A tomada de posse do presidente da Venezuela está marcada para esta sexta-feira. Nicolás Maduro tem tudo pronto para fazer o juramento do cargo para mais seis anos na Assembleia Nacional, numa Caracas blindada onde o reforço militar é visível. Mas Edmundo González, que no seu périplo regional atrás de apoios esteve na Casa Branca, insiste que voltará à Venezuela ”por qualquer via” para fazer valer o resultado das urnas. Esta quinta-feira será o primeiro teste, com a oposição a apelar aos protestos em todo o país e no estrangeiro.O Conselho Nacional Eleitoral proclamou a vitória de Maduro (no poder desde a morte de Hugo Chávez, em 2013) nas eleições de 28 de julho. Contudo as autoridades venezuelanas nunca chegaram a apresentar as atas oficiais das urnas de voto que confirmam esse resultado, ao contrário do que aconteceu em eleições anteriores e está previsto na lei. Muitos países, incluindo Portugal, recusaram reconhecer a vitória de Maduro sem essa informação. Ainda assim, dentro deste grupo, há quem vá enviar representantes à tomada de posse, como o México, a Colômbia ou o Brasil. Ao contrário do regime, a oposição forneceu os dados de 80% das urnas de voto para provar a vitória do antigo diplomata - um quase desconhecido que foi empurrado para a corrida após a justiça travar a candidatura da líder opositora María Corina Machado. Pressionado pelo regime e após mais de um mês escondido na embaixada dos Países Baixos, González acabaria por fugir e exilar-se em Espanha. Mas prometeu voltar para a posse.Os EUA são um dos países que reconhecem a vitória da oposição, junto com Argentina ou Uruguai. Depois de ter passado por Buenos Aires e Montevideu, e antes de seguir para o Panamá e a República Dominicana, González encontrou-se na segunda-feira na Casa Branca com o presidente Joe Biden. No X, este publicou uma foto do encontro e apelidou-o de “presidente-eleito”, considerando que deve ser ele “a prestar juramento” na sexta. “O povo da Venezuela merece uma transferência pacífica de poder para o verdadeiro vencedor.”.O antigo diplomata encontrou-se ainda com membros do Congresso e com Mike Waltz, o escolhido do presidente-eleito Donald Trump para conselheiro de Segurança Nacional. “Entre vários temas, falámos, detalhadamente, sobre o protesto cívico dos venezuelanos, neste dia 9 de janeiro. Assegurou-nos que os EUA e o mundo estarão alerta sobre o que acontece no nosso país”, escreveu González..Corina Machado na rua?O protesto foi convocado por María Corina Machado no domingo. “Este é o sinal, este é o dia”, escreveu no X, reiterando que a 9 de janeiro “todos saem à rua” num “único grito de liberdade” pela Venezuela. “Eu vou contigo”, acrescentou, estando a prever sair do esconderijo. A líder opositora, ao contrário de González, ficou na Venezuela. .O apelo aos protestos esbarra no reforço de segurança decidido pelo regime, que destacou 1200 militares para “garantir a paz” em todo o país. A presença militar sente-se em Caracas, nomeadamente perto do Palácio de Miraflores, da Assembleia Nacional (onde está prevista a tomada de posse de Maduro). Mas também nas principais vias de acesso à capital e de entrada no país. Houve pelo menos 25 mortos, além de centenas de presos, nos confrontos entre opositores e forças de segurança após as eleições. No domingo, numa mensagem nas redes sociais, González instou as Forças Armadas a “restaurar a soberania popular que se manifestou através do voto”. Dizendo que será o novo “comandante em chefe”, lembrou que os militares devem agir com “honra, mérito e consciência”. Mas, em anos de contestação ao regime, a oposição nunca conseguiu quebrar o apoio dos militares a Maduro. E, sem isso, a tarefa de voltar à Venezuela e tomar posse parece difícil - apesar de contar com o apoio de um grupo de ex-presidente de países da América Latina, como o colombiano Andrés Pastrana, que anunciaram que o vão acompanhar.“Assim que meter um dedo na Venezuela será detido”, disse o ministro do Interior, Justiça e Paz venezuelano, Diosdado Cabello, explicando que “os quartéis estão tranquilos” e que quem estiver com González será igualmente preso. “Ninguém os convidou, a sua presença aqui indica uma ação de invasão.” Nos últimos dias, mais de 125 “mercenários”estrangeiros que planeavam “atividades terroristas” contra Maduro foram presos, indicou.