Mali corta relações com a Ucrânia
A junta militar maliana, alinhada com Moscovo, anunciou o corte de relações com a Ucrânia e acusou as autoridades ucranianas de "caráter neonazi" devido ao seu alegado apoio a um grupo secessionistas.
Em comunicado, os militares malianos citam declarações do porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos (GUR), Andriy Yusov, após a recente batalha em Tinzaouatene, uma cidade no norte do Mali, junto à fronteira com a Argélia e da qual resultou uma derrota do exército maliano e dos mercenários do grupo russo Wagner, com dezenas de mortos.
Nas declarações a uma estação de televisão local, Yusov sugeriu a colaboração dos serviços secretos ucranianos com um grupo secessionista maliano, em guerra aberta com o Governo central há meses.
Na nota, o Governo maliano condena também o facto de o embaixador ucraniano no Senegal, Yurii Pyvovarov, ter publicado a entrevista na página da embaixada no Facebook, motivo para ter sido intimado este sábado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros senegalês.
"Estas declarações extremamente graves, que não foram desmentidas nem condenadas pelas autoridades ucranianas, demonstram o apoio oficial e claro do Governo ucraniano ao terrorismo em África, no Sahel e, mais precisamente, no Mali", salientam os militares malianos no comunicado.
Segundo a nota, estes acontecimentos "violam a soberania do Mali, ultrapassam o quadro da ingerência estrangeira, já de si condenável, e constituem uma agressão contra o Mali".
As autoridades malianas declaram ainda que "subscrevem o diagnóstico estabelecido pela Federação Russa, que há anos alerta o mundo para o caráter neonazi e vil das autoridades ucranianas".
Por conseguinte, anuncia o corte "com efeito imediato" das relações diplomáticas com a Ucrânia e o envio "às autoridades judiciais" das ações do chefe dos serviços secretos ucranianos e do embaixador como constituindo, na sua opinião, "atos de terrorismo".
A batalha de Tinzaouatene, ocorrida entre 25 e 27 de julho, resultou na derrota de uma unidade de militares e de mercenários do grupo Wagner, que se confrontaram com os secessionistas tuaregues.
O grupo Wagner reconheceu a derrota e as baixas entre as suas fileiras, com os secessionistas CSP-DPA a calcular em 84 o número de mortos entre os russos do grupo. O exército do Mali admitiu ter sofrido um "grande número" de mortes durante os combates, mas não divulgou números.
A filial local da Al-Qaeda (JNIM) também reivindicou a participação na batalha, o que foi desmentido pelos tuaregues que têm como objetivo criar um país no Sahel.
Após a derrota, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, garantiu ao seu homólogo maliano, Abdoulaye Diop, que a Rússia ajudará o Mali a reforçar o seu exército. Os militares da nação da África Ocidental, que tomaram o poder num golpe de Estado em 2020, tornaram prioritária a reconquista de todo o país aos separatistas e às forças jihadistas ligadas à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico. Sob o comando do coronel Assimi Goita, a junta rompeu a aliança com a França, antiga potência colonial, e virou-se para a Rússia.
O anúncio dá-se quando o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, se encontra na sua quarta viagem por África (Malawi, Zâmbia e Maurícia) para tentar contrariar a crescente influência russa no continente.