Lula trocou 12 ministros em dois anos e meio de governo
Com a demissão, dias 2 e 5 de maio, de dois ministros, o governo Lula da Silva chega a uma dúzia de trocas em menos de dois anos e meio de gestão. Como o executivo é extenso, 38 ministros, a percentagem de mexidas não é, porém, tão alta quanto possa parecer, 31%. As últimas “vítimas” foram Carlos Lupi, da Previdência Social, por ser atingido por um caso milionário de corrupção, e Cida Gonçalves, que chegou a ser acusada de assédio moral no Ministério das Mulheres ao longo do consulado.
Lupi, que é líder do PDT, o partido de centro-esquerda fundado por Leonel Brizola e cujo vice-presidente é Ciro Gomes, candidato presidencial quatro vezes, deixou o cargo após investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União apontarem fraudes de 6,3 mil milhões de reais, perto de mil milhões de euros, cometidas por funcionários do Instituto Nacional de Segurança Social, em prejuízo de cidadãos reformados.
No ministério desde o início do governo, Lupi lembrou “não ter sido citado em nenhum momento nas investigações” mas admitiu não ter condições políticas para continuar depois de se saber que não tomara providências mesmo tendo conhecimento, há mais de um ano, de um esquema, iniciado ainda na gestão de Jair Bolsonaro, que deixou explodir no colo do atual governo. O substituto é Wolney Queiroz, número dois de Lupi no PDT.
Já Cida Gonçalves, do PT, caiu na sequência de denúncias de assédio moral no Ministério das Mulheres: relatos de funcionárias da pasta citam ameaças de demissão, exigências impossíveis de curto prazo, tratamento hostil, manifestações de preconceito e gritos. Cida chegou a ser ouvida na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados e negou as acusações.
Já demitida, desmentiu que a saída se devesse ao caso de suposto assédio. “A questão do assédio não conta, isso foi arquivado, estou tranquila, leve, feliz, é apenas uma troca de rumo”, disse a agora ex-ministra. Para o lugar dela, entra Márcia Lopes, também militante do PT, que chegou a liderar o Ministério do Combate à Fome em 2010, no fim do segundo governo de Lula, e é irmã de Gilberto Carvalho, um dos fundadores do PT.
Entre as outras 10 trocas há mais casos de corrupção, como o que envolve Juscelino Filho, o ex-ministro das Comunicações que pediu demissão em abril, após a Procuradoria-Geral da República apresentar denúncia contra ele por envolvimento num esquema de desvio de emendas parlamentares; e mais queixas de assédio, no caso de importunação sexual, e logo entre ministros, quando Anielle Franco, titular da Igualdade Racial, acusou Sílvio Almeida, ex-titular dos Direitos Humanos, de a tocar debaixo da mesa durante uma reunião, entre outros episódios que ele nega.
De resto, os motivos das trocas variam dos ataques de 8 de janeiro à sede dos Três Poderes, em Brasília, à indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF), topo de carreira do poder judicial. Gonçalves Dias, o primeiro a sair, deixou o cargo de ministro do Gabinete da Segurança Institucional após filmagens do circuito interno do Palácio do Planalto no dia dos ataques, no domingo seguinte à tomada de posse, mostrarem o ex-ministro caminhando com invasores pelo prédio. E Flávio Dino, que tinha a seu cargo o Ministério da Segurança e Justiça, foi nomeado por Lula juiz do STF - curiosamente, quem o sucedeu no governo foi o juiz do STF, Ricardo Lewandowski, que saíra da corte por atingir o limite de idade.
A insatisfação de Lula com resultados ministeriais levou a mais três trocas. O político Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação, foi substituído pelo publicitário Sidônio Palmeira para ampliar a presença do governo nas redes sociais e conter a disseminação de notícias falsas. Na Educação, Nísia Trindade, mais técnica, deu lugar a Alexandre Padilha, mais político. O mesmo Padilha, que acumulara desavenças com o Congresso Nacional no Ministério da Casa Civil, cedeu o posto a Gleisi Hoffmann, ex-presidente do PT.
As outras três serviram para o presidente da República tentar alargar a base legislativa de apoio. Depois de Daniela Carneiro pedir a desfiliação do União Brasil, partido de direita, a formação pressionou o Planalto por uma troca que mantivesse o ministério sob sua gestão, o que levou à nomeação de Celso Sabino.
Ana Moser, independente, deixou o Ministério do Desporto para a entrada de André Fufuca, um apoiante de Bolsonaro nas eleições e filiado ao PP, também de direita. E Silvio Costa Filho, do Republicanos, formação ligada à IURD, assumiu o Ministério dos Portos e Aeroportos, antes comandado por Márcio França, do PSB, de centro-esquerda, que passou para a recém-formada pasta do Empreendedorismo.