Moscovo denuncia "histeria" enquanto aliados reforçam posições

Para o Kremlin, concentração de tropas ucranianas junto ao leste é sinal de que Kiev prepara ataque aos separatistas. EUA põe tropas em alerta, França aposta na diplomacia a quatro.
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O Kremlin acusou os Estados Unidos e a Aliança Atlântica de aumentarem as tensões através de "histeria de informação" e "ações concretas" depois de o bloco militar ter informado que estava a reforçar as defesas na Europa de leste em paralelo à crise da Ucrânia. Para o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, o risco de guerra é "muito elevado", não devido à propalada invasão russa, mas por uma ofensiva das tropas ucranianas contra os separatistas apoiados por Moscovo. Também o chefe da diplomacia da União Europeia usou termos de saúde mental para falar sobre a situação na Ucrânia. Depois de ter estado a dialogar com o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, Josep Borrell realçou a importância de "manter a calma" para se evitar um "colapso nervoso".

O líder russo Vladimir Putin está a tomar "medidas necessárias" para proteger o país, garantiu o seu porta-voz durante uma conferência de imprensa. "Vivemos num ambiente agressivo", reconheceu Peskov, embora a perspetiva não coincida com a do Ocidente. É precisamente por Moscovo manter mais de cem mil soldados junto da fronteira com a Ucrânia, e de informações de serviços secretos ocidentais darem como provável que a Rússia invada o país ao qual já tomou a Crimeia que a NATO disse ter colocado forças em alerta e enviado navios e aviões de caça para reforçar as defesas orientais da Europa.

Peskov disse que a Ucrânia estava a preparar uma ofensiva no leste do país, onde os combates entre ambos os lados da barricada já tomaram 13 mil vidas desde 2014. "As autoridades ucranianas estão a concentrar uma enorme quantidade de forças e meios na fronteira com as autoproclamadas repúblicas", afirmou, referindo-se a Donetsk e Lugansk.

"A natureza desta concentração revela os preparativos para uma ofensiva", disse, acrescentando que o risco de uma tal operação agora "é muito elevado, mais elevado do que antes", uma acusação que, pela mesma lógica, se pode atribuir a Moscovo devido às tropas russas junto da fronteira. Em Londres, o primeiro-ministro Boris Johnson ajudou a pintar um cenário de tons garridos. "Invadir a Ucrânia, de uma perspetiva russa, vai ser um assunto doloroso, violento e sangrento. Penso que é muito importante que as pessoas na Rússia compreendam que isto pode ser uma nova Chechénia", advertiu.

De Kiev, uma mensagem de calma. "A Ucrânia não cairá em provocações e, juntamente com os seus parceiros, permanecerá calma e contida", declarou o gabinete do presidente Volodymyr Zelensky. O chefe de Estado esteve ao telefone com o presidente do Conselho Europeu Charles Michel e agradeceu aos líderes europeus por manterem os seus diplomatas na capital ucraniana. Nas últimas horas, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália deram ordens para as famílias dos diplomatas regressarem às respetivas capitais em face do perigo de invasão. O governo ucraniano não escondeu o desagrado com a situação, tendo classificado a medida de "prematura" e de "excesso de precaução".

Josep Borrell disse a este propósito que os europeus não vão seguir o mesmo caminho porque não conhecem uma "razão específica" para o fazer. "Penso que não precisamos de dramatizar enquanto as negociações estão a decorrer, e estas estão a decorrer", lembrou o diplomata catalão.

Na conversa com Michel, Zelensky afirmou ainda ser "importante preservar a unidade de todos os estados membros da UE na defesa da soberania e integridade territorial" da Ucrânia. A Alemanha tem sido criticada por rejeitar a hipótese de enviar armamento para Kiev, ao contrário do que Estados Unidos, Reino Unido e países bálticos têm estado a fazer. Ou como a França, Espanha e Dinamarca, que sinalizaram abertura para reforço da Aliança Atlântica junto do Mar Negro.

A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros Annalena Baerbock insistiu que qualquer nova agressão por parte de Moscovo obteria uma "resposta clara" da Europa e destacou o apoio económico de Berlim a Kiev. A sua compatriota Ursula von der Leyen anunciou que a Comissão Europeia prepara um pacote de ajuda financeira de emergência de 1,2 mil milhões de euros para a Ucrânia, devido às necessidades de financiamento originadas pelo conflito.

Até agora, várias rondas de conversações entre a Rússia e o Ocidente não conseguiram aliviar as tensões. Enquanto Moscovo aguarda uma resposta escrita de Washington sobre as suas exigências (impedir a entrada de novos países na NATO e retirar as forças na Europa de leste), os Estados Unidos concluíram que a Rússia não pretende para já desescalar as tensões, pelo que o Pentágono decidiu colocar 8500 soldados em alerta máximo para a qualquer momento poderem ser enviados para os países Bálticos ou para o flanco oriental da NATO. Este anúncio vem na sequência de notícias que davam como certo o reforço de meios militares naqueles países por parte dos norte-americanos.

No campo diplomático, na segunda-feira à noite Joe Biden reuniu-se virtualmente com os líderes da UE, da NATO, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Polónia para "coordenação com os aliados transatlânticos". Já Paris anunciou que na quarta-feira diplomatas russos e ucranianos vão reunir-se na capital francesa. Será o regresso do chamado formato Normandia, que envolve à mesa alemães e franceses. "O presidente pensa que existe lugar para a diplomacia, um caminho para a desescalada", disse o assessor de Emmanuel Macron, ao confirmar que o presidente francês irá falar com Putin "nos próximos dias".

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