"Nado-morto". Macronistas já pensam em novas eleições

O resultado das legislativas deixa os partidos centristas no governo sem margem de manobra. Extrema-direita surpreende e alcança maior resultado de sempre.

Emmanuel Macron pedira uma "maioria sólida" para os eleitores não "somarem uma desordem francesa à desordem global" e os votantes ignoraram o apelo do presidente francês. Ensemble, a aliança centrista liderada pelos macronistas, obteve 38,2% e elegeu 245 deputados, muito aquém dos 289 assentos para não depender de acordos parlamentares, e mais ainda dos 361 deputados eleitos há cinco anos.

"É um primeiro lugar obviamente dececionante", reconheceu o ministro da Justiça Éric Dupond-Moretti, enquanto a primeira-ministra Élisabeth Borne apelava à imaginação para se construir, a partir desta segunda-feira, uma "maioria de ação". Em desabafos sob anonimato, dirigentes dos partidos no governo não poupam nas palavras sobre o resultado das urnas: "Dantesco", "um inferno", e anteveem uma "paralisia total", pelo que há quem faça contas para novas eleições legislativas dentro de um ano, conta o Le Monde.

Le Pen promete respeito

Com o nível de abstenção a atingir 54%, dentro da margem esperada, o inesperado, tendo em conta as projeções realizadas na ponta final da campanha, foi a amplitude da queda do macronismo, no que foi acompanhado pela descida do bloco de partidos de centro-direita.

Em sentido contrário, a extrema-direita obteve um resultado histórico, 17,2% dos votos e 89 deputados: a União Nacional multiplicou por 11 o número de representantes e vai constituir um grupo parlamentar. Mais: vai passar a receber uma dotação anual. Uma exultante Marine Le Pen prometeu uma oposição "firme" mas "respeitosa das instituições".

Mélenchon vê "fracasso moral"

A candidata presidencial derrotada na segunda volta por Macron lucrou com uma campanha em que os holofotes estiveram voltados para o chefe de Estado e para Jean-Luc Mélenchon. O líder da aliança de esquerda Nova União Política Ecológica e Social (Nupes) falhou o objetivo a que se propôs, vencer o escrutínio e ser nomeado primeiro-ministro, mas preferiu destacar a "derrota total do partido presidencial" e o "fracasso moral das pessoas que dão lições a todos os outros".

Ainda assim, ao alcançar 31,7% e eleger 131 representantes (12 comunistas, 25 ecologistas, 25 socialistas e 69 do partido de Mélenchon, França Insubmissa) mais do que duplica a presença das esquerdas na Assembleia Nacional.

Sem acordo à direita

Perante as sondagens e projeções das últimas semanas, os analistas viam n'Os Republicanos uma tábua de salvação para os macronistas. No entanto, Christian Jacob, o líder de Os Republicanos, mostrou-se irredutível para formar um acordo pós-eleitoral com as formações no poder. "Fizemos campanha na oposição, vamos continuar na oposição."

O partido de centro-direita herdeiro do gaullismo, aliado ao UDI, conheceu novo tombo, ao passar de 136 deputados para 64, com 7,2% dos votos.

A primeira-ministra Élisabeth Borne reconheceu que a V República vive "uma situação sem precedentes" perante estes resultados. "Esta configuração constitui um risco para o nosso país. Temos de respeitar esta votação e tirar as consequências. Como força central desta nova assembleia, devemos assumir uma responsabilidade particular", afirmou, prometendo construir uma "maioria de ação".

Caso se mantenha chefe do executivo, Borne irá ter novos colegas em pelo menos três pastas. As ministras que falharam a eleição perdem também o lugar no governo. São elas Amélie de Montchalin, até agora ministra da Transição Ecológica, Brigitte Bourguignon, ministra da Saúde, e Justine Bénin, secretária de Estado do Mar.

Além do mais, o até agora presidente da Assembleia Nacional Richard Ferrand, o ex-ministro do Interior Christophe Castaner ou a antiga ministra do Desporto Roxana Maracineanu foram outros nomes de peso que não foram eleitos.

Fora da aliança governamental, Jean-Christophe Lagarde, líder do partido de centro-direita UDI, deputado desde 2002, perdeu para a candidata da Nupes Raquel Garrido.

cesar.avo@dn.pt

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