Mapa político espanhol em reconfiguração
Ciudadanos e PSOE aliam-se ao nível regional e local para chegarem ao poder. A face da oposição a Pedro Sánchez, Isabel Díaz Ayuso, responde com eleições em Madrid.
Duas mulheres protagonizam a mais recente convulsão política em Espanha: a líder do Ciudadanos, Inés Arrimadas, e a presidente da região de Madrid, Isabel Díaz Ayuso. A primeira deu o aval a uma nova estratégia que passa por derrubar eleitos locais considerados corruptos pelo partido centrista e liberal; a segunda respondeu com o fim da coligação entre o seu Partido Popular (PP) e o Ciudadanos e convocou eleições. Porém, não é ainda certo que estas se realizem.
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A manobra de Ayuso visava antecipar e impedir uma moção de censura como a anunciada horas antes para a região de Múrcia por parte dos socialistas (PSOE) e do Ciudadanos. Se houver uma maioria, o primeiro proponente da moção de censura toma o lugar do dirigente censurado. Ao anunciar a dissolução da assembleia e a convocação de eleições antecipadas, Ayuso não ficou à espera de ser desalojada e respondeu ao fogo com fogo.
Em Múrcia, o Ciudadanos rasgou a coligação com o PP, tendo alegado corrupção, um escândalo de vacinação e um acordo dos conservadores com o Vox no veto parental.
"A instabilidade institucional causada esta manhã pelo Ciudadanos, o PSOE e outros partidos de esquerda em Múrcia, e já há muito tempo noutras regiões autónomas, e mesmo em municípios da própria comunidade de Madrid, levou-nos a esta situação", justificou Ayuso. "Madrid precisa de um governo estável, ideias claras, soluções ambiciosas e sentido de estado", disse a dirigente de 42 anos cuja oposição frontal ao governo do país, em especial sobre as medidas de combate à pandemia, a têm levado a ofuscar o líder do seu partido, Pablo Casado.
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Mais tarde, numa mensagem no Twitter a piscar o olho ao possível parceiro de coligação, o Vox, repetiu uma frase sua quando anunciou a dissolução da assembleia: "Socialismo ou liberdade."
Segundo a imprensa espanhola, as relações de Ayuso com o parceiro de coligação eram tensas e não foi a primeira vez que o cenário de eleições antecipadas foi pensado. Agora, a rutura foi consumada com acusações de parte a parte. O até agora vice-presidente da região, Ignacio Aguado, resumiu a decisão da presidente demissionária como um "capricho pessoal e eleitoral" e acusou-a de mentir. No último sufrágio, em 2019, o PP manteve-se no poder na região graças ao acordo com o partido de Inés Arrimadas e com o apoio parlamentar da extrema-direita (Vox).
As eleições foram marcadas para 4 de maio, mas o caso ficou mais complicado porque PSOE e o movimento de esquerda Más Madrid apresentaram moções de censura que foram acolhidas pela mesa da assembleia.
O caso poderá vir a decidir-se em tribunal, embora segundo cinco juristas consultados pelo La Razón, o decreto de Ayuso sobrepõe-se às moções, que foram entregues depois da dissolução.
Em Múrcia, o Ciudadanos alegou corrupção, um escândalo de vacinação irregular e um acordo do PP com o Vox para dar aos pais um "veto parental" sobre conteúdos educativos e rompeu as coligações que ali tinha com o PP. Na mesma jogada uniu-se ao PSOE para anunciar moções de censura na assembleia da região e da autarquia. O acordo prevê que o partido nascido na Catalunha fique com a presidência da região e os socialistas com a edilidade, embora aqui necessitem do apoio do Podemos.

A líder do Ciudadanos, Inés Arrimadas, tenta inverter a tendência de decrescimento do partido, mas com isso abriu caminho a uma coligação PP-Vox em Madrid.
© EPA/Emilio Naranjo
Depois de Múrcia e da região de Madrid caírem, cada qual à sua maneira, o mapa político regional e local pode continuar a redesenhar-se. Pouco depois, o PSOE anunciou uma moção de censura ao presidente de Castela e Leão, embora aqui o Ciudadanos, que também faz parte do governo da região, fez saber que não apoia a jogada.
Outras hipóteses de moções de censura podem ser replicadas no município de Madrid (que tem um acordo semelhante ao da região) e no de Alicante, bem como na região da Andaluzia. Também aqui, a coligação PP-Ciudadanos está por um fio devido à questão do veto parental, apoiado pelo Vox. O partido de Santiago Abascal defende eleições antecipadas na Andaluzia e em Castela e Leão.
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