"Ele foi uma pessoa única que inspirou católicos e não católicos. Sou muçulmana e o papa Francisco foi a minha inspiração. Ele é um modelo de como os líderes religiosos devem ser. Infelizmente, hoje em dia tais líderes não existem”. A confissão foi partilhada ao The Guardian por Enesa, advogada bósnia de 53 anos, e uma das milhares de pessoas que esteve esta quarta-feira no Vaticano, dia em que se realizou a cerimónia de trasladação do corpo do papa da capela da Casa de Santa Marta, onde vivia, para a Basílica de São Pedro.De Donald Trump a Volodymyr Zelensky ou Lula da Silva, são esperados vários chefes de Estado e de governo para o funeral de Francisco, que acontece no sábado na Praça de São Pedro, mas estes três dias de velório são em grande parte para que os católicos comuns possam lamentar a partida de Francisco, que morreu na segunda-feira, aos 88 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral.Segundo a agência Efe, uma zona de exclusão aérea está planeada sobre o Vaticano, estendendo-se a Roma, e a área em redor da Praça de São Pedro será isolada até sábado com detetores de metais, drones e medidas militares de vigilância aérea. Caças militares também estarão de prontidão em caso de emergência, e serão ativados dispositivos para detetar drones hostis.A polícia reforçou também a segurança para o velório e funeral - são esperadas pelo menos 250 mil pessoas no sábado - realizando patrulhas a pé e a cavalo em redor do Vaticano, onde pessoas de todo o mundo não param de chegar, desde turistas que já estavam em Roma a católicos (e não só) que viajaram de propósito para um último adeus a Francisco.Como Luís e Macarena, um casal que viajou até Roma em lua de mel na esperança de receber do papa a sua tradicional bênção aos recém-casados, tendo apenas sabido da morte de Francisco à chegada. “São dias muito importantes só para estar aqui e rezar, e sentir que a oração de todos é ainda mais importante”, contou Luís à BBC, acrescentando que “o Papa Francisco é um santo e abençoar-nos-á do céu”.“Deu-me arrepios”, disse Ivenes Bianco à AP ao sair da Basílica de São Pedro. Esta italiana de Brindisi estava em Roma por motivos de saúde e aproveitou para dar um último adeus ao papa. “Ele foi importante para mim porque encorajou a coexistência. Uniu muitas pessoas.”O público poderá despedir-se de Francisco na Basílica de São Pedro até às 18h00 (hora de Lisboa) de sexta-feira. Uma hora depois realiza-se o rito de fecho do caixão, liderado pelo Kevin Farrell, o cardeal que ocupa a posição de camerlengo, aquele que lidera o Vaticano até que seja eleito um novo papa. Já a cerimónia do funeral, no sábado, será encabeçada pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, que depois convocará o conclave onde será escolhido o sucessor de Francisco, e que não deve começar antes de 5 de maio.Em declarações à AP, o cardeal sul-coreano Lazarus You Heung-sik, que lidera o gabinete do Vaticano para os sacerdotes, disse prever um conclave curto, mas reconheceu que a transição está repleta de incertezas. “Veremos o que o Espírito Santo diz”, disse. Na história mais recente do Vaticano o conclave mais curto foi o que elegeu Bento XVI em 2005, tendo sido necessários apenas dois dias. Questionado ainda sobre se o próximo papa poderá vir da Ásia, onde a Igreja Católica está a crescer, Lazarus You Heung-sik afirmou que “para o Senhor, não há Oriente nem Ocidente”.