado.
E deixou um aviso: "se o Hezbollah quebrar o acordo e ameaçar Israel", o país tem direito à autodefesa, "segundo a lei internacional".
"É um novo começo para o Líbano", classificou Biden.
Falou também dos civis de Gaza que "sofreram demasiado" e do Hamas que se recusou durante meses a negociar de boa fé um cessar-fogo e o retorno dos reféns".
"A única saída do Hamas é libertar os reféns, incluindo os cidadãos americanos que ainda detém, e terminar os combates que podem tornar possível o alívio humanitário", disse.
Biden anunciou também que os EUA, juntamente com os aliados, vão trabalhar para que seja alcançado um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, para que os reféns sejam libertados.
"Os EUA continuam preparados para fazer acordos históricos com a Arábia Saudita, para incluir um pacto de segurança e de garantias económicas para criar um caminho para estabelecer um estado palestiniano e a normalização de relações entre Arábia Saudita e Israel", declarou Biden, afirmando: "A paz é possível".
Governo português saúda cessar-fogo no Líbano como passo essencial para paz
O Governo português saudou o cessar-fogo no Líbano a partir de quarta-feira, considerando ser um passo essencial para a paz, e agradeceu os esforços da França e dos Estados Unidos.
"Este é um passo essencial para uma solução de paz e segurança, apelando a que este espírito de compromisso se possa espalhar a toda a região", considerou o Governo, numa publicação na conta oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros no X.
O executivo agradeceu ainda "os esforços da França e dos Estados Unidos" para que a proposta de cessar-fogo fosse aprovada pelo Conselho de Ministros de Israel.
O chefe do executivo israelita anunciou o acordo na televisão, no final de um dia marcado pelos mais violentos ataques aéreos israelitas ao centro da capital libanesa, Beirute, após apelos de evacuação, e ao seu subúrbio sul -- bastião do Hezbollah - desde que Israel lançou, a 23 de setembro, uma campanha de bombardeamentos maciços visando o Hezbollah pró-iraniano no Líbano, e depois iniciou, a 30 de setembro, uma ofensiva terrestre no sul do país.
Tais ataques fizeram pelo menos dez mortos, segundo as autoridades libanesas.
Um deputado do Hezbollah, Amin Cherri, acusou Israel de querer "vingar-se dos libaneses" antes de um cessar-fogo.
O Exército israelita indicou durante a tarde que mais de 20 projéteis tinham sido disparados contra Israel a partir do Líbano e informou também sobre ataques no sul do Líbano e uma operação terrestre na "região do rio Litani", para norte da qual Israel afirma querer fazer recuar o Hezbollah.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 apelaram hoje para um "cessar-fogo imediato", ao passo que o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, declarou que o Governo israelita não tinha "mais desculpas" para o recusar.
Segundo o portal de notícias norte-americano Axios, o acordo baseia-se num plano dos Estados Unidos para uma trégua de 60 dias, durante a qual o Hezbollah e o Exército israelita se retirariam do sul do Líbano para permitir que o Exército libanês se instalasse no local.
O plano inclui a criação de uma comissão internacional para controlar a sua aplicação, indicou o Axios, acrescentando que os Estados Unidos garantiram o seu apoio a uma ação militar israelita em caso de atos hostis do Hezbollah.
O ministro da Defesa israelita, Israël Katz, avisou hoje que o seu país agirá "energicamente" em caso de violação do acordo.
A mediação internacional assentou na Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que pôs fim à anterior guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006, e estipula que apenas o Exército libanês e as forças de manutenção da paz podem ser destacados para a fronteira sul do Líbano.
No entanto, Netanyahu terá de convencer os seus aliados de extrema-direita: na segunda-feira, o seu ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, afirmou que um cessar-fogo seria "um grande erro".
A guerra em curso desde outubro de 2023 na Faixa de Gaza entre Israel e o Hamas estendeu-se ao Líbano após um ano de fogo cruzado de ambos os lados da fronteira israelo-libanesa.
Israel afirma querer neutralizar o Hezbollah no sul do Líbano - que abriu uma frente de batalha contra o seu território a 08 de outubro de 2023, em apoio ao seu aliado Hamas - para permitir o regresso de cerca de 60.000 habitantes do norte do país deslocados pelo seu fogo.
Segundo o Ministério da Saúde libanês, cerca de 3.800 pessoas foram mortas no Líbano desde outubro de 2023, a maioria das quais desde setembro último. As hostilidades provocaram também a deslocação de cerca de 900.000 pessoas, de acordo com a ONU.
Do lado israelita, 82 soldados e 47 civis foram mortos em 13 meses.
Com Lusa