Presidente bielorrusso anunciou que é candidato ao sétimo mandato nas eleições do próximo ano.
Presidente bielorrusso anunciou que é candidato ao sétimo mandato nas eleições do próximo ano.EPA

Lukashenko 7.0? Boicotes ou sanções não travam o “último ditador da Europa”

Após as eleições parlamentares que EUA apelidaram de uma “farsa”, presidente anunciou candidatura à reeleição em 2025.
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Foi o primeiro e até agora o único presidente da Bielorrússia e há mais de 20 anos que é “o último ditador da Europa”. Um epíteto que não parece abalar Alexander Lukashenko, que no dia das eleições parlamentares - onde só partidos que o apoiam puderam participar - anunciou que vai ser candidato à reeleição no próximo ano. Nem boicotes eleitorais pedidos pela oposição no exílio, nem sanções europeias reforçadas por mais um ano travam a procura pelo sétimo mandato consecutivo desde 1994. 

“Digam-lhes [à oposição no exílio] que serei candidato. E que quanto mais difícil a situação se torna, mais ativamente eles vão entusiasmar a nossa sociedade”, disse Lukashenko a um jornalista da agência estatal, após votar no domingo. “Nenhuma pessoa, um presidente responsável não vai abandonar o seu povo que o seguiu para a batalha”, acrescentou o presidente de 69 anos. 

Em janeiro, o presidente assinou uma lei que lhe garante imunidade vitalícia caso deixe o cargo, além de segurança e seguro de saúde até ao final da vida para si e para a sua família. Mas não pretende abdicar do poder que conquistou nas primeiras eleições democráticas, em 1994, antes de ser reeleito e acabar com os limites de mandatos num referendo que já não foi considerado assim tão democrático - com a situação a deteriorar-se cada vez mais a partir de então.

A mesma lei que lhe garante imunidade apertou os requisitos para quem quiser concorrer contra ele, uma vez que estabelece que só cidadãos bielorrussos que tenham vivido no país durante pelo menos 20 anos e nunca tenham tido autorização de residência noutro país podem concorrer. Depois das presidenciais de 2020, que a oposição e a comunidade internacional apelidaram de fraudulentas e que geraram os maiores protestos vistos no país, muitos opositores fugiram à repressão e optaram pelo exílio. Entretanto, Lukashenko proibiu a renovação de passaportes no estrangeiro, pelo que ou voltam e são presos ou podem ficar apátridas.

Sviatlana Tsikhanouskaia foi uma das que deixou a Bielorrússia. Candidata às presidenciais de 2020 após o marido ter sido detido, tornou-se no principal rosto da oposição, procurando apoios na comunidade internacional para que o seu país não fique esquecido no meio da guerra da Ucrânia ou da de Gaza. Tsikhanouskaia, que se apresenta como “presidente eleita”, não reagiu ao anúncio de Lukashenko. 

Mas no X (antigo Twitter) agradeceu tanto as declarações do porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, como do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, a condenar as eleições de domingo que a oposição boicotou. Os norte-americanos apelidaram as eleições de “farsa”, reconheceram a “força, resiliência e coragem” da sociedade civil da Bielorrússia e disseram que o seu povo “merece melhor”. Já Borrell limitou-se a dizer que “é óbvio que as condições para eleições livres e justas não foram cumpridas” e que por isso todos os eleitos “carecem de legitimidade democrática”. 

A União Europeia decidiu ontem prolongar até 28 de fevereiro de 2025 as sanções impostas à Bielorrússia devido à repressão no país e ao apoio de Minsk à guerra da Rússia contra a Ucrânia. A Bielorrússia tem servido de base para os ataques russos e Lukashenko chegou a apelidar o presidente russo, Vladimir Putin, de “irmão mais velho”, dada a proximidade de ambos. Essa proximidade tem permitido à Bielorrússia escapar ao impacto das sanções, depois de um golpe inicial que levou a uma contração da economia de 5%, graças ao apoio da Rússia.

susana.f.salvador@dn.pt

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