Musk vira-se para o Reino Unido depois da "interferência" na Alemanha
A líder da oposição, Kemi Badenoch, resolveu apanhar o comboio de Musk e pedir também uma investigação ao caso. "Já era tempo de realizar um inquérito nacional completo sobre o escândalo dos gangues de violação. Os julgamentos têm ocorrido em todo o país nos últimos anos, mas ninguém em posição de autoridade juntou os pontos. 2025 deverá ser o ano em que as vítimas começarão a obter justiça", escreveu no X, criticando noutra mensagem os trabalhistas que a acusam de "brincar à política". O milionário dono do X tem um novo alvo. Depois de ser acusado de interferência nas eleições alemãs, Elon Musk virou-se para o Reino Unido e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, defendendo eleições antecipadas e dizendo que só o Reform UK, de Nigel Farage, "pode salvar" o país.
Musk, um dos principais aliados do presidente-eleito Donald Trump nos EUA, publicou uma série de mensagens na sua rede social a acusar Starmer de ter falhado quando era procurador na luta contra gangues que aliciavam e violavam sistematicamente jovens raparigas em localidades como Rochdale, Rotherham ou Telford.
A maioria dos alegados perpetradores, incluindo alguns que foram condenados em 2010 ou 2012, eram de origem paquistanesa. Há quem, à direita, acredite que estes casos foram ocultados precisamente por causa disso.
"Starmer foi cúmplice na violação do Reino Unido quando chefiou a procuradoria durante seis anos. Starmer deve sair e enfrentar acusações pela cumplicidade no pior crime em massa da história da era líder da procuradoria do Reino Unido", escreveu Musk, defendendo um inquérito nacional ao caso e partilhando várias mensagens de membros da extrema-direita britânica e não só que defendem o mesmo.
Musk, dono também da Tesla e da SpaceX, defendeu ainda que "só quem tem medo da verdade se opõe a ela", em relação às notícias de que o Labour teria bloqueado a realização de uma investigação ao caso.
Mais cedo, tinha feito a apologia à realização de eleições. "As pessoas do Reino Unido não querem este governo de todo. Novas eleições", escreveu. Starmer, que foi eleito em julho com uma das maiores maiorias trabalhistas, depois de 14 anos de governos conservadores.
"O Reino Unido precisa de Reforma agora!", escreveu Musk noutra mensagem, apoiando o partido de Farage. "Só o Reform pode salvar o Reino Unido", tinha dito no primeiro dia do ano, uma mensagem rapidamente partilhada pelo próprio Farage.
O líder do Reform UK, partido que foi o terceiro mais votado em julho (4,1 milhões de votos) mas ao abrigo do sistema britânico só elegeu cinco deputados, esteve com Musk em meados de dezembro em Mar-a-Lago – suspeitando-se que possa vir a financiar este partido.
Musk também defendeu na sua rede social a libertação do ativista de extrema-direita Tommy Robinson, um dos que tem falado dos gangues. O polémico fundador da Liga de Defesa Inglesa, cujos comícios anti-imigração atraem milhares de pessoas, foi condenado a 18 meses de prisão em outubro, após ter violado uma ordem judicial – relacionada com falsas acusações feitas sobre um aluno sírio feitas no seu documentário.
"Porque é que o Tommy Robinson está preso na solitária por dizer a verdade? Ele devia ser libertado e os que encobriram esta farsa deveriam ocupar o seu lugar naquela cela", escreveu.
Não é a primeira vez que Musk está em choque com o governo de Starmer, acusando-o de "libertar pedófilos" para prender pessoas por causa de mensagens publicadas nas redes sociais. Houve detenções feitas durante os motins de extrema-direita após a morte de três crianças numa aula de dança em Southport.
Reações
A líder da oposição, Kemi Badenoch, resolveu apanhar o comboio de Musk e pedir também uma investigação ao caso. "Já era tempo de realizar um inquérito nacional completo sobre o escândalo dos gangues de violação. Os julgamentos têm ocorrido em todo o país nos últimos anos, mas ninguém em posição de autoridade juntou os pontos. 2025 deverá ser o ano em que as vítimas começarão a obter justiça", escreveu no X, criticando noutra mensagem os trabalhistas que a acusam de "brincar à política".
Da parte do governo britânico, o ministro da Saúde, Wes Streeting, veio publicamente dizer que muitas posições de Musk sobre os gangues são "mal informadas". Explicou ainda que o governo "leva a questão da exploração sexual infantil incrivelmente a sério", convidando o milionário a "arregaçar as mangas e a trabalhar" com o executivo contra os gangues de violadores.
Lembrou também um inquérito independente sobre abusos sexuais de crianças concluído em 2022, dizendo que o governo está "a trabalhar" para implementar as recomendações.
O primeiro-ministro britânico ainda não reagiu.
Interferência na Alemanha
A atenção de Musk ao Reino Unido surge depois de ter sido acusado de "interferência" nas eleições alemãs, depois de ter escrito no X que a extrema-direita da AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) é a "única esperança" para o país, mensagem que desenvolveu num artigo de opinião no Welt am Sonntag no último fim de semana.
Também prognosticou uma "vitória épica" do partido nas eleições antecipadas de 23 de fevereiro. A AfD conquistou 83 deputados nas eleições de 2021, quando foi o quinto partido mais votado, mas surge em algumas sondagens para as próximas eleições em segundo lugar. O mesmo lugar conquistado nas eleições europeias de 2024.
A colíder e candidata da AfD a chanceler, Alice Weidel, agradeceu o apoio. "A Alternativa para a Alemanha é de facto a única alternativa para o nosso país. A nossa última opção", indicou, enviando também cumprimentos para Trump e o povo norte-americano.
Weidel espera continuar a beneficiar do apoio de Musk. Os dois vão participar numa conversa em direto no X no próximo dia 9 de janeiro.
Depois, veio o artigo no Welt am Sonntag, que levou à demissão de uma editora das páginas de opinião, em protesto.
"A representação da AfD como de extrema-direita é claramente falsa, tendo em conta que Alice Weidel, a líder do partido, tem uma parceira do mesmo sexo do Sri Lanka! Isto soa-lhe a Hitler? Por favor!", escreveu Musk no artigo.
Alegou ainda que anos de políticas erradas por parte dos principais partidos políticos levaram à "estagnação económica, à agitação social e à erosão da identidade nacional", sendo que a AfD representa a "última centelha de esperança" para a Alemanha. E justificou o seu envolvimento político com os seus “investimentos significativos” no país (uma fábrica da Tesla que emprega quase 12 mil pessoas, por exemplo).
Ainda antes deste artigo, já o governo alemão tinha criticado a tentativa de "interferência" de Musk nas eleições. Um porta-voz disse contudo que Musk é livre de expressar as suas opiniões. “A liberdade de opinião também cobre as maiores parvoíces.”
O chanceler alemão, Olaf Scholz, respondeu na mensagem de Ano Novo. "Vocês, os cidadãos, decidem o que acontece na Alemanha. Não os donos das redes sociais", indicou, sem falar diretamente do nome de Musk.
Já o candidato da CDU e favorito à vitória, Friedrich Merz, descreveu o apoio de Musk à AfD como "intrusivo e pretensioso", alegando que não se lembra "na história das democracia ocidentais um caso comparável de interferência na campanha eleitoral de um país amigo".
Outros casos
Musk também já expressou outros apoios políticos, além de ter feito campanha por Donald Trump. No Canadá, por exemplo, numa altura em que o primeiro-ministro liberal, Justin Trudeau, está ameaçado de uma moção de censura, já declarou o apoio no líder conservador, Pierre Poilievre.
"Grande entrevista", escreveu numa mensagem em que este é apontado como "o próximo primeiro-ministro do Canadá".
Ainda na Europa, tem repetido o seu apoio à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, pela sua política anti-imigração. E veio negar qualquer relação amorosa com ela depois de uma foto de ambos num evento em Nova Iorque se ter tornado viral (já há até vídeos feitos por inteligência artificial dos dois a beijarem-se).
Meloni tem-se reunido frequentemente com o milionário desde que chegou ao poder, procurando que ele invista em Itália. O seu governo aprovou no último verão um programa para as empresas espaciais estrangeiras operarem em Itália, que deverá gerar 7,3 mil milhões de euros (7,7 mil milhões de dólares) em investimentos até 2026, com Meloni a ter que se defender no Parlamento.
“Posso ser amiga de Elon Musk e, ao mesmo tempo, chefe do primeiro governo italiano que criou uma nova lei para regular a atividade privada no espaço”, disse, respondendo a perguntas dos deputados há duas semanas.