Macron e Le Pen no assalto final aos eleitores indecisos

Campanha na reta final mostrou um presidente sem medo de ir a terreno que podia ser hostil e uma Marine Le Pen a tentar lucrar com a atitude "arrogante" de Macron no debate.

Nas últimas horas Emmanuel Macron recebeu o apoio de Alexei Navalny (opositor russo preso pelo regime de Putin), de António Costa, Pedro Sánchez e Olaf Scholz (chefes de governo português, espanhol e alemão), mais uma vez de Yannick Jadot (candidato dos Verdes, obteve 4,6%) e de Lula da Silva (candidato às eleições presidenciais no Brasil), mas é entre os indecisos e sobretudo no campo dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon que o presidente francês luta, tal como a adversária Marine Le Pen, para chegar em primeiro uma vez contados os votos no domingo.

Tal como no debate da véspera ficaram à vista as diferenças entre forma e conteúdo de ambos os candidatos, na quinta-feira a líder da União Nacional escolheu terreno seguro, ao deslocar-se a Arras, no departamento do norte de Pas-de-Calais, pelo qual foi eleita deputada. Já o fundador do República em Marcha deslocou-se a Saint-Denis, subúrbios de Paris, onde se registou a maior taxa de abstenção na primeira volta e onde Mélenchon foi o vencedor, com 49%. Mas a avaliar pela multidão que o acolheu o risco compensou.

8 pontos. A diferença na média das sondagens entre os dois candidatos aumentou para oito pontos percentuais, no dia 20, depois de ter chegado a seis pontos. Macron tem 56% e Le Pen 44%.

No departamento mais pobre da França continental, Macron dedicou o dia ao programa Quartier 2030, para combater os problemas dos bairros populares, a começar pela qualidade da habitação. "O que pudemos fazer para os Jogos Olímpicos [em termos de renovação urbana], porque não o podemos fazer nos nossos bairros populares?", perguntou.

Numa clara tentativa de cortejo dos eleitores à sua esquerda, o candidato presidencial disse querer passar uma "mensagem de consideração e ambição" para com os habitantes dos bairros menos favorecidos e fez um apelo à unidade social e à rejeição do comunitarismo, ao dizer que "nenhum problema se resolve ao separar a sociedade". "Todos os habitantes são uma oportunidade para a nossa República. Tem havido muita estigmatização destes habitantes ao dividir-se a nossa sociedade. A nossa discussão [com Marine Le Pen] mostrou isto", afirmou.

Macron acusou a candidata de extrema-direita de "confundir todas as questões" ao misturar "terrorismo, insegurança, imigração, islão e islamismo permanentemente", por exemplo. Em contrapartida, disse ter "um projeto de clareza". Ao lado do presidente da câmara socialista, Mathieu Hanotin, simbolizando o campo republicano contra o extremismo nacionalista de Le Pen, disse: "Não nos devemos habituar ao surgimento de ideias de extrema-direita. Existem diferenças de valores e de ordem nas categorias de ideias", cujas consequências, caso a adversária vencesse levariam, segundo Macron, a uma saída da Europa, ou à proibição do uso do véu em espaços públicos, algo que no debate disse que "levaria a uma guerra civil".

"Arrogância sem limites"

O debate de quase três horas entre os dois candidatos mostrou um Macron ao ataque, em especial nas ligações de Le Pen a Moscovo, ao dizer que a candidata é "dependente" de Putin, e na sua visão para a Europa, embora tenha ouvido a adversária ganhar pontos ao falar da onda de crime.

15,6 milhões. Segundo a empresa de medição de audiência Médiamétrie, 15,6 milhões de franceses assistiram ao debate de quarta-feira. Em 2017, os mesmos protagonistas reuniram mais interessados à volta da TV, 16, 5 milhões.

Acusado por Marine Le Pen e seus apoiantes de ter sido condescendente e desdenhoso durante o único debate entre ambos, Macron considerou ter sido "respeitoso". Para a líder da União Nacional, o último comício da campanha serviu para acertar contas: "Acima de tudo, [os eleitores] terão visto a confirmação do que pressentiram da personalidade de Emmanuel Macron", para depois dizer que tem "uma arrogância sem limites" e que um presidente "não deve comportar-se dessa forma", mas não teve pejo em lançar farpas: "Sim, aquele que nos foi apresentado como um banqueiro talentoso é na realidade um idiota."

Le Pen qualificou ainda os cinco anos da presidência do centrista de "calamitosos"e afirmou-se como uma alternativa "humanista" ao "sistema".

Enquanto Macron e Le Pen tentam motivar os eleitores de Mélenchon (quase 22% na primeira volta), o dirigente de esquerda já se vê como futuro primeiro-ministro saído das legislativas de junho, tendo apenas dito para não se votar na candidata da extrema-direita.

cesar.avo@dn.pt

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