As forças russas têm atacado com regularidade a região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, tendo por exemplo destruído uma importante central térmica em março. A segunda maior cidade ucraniana foi agora visada pelos russos através de uma incursão terrestre, à qual as tropas de Kiev responderam com uma “batalha feroz”, nas palavras do presidente Zelensky. Ainda assim, e segundo informações das forças ucranianas, os russos avançaram um quilómetro em mais um desafio para um país que sofre as consequências de meses de inação dos aliados, em particular dos Estados Unidos. .Depois de um míssil ter atingido uma área residencial de Kharkiv durante a noite, no que resultou em ferimentos numa criança de 11 anos e numa mulher de 72, as tropas russas lançaram um ataque terrestre à região às 5 horas locais. As tropas russas terão cruzado a fronteira e chegado a quatro povoações. Um funcionário local relatou “bombardeamentos maciços” em Vovchansk, uma vila com cerca de 3 mil habitantes (17 mil antes da guerra) a cerca de cinco quilómetros da fronteira russa, e que estavam a ser feitas operações de evacuação da localidade e em zonas próximas. Pelo menos dois civis foram mortos em resultado dos bombardeamentos russos na região. Enquanto o governador da região, Oleg Sinegubov, recusava a ideia de o seu país ter cedido “nem um só metro”, mas uma fonte no Ministério da Defesa reconheceu o avanço russo de um quilómetro..Segundo bloguistas militares russos, o ataque pode marcar o início de uma tentativa de criar uma “zona tampão” que Vladimir Putin prometeu criar no início do ano para travar os ataques ucranianos a Belgorod e a outras regiões fronteiriças russas, uma fonte de embaraço para o Kremlin. Outros analistas consideram impossível que o ataque seja bem-sucedido a ponto de os russos tomarem Kharkiv, no entanto esta nova frente obriga Kiev a redistribuir os seus recursos já de si limitados numa extensão mais alargada, deixando as tropas mais vulneráveis a novos ataques..O ataque foi realizado sem aviso, mas as forças ucranianas já esperavam por este desenvolvimento desde o princípio do mês, alertadas pela concentração de tropas inimias. O mesmo foi dito por Volodymyr Zelensky, o qual comentou ainda que as suas forças já tinham preparado uma resposta. “Agora há uma batalha feroz nesta direção”, disse..Do outro lado do Atlântico, a administração Biden não vê grande significado na iniciativa do invasor. “É possível que a Rússia faça mais avanços nas próximas semanas, mas não prevemos grandes avanços e, com o tempo, o fluxo de assistência dos EUA permitirá que a Ucrânia resista a esses ataques ao longo de 2024”, augurou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby..Em entrevista à The Economist, o comandante das forças terrestres ucranianas Oleksandr Pavliuk também já previra um ataque na região de Kharkiv ou de Sumy, no norte. “A Rússia está a testar a estabilidade das nossas linhas antes de escolher a direção mais conveniente”, disse o tenente-general, que vê nos próximos dois meses um momento crucial para a guerra. “A Rússia sabe que se recebermos armas suficientes dentro de um mês ou dois, a situação pode virar-se contra eles.” Pavliuk repetiu o que todos as altas figuras ucranianas têm pedido: mais sistemas de defesa aérea e a entrega o quanto antes dos caças F-16, os quais darão um “impulso psicológico”..Sobre a assistência militar, os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira a terceira fatia desde que o pacote de ajuda foi aprovado pelo Congresso no final de abril. Avaliado em 400 milhões de dólares, o pacote contém sistemas de artilharia móvel HIMARS e respetivos foguetes - a Alemanha anunciou na véspera a aquisição de três sistemas -, munições para os sistemas de defesa aérea Patriot e NASAMS, veículos blindados, mísseis ar-terra HARM, entre outras munições e equipamento. Mais a norte, do Canadá chegou o anúncio de uma ajuda de mais de 55 milhões de dólares para a Alemanha adquirir sistemas de defesa aérea para a Ucrânia. Berlim lidera uma iniciativa para fornecer Kiev com urgência equipamentos para proteger os céus ucranianos. .Ministro acusado de corrupção.Um dia depois de os deputados terem votado pela sua exoneração, o até agora ministro da Agricultura Mykola Solsky demitiu-se formalmente em resultado de ter sido acusado de corrupção. Solsky foi acusado pelo Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) de liderar um grupo que expropriou terrenos estatais na região nordeste de Sumy entre 2017 e 2021. Solsky disse estar “solidário” com as preocupações do NABU, mas rejeitou as acusações no seu discurso de demissão ao parlamento. “Nem eu, nem os meus familiares, nem ninguém, tanto quanto sei, entre os suspeitos do caso, recebeu um único hectare desta terra”, afirmou..Kiev comprometeu-se a reforçar os a luta contra a corrupção como parte da sua candidatura à adesão à UE. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky equiparou a corrupção em tempo de guerra a “traição”, tendo em setembro de 2023 demitido o ministro da Defesa Oleksi Reznikov após vários escândalos de corrupção no ministério..cesar.avo@dn.pt