Venâncio Mondlane anunciou ontem aceitar a reunião pedida na terça-feira pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, com os quatro candidatos presidenciais às eleições de outubro, para resolver o conflito pós-eleitoral que afeta o país há um mês, mas apresentou uma condição. “Eu, Venâncio Mondlane, candidato vencedor das eleições presidenciais de 2024, aceito sem reservas esse diálogo, aceito essa mesa de diálogo (...). Mas esse diálogo, como qualquer diálogo, como qualquer negociação, como qualquer tipo de encontro institucional, deve ter uma agenda”, anunciou numa transmissão através da sua conta oficial na rede social Facebook..Para “não ir ao encontro no vazio, sem nenhuma agenda”, Mondlane avançou que vai submeter nas primeiras horas de hoje, no gabinete da Presidência da República, um ofício com uma proposta “sustentada” pelos contributos dos moçambicanos sobre os passos a seguir no processo de contestação aos resultados anunciados das eleições gerais de 9 de outubro, resumidos em cerca de 20 pontos que irá apresentar publicamente e que “representam os anseios do povo moçambicano”..O candidato presidencial - que não aceita os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional, apontando várias irregularidades ao processo eleitoral - rejeita um diálogo “à porta fechada” e com “segredinhos”, defendendo “diálogos abertos, em que a imprensa tenha acesso, em que a sociedade civil tenha acesso, em que os mediadores internacionais tenham acesso. Vamos fazer história”. Mondlane disse ainda estar fora de Moçambique por questões de segurança, sendo atualmente visado por vários processos judiciais desencadeados pelo Ministério Público, nomeadamente conspiração para golpe de Estado, na sequência das manifestações e protestos do último mês. A plataforma eleitoral Decide estimou ontem que 27 pessoas morreram na última semana, mais de metade em Maputo, nas manifestações contra os resultados das eleições de outubro, além de 39 baleados e 198 detidos..Esta quinta-feira ficou ainda marcada pelas declarações do primeiro ministro da Saúde de Moçambique, Hélder Martins, histórico membro e fundador da Frelimo (partido que está no poder desde a independência), que apontou a “fraude eleitoral” como principal causa da contestação das últimas semanas, afirmando que a violência sobre manifestantes expôs um “desprezo abominável pela vida”..“Todos os relatórios independentes de observadores nacionais e internacionais comprovam que nas eleições autárquicas do ano passado e, sobretudo, nas recentes eleições (...) houve irregularidades gravíssimas para beneficiar o partido Frelimo”, lê-se na carta de Hélder Martins, dirigida do líder do partido, Filipe Nyusi, e ao seu secretário-geral e candidato presidencial declarado vencedor, Daniel Chapo. .“Essa fraude eleitoral é a causa de toda a instabilidade sociopolítica que se seguiu e se mantém nas principais cidades do país e ela veio expor uma perceção popular, extremamente preocupante, de que a Frelimo abandonou o povo”, prossegue Hélder Martins, para quem a repressão policial “contra manifestações legítimas”, em referência aos protestos convocados por Mondlane, é um “atentado” à Constituição da República..com Lusa