Moscovo e Kiev concordam no desacordo
Neste momento as negociações não são possíveis, dizem à vez um e outro governo, acusando-se mutuamente. Destino dos soldados ucranianos que se renderam em Azovstal por definir.
A Rússia respondeu à Ucrânia, tendo acusado o governo de Kiev de "ausência total de vontade" para negociar o fim do conflito. Na véspera, a presidência ucraniana afirmou que o diálogo foi interrompido por culpa de Moscovo. "O processo de negociação está em pausa. A Rússia não compreende que a guerra não acontece mais de acordo com suas regras, o seu calendário ou os seus planos", disse então Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky.
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"As negociações não avançam e verificamos uma ausência total de vontade por parte dos negociadores ucranianos para continuar o processo", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Delegações dos dois lados reuniram-se em várias ocasiões, sem alcançar resultados concretos. O último encontro entre os chefes das equipas de negociação aconteceu em 22 de abril.
As forças ucranianas, reforçadas com meios de artilharia pesada, e após terem repelido as tentativas de tomada de Kiev e de Kharkiv, acreditam na vitória militar, pelo que o governo não estará interessado em fazer cedências territoriais. Por sua vez, Moscovo falhou os seus objetivos iniciais. Apesar de ter tomado Kherson e agora Mariupol - após a sua aniquilação - ainda não terá alcançado os objetivos mínimos, que passam pela captura de todo o Donbass.
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Negociações de outra índole decorrem em relação ao destino dos soldados ucranianos que se renderam na siderurgia Azovstal, após semanas de cerco. Apesar de Moscovo ter garantido que os soldados feridos terão tratamento médico, o destino dos 959 soldados é uma incógnita. Kiev quer trocá-los por prisioneiros de guerra russos, mas essa perspetiva está longe de ser uma certeza. O Comité de Investigação da Rússia disse que os soldados detidos seriam interrogados para "verificar o seu envolvimento em crimes cometidos contra civis". E o gabinete do procurador-geral pediu ao Supremo Tribunal russo para declarar a unidade militar a que pertence a maioria dos combatentes capturados, o Batalhão Azov, uma organização terrorista, o que poderá impedir a sua troca.
Além disso, estes soldados personificam a propaganda do Kremlin, que acusa a Ucrânia de estar tomada por forças nazis, a começar pelo Exército. A sua rendição é um troféu que compensa o curso da "operação militar especial" e os comentadores russos não perderam tempo a festejar o sucedido. "Uma grave derrota política" para o governo ucraniano que tinha "transformado Azovstal num símbolo da sua luta, num mito", disse o analista Aleksandr Kazakov. "Agora este mito foi destruído. O símbolo do confronto transformou-se num símbolo de derrota", concluiu.
Negociações são o que Ancara também quer em resultado da oficialização das candidaturas da Finlândia e da Suécia para a NATO. Para já quebrou o consenso necessário para o início das conversações de adesão. E numa reunião entre os chefes da diplomacia da Turca e dos Estados Unidos, foram dados sinais contraditórios, e repetidas as exigências sobre o acolhimento de "terroristas" nos países nórdicos. Ainda assim, Washington acredita num levantamento do veto turco e numa processo de adesão rápido de Helsínquia e Estocolmo.
Soldado russo declara-se culpado
Um soldado russo declarou-se culpado no primeiro julgamento por crimes de guerra desde o início da invasão em 24 de fevereiro. O sargento Vadim Shishimarin, de 21 anos, admitiu ter matado um civil desarmado de 62 anos, em Sumy, quando fugia num carro roubado. O porta-voz do Kremlin disse não ter informações sobre Shishimarin e que todas as acusações de crimes de guerra na Ucrânia são "falsas", ou meras "montagens".
Para a procuradora-geral ucraniana, Irina Venediktova, o julgamento é um "sinal claro de que todos os agressores, todas as pessoas que ordenam, ou ajudam a cometer crimes de guerra na Ucrânia, não poderão fugir da responsabilidade".
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