O extremar de posições escalou com Donald Trump na liderança da maior economia mundial: ao longo de quatro anos no poder, o presidente norte-americano levantou suspeitas sobre a segurança de equipamentos desenvolvidos por empresas como a Huawei ou a ZTE, nomeadamente na infraestrutura 5G, alegando a ligação das empresas ao governo chinês. A administração Trump elaborou uma lista negra de empresas e instituições chinesas para as quais está proibida a exportação de tecnologia norte-americana e ainda ameaçou excluir várias aplicações de solo norte-americano, como TikTok e WeChat ..A infraestrutura de 5G tem sido um dos pontos no centro da discórdia entre as duas maiores economias globais. As telecomunicações são consideradas como infraestruturas críticas e, com o 5G a possibilitar velocidades de ligação significativamente mais rápidas do que a atual ligação 4G, a discussão sobre a segurança das redes subiu de tom ao longo do mandato de Trump..O 5G não permitirá apenas ter velocidades mais rápidas de internet móvel - promete também mudar as regras do jogo para aplicações empresariais, em áreas como as smart cities ou na conectividade de dispositivos, nomeadamente nos carros autónomos, uma das ambições que motivam alianças e investimentos na indústria automóvel..Enquanto blocos como a União Europeia aguardam pela administração de Joe Biden para perceber se haverá alguma mudança na guerra comercial instalada entre EUA e China, a poucos dias de assumir a presidência, Biden assiste a um novo extremar de posições entre a Casa Branca e Pequim. Desta vez, está em causa uma nova ordem executiva assinada pela administração Trump, que visa várias aplicações de origem chinesa, inclusive a gigante de pagamentos Alipay, desenvolvida pelo grupo Ant de Jack Ma..Tal como aconteceu no verão passado, com as ordens executivas que visaram o TikTok e o WeChat, também desta vez as aplicações chinesas são descritas como uma ameaça à segurança do país, já que têm acesso a uma grande quantidade de dados, diz o Departamento de Comércio. "Ao aceder a informações dos dispositivos pessoais, como smartphones, tablets e computadores, as aplicações de software chinês podem aceder a vasta informação, incluindo informação sensível que permite a identificação dos utilizadores e informação privada", aponta a ordem executiva. Além disso, a recolha de dados "permitiria à China obter a localização de trabalhadores federais e subcontratados, possibilitando a criação de dossiês com informação pessoal.".A Casa Branca refere que os EUA precisam de "ações mais agressivas" contra quem desenvolve aplicações para software chinês. Sem surpresas, a China já contestou esta nova ordem executiva, indicando que os EUA "abusam do poder" e estão a impedir a concorrência ..Biden ainda não se pronunciou, mas a sua administração pode revogar esta ordem, que tem um prazo de 45 dias para entrar em vigor..Desde que Biden foi designado Presidente eleito que a União Europeia tem demonstrado a vontade de reavivar a morna aliança transatlântica. Em dezembro, a propósito da Web Summit, a comissária europeia Margrethe Vestager, conhecida por ter as tecnológicas norte-americanas na mira, já mencionava que Bruxelas tinha contactado a equipa de transição para "perceber como colaborar", esperando que uma boa relação transatlântica possa "ser o ponto de partida para uma aliança global".."Haverá desacordos obviamente, mas temos a ideia de que agora haverá colaboração", salientou..Ainda em dezembro, era conhecido o documento "UE-EUA - Uma nova agenda transatlântica para a mudança global". Entre a proposta de temas ligados ao combate à pandemia, comércio ou os trabalhos na área da geopolítica, a tecnologia e a governação digital também estão inscritas na agenda, sublinhando a UE e os EUA como "parceiros naturais".."Ademais, a UE propõe criar um diálogo específico com os EUA sobre a responsabilidade das plataformas e das grandes empresas tecnológicas, trabalhar em conjunto em matéria de equidade fiscal e distorções do mercado, bem como desenvolver uma abordagem comum para proteger as tecnologias críticas. A inteligência artificial, os fluxos de dados e a cooperação em matéria de regulamentação e normas também fazem parte das propostas da UE"..Mas, por outro lado, o recentemente apresentado Ato legislativo para o Digital, elaborado pelo Comissão Europeia, também coloca a mira nas tecnológicas - especialmente a Apple, Facebook, Amazon e Google, todas elas de origem norte-americana. Com multas avultadas à mistura e até a possível separação de operações, resta saber o que poderão trazer estas novas regras às relações entre EUA e União Europeia..Cátia Rocha é jornalista do Dinheiro Vivo